FABRÍCIO LOBEL – FOLHA DE S. PAULO
Baldes cheios de água pela casa e torneiras secas à noite são cenas que, com o fim da crise hídrica em São Paulo, podem estar apenas na memória da maioria dos paulistas. Em alguns bairros da Grande São Paulo, no entanto, a rotina da estiagem e racionamento continua até hoje.
"Por aqui, a crise hídrica nunca terminou", conta a cabeleireira Márcia Maria Costa, 30, na Vila Zatt, zona norte de São Paulo. No bairro, são comuns as reclamações de falta de água entre as 22h e as 4h30. Aqueles que não têm caixa-d'água sofrem de maneira mais intensa com a restrição.
"Faz anos que todo dia é assim, pelo menos, desde que a crise começou", explica o comerciante Sebastião Urba, 61. Na tarde desta terça-feira (31), ele estocava água em um tonel para que a família pudesse dar descarga no vaso sanitário durante a noite. A casa estoca ainda cerca de dez garrafas plásticas com água para lavar louça.
A duas quadras dali, a operadora de telemarketing Alana Silva, 25, conta que antes da crise hídrica não faltava água no bairro. "Começou com a seca nas represas. Naquela época era pior, faltava água durante dias. Hoje, só falta à noite", diz.
Assim como muitos dos vizinhos, ela ainda guarda água em um galão no quintal. "A gente até mudou a hora de comer, passou a jantar mais cedo para poder lavar a louça enquanto ainda tem água", conta ela.
A 30 km de lá, no Jardim São Pedro, na zona leste de São Paulo, a descrição é a mesma. "Aqui começou a faltar água com o racionamento. E até agora não voltou mais ao que era antes", conta a dona de casa Luana dos Santos, 36.
O banheiro da casa de Luana não está conectado à caixa-d'água, que foi recentemente instalada. Para tomar banho à noite, ela tem que encher canecas na cozinha.
Em um condomínio de Carapicuíba, na Grande São Paulo, Isalete Ciccone, 59, relata que o corte da água à noite força a família a deixar a louça do jantar para ser lavada no dia seguinte. "A água só volta de manhã e com muita pressão. Não é normal", conta.
Segundo a Sabesp, as faltas de água diárias em certos pontos da Grande São Paulo não deveriam mais ocorrer, diante da melhora do volume de água estocado. A companhia afirma que existem locais em que o envio de água é mais difícil. Além disso, interferências como vazamentos ou abertura de novos pontos de consumo em uma região podem dificultar a operação da empresa.
Em relação às reclamações na Vila Zatt e no Jardim São Pedro, a Sabesp informa que não há reclamações formais em seu sistema ou operações excepcionais nessas regiões. Quanto à falta de água em Carapicuíba, a empresa afirma que está analisando a rede do bairro para identificar possíveis falhas.
A Sabesp orienta que a população reclame de casos de falta de água por meio do telefone 195 e do aplicativo da empresa para celulares.
Matéria publicada na Folha de S. Paulo.
Leia também: Sistema Cantareira volta a nível anterior a crise da água