Promovida pela Rede Social Brasileira por Cidades Justas, Democráticas e Sustentáveis, atividade ocorreu nesta sexta-feira, 20, em Porto Alegre.
Por Luanda Nera, de Porto Alegre – Rede Nossa São Paulo
A construção de mapas das desigualdades como instrumentos de transformação foi o tema da atividade promovida pela Rede Social Brasileira por Cidades Justas, Democráticas e Sustentáveis. O evento ocorreu na manhã desta sexta-feira, 20, em Porto Alegre (RS), no âmbito do Fórum Social das Resistências.
As experiências de São Paulo, Brasília e Rio de Janeiro foram apresentadas como exemplos de como os indicadores podem ser sistematizados e colocados à disposição da sociedade e do poder público, de forma a revelar as desigualdades internas das cidades.
Zuleica Goulart, coordenadora de mobilização do Programa Cidades Sustentáveis, relatou a experiência do Mapa da Desigualdade de São Paulo, estudo pioneiro e que vem sendo atualizado e aprimorado desde 2012. "Quando regionalizamos os indicadores, passamos a ter a real noção de onde estão as desigualdades na cidade, onde de fato a gestão municipal precisa investir e focar as políticas públicas", explicou.
O objetivo final do Mapa, segundo ela, é revelar as desigualdades das cidades por meio de suas diferenças regionais, alcançando a menor unidade administrativa possível. Além disso, ao dar visibilidade aos "zeros" de equipamentos e serviços públicos em cada região, o estudo visa contribuir para a diminuição da distância entre os melhores e piores indicadores. "A diminuição das diferenças sociais é condição básica par o bem-estar da população e possibilita a construção de um espaço urbano sustentável", concluiu Zuleica.
Os mapas das desigualdades de Brasília e do Rio de Janeiro – dois estudos mais recentes, construídos a partir da experiência de São Paulo – também foram apresentados. Ambos os instrumentos foram elaborados com algumas especificidades e metodologias adaptadas ao contexto dos municípios.
Diego Mendonça, do Movimento Nossa Brasília, contou que a estratégia consistiu em escolher as três regiões administrativas mais periféricas – Samambaia, São Sebastião e Cidade Estrutural – e utilizar um processo participativo para a seleção dos indicadores que comporiam o mapa. "Não gostaríamos que o Mapa fosse somente um instrumento técnico. Por isso, foi fundamental ouvir a população, saber o que de fato é importante para cada região", justificou.
Outra diferença do Mapa das Desigualdades de Brasília para o da capital paulista foi a utilização da técnica da anamorfose, para criar transformações cartográficas na representação do Distrito Federal. "Essa técnica possibilita uma mudança visual baseada em dados locais e relacionada à distribuição de recursos ou políticas de cada região administrativa", explicou Mendonça.
Um dos resultados da mobilização local foi inserir fotos e letras de músicas escolhidas pela própria comunidade. Essa iniciativa foi provocada por discussões sobre as contradições e possibilidades nas relações entre centro e periferia.
No Rio de Janeiro, o Mapa da Desigualdade extrapolou os limites da capital do Estado e engloba 21 cidades da Região Metropolitana. Henrique Silveira, coordenador executivo da Casa Fluminense, relatou que a ideia é revelar as desigualdades de uma região que concentra 75% da população do Estado e que é pouco conhecida: "Mesmo quando a gente faz debate sobre pobreza e desigualdade no Rio, a gente acaba não saindo da chamada franja litorânea, que é só uma parte da cidade”. Há uma visão muito distorcida e estereotipada que, segundo ele, prejudica a mobilização e até mesmo a gestão pública.
Silveira explicou que, assim como Brasília e São Paulo, o Mapa fluminense também foi construído a partir de dados oficiais, que são atualizados periodicamente. "Nossa preocupação não é construir indicadores, mas dar uma visualização amigável para os números, transformar os dados em informações acessíveis e claras."
O Mapa da região metropolitana do Rio de Janeiro também tem uma preocupação com o alinhamento às tendências globais e, para isso, foi compatibilizado com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) aprovados pela ONU.