Doria quer grade e recuo de faixa de pedestre em acessos das marginais

Após decidir manter o limite de velocidade de 50 km/h em parte da pista local das marginais Tietê e Pinheiros, o prefeito eleito João Doria (PSDB) pretende colocar grades em calçadas e mudar a posição das faixas de pedestres nos acessos a essas vias com a justificativa de evitar atropelamentos e acidentes.

A ideia é recuar os pontos de travessia dessas ruas e avenidas para lugares mais distantes das esquinas com as marginais –considerados menos perigosos pelo tucano.

Além disso, Doria quer implantar grades que sirvam como barreiras para afastar os pedestres dessas intersecções, onde hoje os carros fazem conversão para sair ou entrar nas marginais e acabam surpreendendo ou surpreendidos por quem está na travessia.

No Alto de Pinheiros, na zona oeste, por exemplo, a faixa de pedestres na rua Miralta fica colada à pista local da marginal Pinheiros e é usada em direção a estações da CPTM, de pontos de ônibus fretados e ao campus da USP, caso da química Julia Fattori, 34.

"Acho que pode deixar a travessia mais segura. Mas acredito que os pedestres, intuitivamente, buscarão um caminho mais curto", avalia Fattori, para quem algumas pessoas certamente tentarão contornar as grades para evitar andar mais até a faixa.

A proposta de recuar a posição das travessias nos acessos às marginais, evitando as esquinas, chegou a ser implantada pela gestão Kassab (PSD) na avenida Paulista.

O engenheiro Horácio Figueira, vice-presidente da Associação Brasileira de Pedestres, faz ponderações.

Diz que "pode até ser efetivo", mas transfere a responsabilidade aos pedestres. "Acho uma deselegância obrigar a pessoa a andar mais porque o automóvel não quer diminuir a velocidade."

Além disso, boa parte das intersecções das marginais com outras ruas nem sequer tem hoje faixa de pedestres.

Na rua Bento Frias, logo após a ponte Eusébio Matoso, em Pinheiros, na zona oeste, a assistente administrativa Daniela Santos, 37, costuma correr para atravessar a rua que começa na marginal Pinheiros e não tem faixa de travessia. "A gente não se sente seguro. O motorista tem que reduzir quando vai virar, mas isso quase nunca acontece".

Durante toda a campanha eleitoral, Doria teve como uma de suas principais promessas a retomada das velocidades máximas anteriores nas pistas das marginais, reduzidas por Haddad em 2015.

Nos 12 meses posteriores à medida, os acidentes com mortes caíram a menos de metade (de 64 para 31), e os atropelamentos fatais quase zeraram (de 24 para 1) nas marginais, embora não especificamente nas vias de acesso.

Procuradoria

O prefeito eleito de SP deve procurar o Ministério Público nos próximos dias para apresentar estudos que, segundo ele, avalizam a ampliação dos atuais limites de velocidade nas marginais Tietê e Pinheiros.

O tucano quer mostrar à Promotoria que análises feitas por técnicos de sua equipe mostram a viabilidade de aumentar a velocidade de 70 km/h para 90 km/h nas expressas, de 60 km/h para 70 km/h nas centrais e de 50 km/h para 60 km/h em trechos das locais (mantendo a velocidade atual de 50 km/h em ao menos uma das faixas).

Reportagem da Folha desta quarta (23) mostrou que a Promotoria deve ser um entrave ao plano do tucano nas marginais.

O promotor César Martins, responsável por inquérito civil dedicado ao tema, vê risco na mudança brusca proposta pelo tucano em início de mandato e diz querer um acordo para que ela não ocorra logo no início da gestão.

Matéria originalmente publicada no jornal Folha de S. Paulo

Compartilhe este artigo