EDUARDO SCOLESE, EDITOR DE "COTIDIANO", FOLHA DE S. PAULO
O prefeito João Doria (PSDB) cumpriu uma de suas principais promessas de campanha ao zerar em apenas três meses a fila de exames médicos que herdou da gestão de Fernando Haddad (PT). Para atingir essa marca, porém, a gestão tucana teve de deixar em segundo plano os pacientes que procuraram as unidades de saúde a partir de janeiro deste ano.
Isso provocou a criação de uma nova fila. De um total de 360,9 mil pessoas que bateram na porta do sistema municipal de saúde em busca de um exame já durante a gestão de Doria, 94,7 mil delas ainda aguardam pelo menos o agendamento para realizar o procedimento. Pela atual capacidade de atendimento do município, isso deve ocorrer em um mês, ou seja até o início de maio.
Zerar a fila de exames do ano passado foi destaque na campanha eleitoral tucana. A meta foi vendida como prioridade, assim como eliminar em um ano a fila por vagas nas creches e lançar um amplo plano de privatizações e concessões de equipamentos públicos. Por isso, nos três primeiros meses deste ano, a prioridade de Doria esteve na fila de 485,3 mil pessoas deixada pela gestão passada.
Para atendê-las, a administração municipal contou com a parceria com hospitais e clínicas privadas conveniadas com a prefeitura por meio do novo programa, batizado de Corujão da Saúde. Essas unidades particulares atendem os pacientes encaminhados pela rede municipal nos horários em que seus equipamentos para exames estão ociosos–nos finais de tarde e durante a noite, principalmente.
A promessa eleitoral de Doria era eliminar a fila de 2016 em um prazo de até um ano. Depois, reduziu a meta para somente 90 dias. De acordo com o documento da Secretaria da Saúde obtido pela reportagem, até o final da semana passada 99,4% da meta havia sido cumprida. Restava o agendamento para 2.876 pacientes, daquele total de 485,3 mil.
Ainda segundo esse relatório, o Corujão realizou 328,9 mil exames, sendo 20% disso (65,3 mil) nas unidades particulares conveniadas, como Santa Casa de Santo Amaro (17,6 mil), Instituto Sírio Libanês (11,3 mil), Ghelfond Diagnósticos (5.955) e Hospital Oswaldo Cruz (4.231).
Os demais pacientes que estavam na fila desde 2016 ou já estão com seus exames agendados ou, como não precisam mais, foram retirados da espera para a realização dos procedimentos. No Corujão, a maioria da demanda de exames foi de ultrassonografias (65%), seguidas de mamografias (16%) e tomografias (7%).
CONSULTAS E CIRURGIAS
A demanda mensal para novos exames tem sido de cerca de 110 mil pessoas, enquanto a prefeitura calcula uma capacidade de atendimento de até 150 mil exames. Nesse ritmo, a gestão pretende zerar rapidamente a fila de 94,7 mil pessoas formada desde o início deste ano e partir para outros dois desafios importantes após os diagnósticos dos exames: as filas das consultas e das eventuais cirurgias.
Essas duas etapas do Corujão para a sequência do tratamento foram antecipadas pela Folha, em janeiro. As consultas ocorrerão apenas em unidades públicas, sem o convênio para o uso de horários ociosos em clínicas e hospitais privados.
A avaliação da prefeitura é que será possível atender a procura por especialistas na própria rede municipal. Para isso, os plantões nas unidades serão estendidos, de modo a cobrir o período entre as 18h e a meia-noite. Já a realização de cirurgias deve ter o auxílio de nova parceria com a rede privada. Ambas, consultas e cirurgias, devem ter a demanda ampliada após o mutirão de exames deste início de ano.
Procurada para comentar o relatório atualizado de exames, a gestão municipal disse que se manifestará nesta segunda-feira (3), em entrevista sobre o tema.
Matéria publicada na Folha de S. Paulo.