LUCILENE OLIVEIRA, DO "AGORA"
Paciente internado em cadeiras por dias, exames suspensos em parte da semana e pronto-socorro que deixou de atender à noite. É essa a situação dos hospitais públicos escolhidos para integrar o Corujão da Cirurgia, da gestão João Doria (PSDB), que começa no próximo mês e pretende zerar fila de 26 mil operações na capital paulista.
Das cinco unidades anunciadas na última semana pelo secretário Municipal de Saúde, Wilson Pollara, o único que não apresenta falhas de estrutura ou atendimento é o Hospital Santo Antônio, na Penha (zona leste), que é filantrópico e administrado pelo Hospital Beneficência Portuguesa.
O Hospital Vereador José Storopolli, o Vermelhinho, na Vila Maria (zona norte), é o centro médico em estado mais crítico. Além de manter pacientes idosos internados em cadeiras de medicação, o exame de ecocardiograma é feito apenas às quartas-feiras e o ultrassom fica suspenso aos fins de semana.
"Não tem previsão de sair a minha vaga, mas eu tenho que ficar aqui internada na cadeira até sair o leito no quarto. Só assim eu faço o eco [ecocardiograma]. Esse exame só é feito uma vez por semana e para quem está internado", disse a babá Luciana Pimentel de Santana, 33. Ela deu entrada na última quinta-feira (13) com uma infecção sanguínea.
No sábado (15) à tarde, o aposentado Américo Antônio Gonçalves, 84, que estava urinando sangue, também aguardava em uma cadeira há mais de 48 horas para conseguir vaga na enfermaria. Ele teria de esperar até esta segunda (17) para fazer um ultrassom na bexiga.
Já o pronto-socorro infantil do Hospital Universitário da USP, no Butantã (zona oeste), só atende das 7h às 19h.
HORÁRIO RESTRITO
Apesar de ter uma das melhores estruturas físicas dos centros médicos anunciados para o Corujão da Cirurgia, o Hospital Universitário da USP passou a restringir, em abril do ano passado, o atendimento no pronto-socorro infantil a partir das 19h. Segundo funcionário, a decisão foi tomada pela gestão da unidade devido ao número limitado de pediatras no período noturno.
"Nos últimos anos o hospital reduziu muito o atendimento por falta de verba. Não teve outra alternativa senão fechar de madrugada", disse uma funcionária.
No M'Boi Mirim, no Jardim Ângela (zona sul), a falta de informação foi o principal ponto criticado pelos pacientes à espera de atendimento na ala de urgência e emergência. Os pacientes também tinham que lidar com banheiros sujos e sem sabonete e papel toalha.
MATERNIDADE FECHADA
O Hospital Arthur Ribeiro de Saboya, no Jabaquara (zona sul), teve o berçário e as salas de parto fechados no início do ano passado após a prefeitura inaugurar o Hospital e Maternidade Vila Santa Catarina, no mesmo bairro.
O objetivo seria ampliar o atendimento para adultos no Saboya –o que não aconteceu, segundo funcionários e pacientes. "Para atender mais gente, tem que ter mais médicos e enfermeiros, mas isso ninguém viu aqui", disse uma funcionária do Saboya.
Os pacientes disseram que, mesmo após o fechamento da maternidade, o tempo de espera por atendimento continua sendo o mesmo. "Geralmente levamos de três a quatro horas para passar pelo clínico. Hoje está um pouco menos porque é feriado", disse a dona de casa Maria de Lourdes da Silva, 48, que acompanhava a vizinha na unidade.
COMO PARTICULAR
O Hospital Santo Antônio, na Penha (zona leste), unidade filantrópica da Beneficência Portuguesa, foi o centro médico que aparentou ter melhor estrutura de atendimento das cinco unidades visitadas pelo "Agora".
Além de quadro médico completo, pacientes elogiaram a estrutura física. "A minha mãe faz tratamento com o ginecologista aqui pelo SUS e o atendimento é como a de uma unidade particular", disse a operadora de telemarketing Thaís Gonçalves dos Santos, 26.
O centro médico é referência também em parto normal para pacientes do SUS. Segundo funcionários, os quartos são equipados com banheira e acessórios para estimular a dilatação e o parto natural humanizado.
As gestantes atendidas na unidade são encaminhadas de postos de saúde da região na zona leste.
RESPOSTA
A Secretaria Municipal da Saúde, sob a gestão João Doria (PSDB), disse que o Corujão da Cirurgia está em fase de planejamento e ainda não estão definidos os rumos do programa, que independe de atendimentos de rotina nos hospitais SUS.
Com relação ao Hospital Vermelhinho, disse que os pacientes Américo Gonçalves e Luciana Pimentel foram transferidos para leitos de observação. Se o quadro da babá estiver estável, ela vai receber alta e poderá realizar o exame no ambulatório. O idoso vai realizar o ultrassom ainda internado.
Sobre o Hospital Arthur Ribeiro de Saboya, a pasta informou que não houve alteração no funcionamento da unidade com a desativação da maternidade. A limpeza completa do local é feita duas vezes ao dia, assim como no M'Boi Mirim. A secretaria ainda destaca que há um plano para reforma do pronto-socorro do Saboya.
Os funcionários do M' Boi Mirim serão reorientados sobre o fluxo de atendimento, segundo a secretaria.
A reportagem não conseguiu contato com o Hospital Universitário da USP.
Matéria publicada na Folha de S. Paulo.