Por cláudia collucci – Folha de S. Paulo
O programa Corujão da Saúde começa nesta terça (10) em três hospitais privados e filantrópicos de São Paulo com a meta de zerar, em 90 dias, a fila de cerca de 500 mil pedidos de exames.
É uma medida emergencial e temporária como a própria gestão de João Doria (PSDB) reconhece. E as medidas concretas, os projetos de fôlego para melhorar a saúde de São Paulo, quando serão anunciados?
O que a atual gestão pretende fazer para atacar os problemas cruciais que geram as filas de espera, como falhas na atenção básica de saúde, que levam a pedidos desnecessários de exames e encaminhamentos a especialistas?
Nada ainda de concreto foi anunciado. No programa de governo do tucano, essas questões são mencionadas, mas não há detalhamento. Doria promete, por exemplo, "reforçar o atendimento primário à saúde pelo preenchimento das vagas existentes nas equipes do Programa de Saúde da Família e das Unidades Básicas de Saúde, requalificando e valorizando os profissionais". Mas ainda não disse como e quando isso vai acontecer.
A falta de integração entre as unidades municipais e estaduais de saúde é outro entrave que carece de uma resposta rápida. O paciente fica perdido dentro de um labirinto de unidades de saúde municipais e estaduais que não se conversam entre si.
A confusão é tão grande que mesmo essa fila de 500 mil pedidos de exames é questionada por alguns especialistas. É muito comum as pessoas se inscreverem em vários serviços de saúde e, quando conseguem uma vaga num lugar, o nome continua no outro. Afinal, o que Doria fará para organizar essa bagunça?
Por enquanto, as únicas integrações oficialmente anunciadas pela gestão de Dória foram dos números de emergência 190, 192 e 193 (haverá apenas um número na cidade) e que o Estado irá ceder quatro carretas do Programa Dr. Consulta para a gestão municipal para ajudar a diminuir a fila de exames.
Mais um paliativo que não faz sentido. Especialistas dizem que fica muito barato oferecer esses serviços em unidades fixas, de modo a incluir esses pacientes no sistema para serem cuidados de forma contínua.
Um exemplo sempre citado é o caso dos mutirões de oftalmologia. O paciente faz exame, recebe tratamento, mas, se o problema foi causado por diabetes, precisará ser acompanhado na atenção primária para manter a doença sob controle. Do contrário, ficará cego, além de outros danos à saúde.
Se a cidade perseguir uma atenção primária que funcione de fato, com a ampliação das equipes de saúde da família, por exemplo, a demanda por especialistas, exames e internações seria muito menor. Até 80% das queixas poderiam ser resolvidas na atenção básica, caso ela seja resolutiva.
Por que a atual gestão não elegeu a organização da atenção primária como prioridade? Provavelmente porque não teria a mesma repercussão gerada pelo "corujão". De marketing, o prefeito entende. A esperança é que, passada a euforia de início de mandato, dos factoides quase que diários, a equipe encare a área da saúde com a seriedade e a sobriedade que ela merece.
Artigo publicado na Folha de S. Paulo.