JULIANA GRAGNANI – FOLHA DE S. PAULO
O ônibus balançava como sempre, percorrendo ladeiras na zona sul de São Paulo. Como sempre, alguns conseguiam lugar para sentar, outros seguravam firme para não cair. Só havia algo fora do lugar. O cobrador não estava lá.
Aquele era um dos 5 de 17 ônibus que fazem a linha 576C-10 (Metrô Jabaquara – Terminal Santo Amaro), autorizados pela gestão João Doria (PSDB) a operar sem cobrador. Não foi um problema para a maioria dos passageiros que subiram no ônibus às 17h30 deste sábado (1º), primeiro dia de testes.
Mas quando o veículo já estava em movimento, Jessica Santana, 22, ficou procurando um cobrador que recebesse sua nota de R$ 5.
"Vai ter que descer no próximo ponto", informou o motorista. "Voltei da praia agora e estou sem Bilhete Único. Como ia saber?", questionou ela. "Não viu o adesivo?", retrucou ele, referindo-se ao aviso no vidro dianteiro do ônibus dizendo que o veículo só aceitaria Bilhete Único –observação reiterada pela prefeitura, em nota.
Como Jessica, outros três passageiros foram vistos pela Folha em um período de 40 minutos sendo orientados a descer no próximo ponto. "Perdi o meu cartão e não quis fazer outro porque é muita burocracia", disse a faxineira Teresa dos Santos.
Outros passageiros, como a vendedora Jucélia Lisboa, 39, porém, nem se deram conta de que não havia cobrador. "Se todos os ônibus ficarem sem cobrador, vamos nos acostumar, como sempre nos acostumamos a tudo."
A retirada de cobradores é avaliada por Doria como opção para baixar os custos do transporte. Ele já admitiu que a função poderá deixar de existir e pediu às empresas que treinassem os cobradores para outras funções.
São cerca de 19 mil desses profissionais, que representam 12% dos gastos das empresas –perto de R$ 1 bilhão ao ano. Dentre os passageiros, 6% pagam com dinheiro.
Matéria publicada na Folha de S. Paulo.