Doria assumirá prefeitura no auge das chuvas e seguirá cartilha de Haddad

FABRÍCIO LOBEL E THIAGO AMÂNCIO – FOLHA DE S. PAULO

Em janeiro, quando sentar na cadeira de prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB) assumirá o controle da cidade no auge da temporada de chuvas. Minimizar alagamentos, queda de árvores e quebra de semáforos será o primeiro teste de fogo da futura gestão.

Contudo, no meio de todo esse aguaceiro, os paulistanos não sentirão mudanças bruscas no método de prevenção e nas respostas da prefeitura a esses potenciais danos.

Isso porque, ao menos em 2017, Doria atuará de acordo com cartilha já desenhada pela atual gestão de Fernando Haddad (PT). As medidas de combate à chuva deste verão contemplam ações de 14 de novembro a 15 de abril.

Um dos principais dramas e que tende a não ter nenhuma mudança a curto e médio prazos é a prolongada falta de luz após as tempestades.

Sobre isso, Doria promete "fazer cumprir a lei" que manda a concessionária Eletropaulo enterrar a fiação elétrica, hoje exposta a interferências, como queda de árvores.

Diferentes gestões já tentaram: uma lei municipal de 2005, da gestão José Serra (PSDB), regulamentada em 2006 por decreto da gestão Gilberto Kassab (PSD) e que começou a ser tirada do papel em fevereiro por Haddad, manda a concessionária enterrar 250 km de fios por ano.

Se todos os 24,6 mil km da rede elétrica da cidade fossem enterrados, essa operação duraria 98,7 anos -isso no ritmo que manda essa lei.

A obrigação, contudo, foi barrada pela Justiça Federal. Essa entendeu que, como a Eletropaulo é uma concessão federal, essas questões fogem da gestão da prefeitura.

A empresa estima ainda custos de R$ 100 bilhões com as obras de enterramento, valor que seria repassado de forma progressiva aos usuários.

Ainda assim, segundo o professor Nelson Kagan, da Escola Politécnica da USP, enterrar fios não resolveria totalmente os cortes de energia. A rede enterrada ainda poderia apresentar problemas, como alagamentos das caixas subterrâneas de energia, mais difíceis de serem identificados.

SEM SOLUÇÃO

Quedas de luz levam a um outro problema em dias de chuva: semáforos apagados.

A gestão Haddad diz que as falhas ficam dentro do padrão de até 1% de equipamentos falhos em dias normais e até 2% em dias de chuva.

O problema é que a cidade de SP tem 6.335 semáforos. E 2% deles fora de uso em dias de chuva representam um total de 127 equipamentos apagados e contribuindo para complicar o trânsito.

Cerca de 1.400 semáforos possuem nobreaks que permitem funcionamento por até duas horas mesmo sem luz, diz a prefeitura. Outros 1.800 têm dispositivos que avisam as falhas à CET e permitem o conserto remoto, a não ser que haja avarias ou furto de cabos.

Outro ponto sensível é a queda de árvores, que, além de provocar mortes, costumam deixar regiões inteiras sem luz. O pesquisador do IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas) Sergio Brazolin, especialista em árvores urbanas, levanta dois principais motivos para a queda: falta de planejamento no plantio e problemas no manejo.

Brazolin ressalta ainda a dificuldade de técnicos da prefeitura diante da falta de equipamentos de monitoramento capazes de medir a resistência da madeira de árvores.

A gestão Haddad diz que o manejo de árvores tem sido intensificado e que, em média, 300 árvores são podadas ao dia. De janeiro a outubro, caíram cerca de 2.500 delas, ante 3.234 no ano passado.

PRIORIDADE

Em 2017, à frente da Defesa Civil municipal e das operações de chuva da prefeitura estará o coronel Marco Aurélio Alves Pinto, ex-comandante do Corpo de Bombeiros e ex-chefe da Casa Militar do governo do Estado.

O comandante já trabalha no gabinete da Defesa Civil junto do atual coordenador geral da área, Milton Roberto Persoli, e chegou com um discurso de integrar forças e informações da prefeitura com o governo do Estado no combate aos impactos das chuvas.

Segundo a equipe de Doria, a prioridade neste primeiro verão é identificar os pontos críticos da microdrenagem, locais em que bocas de lobo e galerias subterrâneas de escoamento de águas da chuva costumam falhar.

Nesses locais, Doria deverá intensificar a limpeza, para evitar que eles entupam com o acúmulo de lixo, terra e folhas. Segundo a gestão Haddad, 82 intervenções deste tipo foram feitas na capital. Muitas envolvendo caminhões munidos de jatos de água para limpar a rede subterrânea de drenagem.

"Com pouco tempo para entregar obras estruturais, é o que pode ser feito. Além disso, a comunicação com a população deve ser reforçada para evitar áreas sob risco de alagamentos", diz o pesquisador do IPT Gerson Salviano, especialista em drenagem.

As grandes obras como piscinões e revitalização de rios só deverão ser iniciadas por Doria a médio e longo prazos. O tucano também promete finalizar um pacote de 13 intervenções prometidas por Haddad (que só deve terminar 3 delas), elevando em 50% a capacidade de reservação.

Matéria publicada na Folha de S. Paulo.
 

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