Especialista critica o ‘fracionamento’ da base; com reforma, 40% da carga horária passará a ser de livre escolha
Isabela Palhares, O Estado de S. Paulo
Adiada após a aprovação da medida provisória que reforma o ensino médio, a Base Nacional Comum Curricular para a última etapa do ensino básico deve ser apresentada e encaminhada ao Conselho Nacional de Educação (CNE) até o fim deste ano, segundo informou o Ministério da Educação (MEC).
Com o novo modelo para o ensino médio, a previsão é de que os conteúdos da base ocupem 60% da carga horária total. Nos outros 40%, o aluno poderá escolher entre cinco áreas de aprofundamento: Ciências Humanas, Ciências da Natureza, Linguagens, Matemática e Educação Profissional.
Para Daniel Cara, coordenador da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, a entrega parcial da base dificulta a análise das habilidades esperadas para os alunos até o fim do ensino fundamental. “Quando se faz política pública e, especialmente, quando se monta um currículo que se pretende ser a base para todo o ensino básico, não é possível fracioná-lo, como o MEC está fazendo. Não é possível verificar se há progressão de conteúdo, ligação entre as propostas, quando há essa separação por etapa”, disse.
Cara também destaca que a ligação do ensino fundamental ao médio se faz ainda mais necessária, pois os alunos ali terão carga horária menor de algumas disciplinas. Isso ocorrerá porque eles escolherão apenas uma trajetória de aprofundamento. Já o MEC argumenta que os processos de reforma e construção da base continuam a correr de forma paralela, sem prejuízo à BNCC.
DUAS PERGUNTAS PARA
Priscila Cruz, presidente do Todos Pela Educação
1. Como a base se aplica a uma realidade em que o aluno não aprende nem o que já está posto?
Essa nova versão coloca expectativas mais altas em relação à aprendizagem. Hoje temos expectativas muito baixas e toleramos aluno que não sabe colocar vírgula em um período que já deveria saber fazer.
2. Não há um problema em se aprovar a base do ensino fundamental antes da do ensino médio?
O ideal seria apresentar toda a base, é claro. Mas a realidade de se ter uma reforma de ensino médio concomitante existe. A escolha de ter segurado a base curricular do ensino médio foi correta, senão iam acabar segurando o currículo inteiro.Mas essa reflexão entre ensino fundamental e médio foi levada em conta. Outro ponto: é fundamental que haja revisões periódicas desse documento. Daqui quatro ou cinco anos, uma nova revisão deverá ser feita, até para ver como funciona na prática. / LUIZ FERNANDO TOLEDO
Matéria publicada no jornal O Estado de S. Paulo.