Mesmo com aumentos de 14,8% (integração ônibus com metrô) e de 35% (bilhete único mensal), custo de sistema deve ser dobro do previsto
Bruno Ribeiro e Fabio Leite, O Estado de S. Paulo
Mesmo com os aumentos de 14,8% da tarifa de ônibus integrada com trem e metrô e de 35% no bilhete mensal, a gestão João Doria (PSDB) ainda precisará de R$ 3,3 bilhões neste ano para subsidiar a operação do sistema municipal de transporte com a tarifa básica congelada em R$ 3,80. O valor é 26% maior do que o gasto em 2016 – R$ 2,6 bilhões – e quase o dobro da verba de R$ 1,7 bilhão reservada no orçamento da Prefeitura para bancar a frota em 2017.
Os dados constam de um relatório publicado nesta terça-feira, 3, no qual a São Paulo Transporte (SPTrans) projeta o impacto no sistema do congelamento e dos reajustes nas tarifas que entram em vigor no próximo domingo, dia 8. Os cálculos mostram que a participação da Prefeitura no custo total do sistema vai subir de 31%, em 2016, para 40% neste ano, o que representa um desembolso de R$ 75 milhões a mais por mês em subsídios.
Segundo o relatório, o custo total da operação dos ônibus municipais subiu de 16,2% em um ano, chegando a R$ 6,64 por passageiro hoje. Essa conta representa a divisão do custo integral do sistema pelos usuários que pagam tarifa, 75% do total. Desses, contudo, 25% ainda pagam tarifa com desconto, ou seja, menos do que os R$ 3,80, por causa de benefícios como a integração, que isenta ou reduz o preço na segunda viagem, ou a meia passagem (R$ 1,90) para estudantes.
Como na prática, de acordo com a SPTrans, apenas 49% dos passageiros pagam a tarifa cheia de R$ 3,80, o valor médio que deve ser gasto com passagem de ônibus pelos passageiros pagantes neste ano será de R$ 3,19, o suficiente para bancar 48% do custo total – outros 10% são pagos pelos empregadores no custeio do vale-transporte e 2% são de receitas extra tarifárias.
Sem alterar neste momento nos 24,6% de usuários que não pagam tarifa (estudantes de baixa renda, idosos com mais de 60 anos e pessoas com deficiências), a gestão Doria projeta que terá de financiar R$ 2,67 por usuário de ônibus em 2017, o que resultará em um gasto de R$ 222,7 milhões por mês de subsídio direto de passageiro, ou R$ 273,5 milhões incluindo a manutenção da infraestrutura, como os terminais. Em 2016, o subsídio foi de R$ 1,76 por passageiro.
O estudo mostra que se a tarifa fosse reajustada pela inflação ela subiria para R$ 4,06. Já se os custos fossem divididos igualmente por todos os passageiros, sem descontos e gratuidades, uma tarifa de R$ 2,83 cobriria os custos do sistema.
O congelamento da tarifa básica em R$ 3,80 foi uma promessa de campanha de Doria e também valerá para o trem e para o metrô, conforme anunciou o governo Geraldo Alckmin (PSDB) na semana passada. Se praticamente metade dos passageiros de ônibus não sofreram com o aumento e 25% continuarão isentos, 25% de usuários de ônibus terão de desembolsar mais dinheiro nas viagens. No caso da integração com trilhos, usada por 18,4% dos passageiros, a tarifa sobe de R$ 5,92 para R$ 6,80. Já para os usuários de bilhete mensal, 6,2% dos usuários, o preço sobe de R$ 140 para R$ 190 (comum) e de R$ 230 para R$ 300 (integração).
Lucro e frota
O relatório da SPTrans ainda prevê a retirada de circulação de cem ônibus da frota (de 14,8 mil para 14,7 mil), e o cancelamento de dez linhas – as planilhas não detalham onde será o corte. Já o número de viagens feitas nos coletivos municipais deve cair de 243,8 milhões por mês para 239,6 milhões, tendência já observada em 2016. Além disso, o estudo projeta um aumento de 5,1% para 5,6% no lucro dos operadores de ônibus neste ano.
Em nota, a gestão Doria informou que buscará aumentar os recursos para o subsídio por meio do corte de 15% no valor dos contratos do poder público já anunciado, com cortes também de cargos comissionados e de gastos de custeio, e que pretende também reduzir custos de operação para diminuir a necessidade de financiamento. Essa redução se daria por combate a fraudes e por reorganização de linhas.
Segundo a SPTrans, as reduções da frota, linhas e passageiros “expressam o ocorrido entre o final de 2015 e novembro de 2016”. Já sobre o aumento previsto no lucro das empresas, diz que o cálculo foi feito com valores de novembro, quando há queda no preço do diesel, e que “não há elementos suficientes para se afirmar que este lucro seja de fato alcançado”. De acordo com o relatório, Doria terá de pagar R$ 400 milhões de subsídios de 2016 que não foram pagos pela gestão Fernando Haddad (PT).
Matéria publicada no jornal O Estado de S. Paulo.