Remoção de ciclovias atingirá mais a periferia de São Paulo, diz Doria

WILLIAM CARDOSO, DO "AGORA"

O prefeito João Doria (PSDB) afirmou na quinta (20) que pretende remover ciclovias, principalmente, na periferia da capital paulista. Estão na mira aquelas que, segundo ele, são consideradas inseguras e que não têm tráfego de bicicletas.

"Não vamos inibir as ciclovias e nem a utilização de bicicletas em ciclovias e ciclofaixas. Apenas vamos fazer uma readequação, principalmente onde elas não podem ser usadas de forma segura, como é o caso da rua da Consolação (região central), e onde não há utilização de bicicletas. Nesses casos, elas deixarão de existir", disse.

Doria afirmou que a CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) e a Secretaria Municipal dos Transportes estão fazendo reavaliação de todas as ciclovias. "Na periferia há várias ciclovias que não têm ciclistas. E elas, na verdade, prejudicam o comércio varejista", afirmou.

O prefeito vê oposição entre os interesses de ciclistas e de comerciantes. "Entre uma ciclovia sem ciclistas e a sobrevivência de famílias, eu fico com a segunda, eu fico com as famílias que precisam sobreviver e seus comércios que precisam ter clientes", disse.

Doria fez ressalvas. "Onde elas são úteis na mobilidade e no lazer, ou em ambos, elas serão preservadas e mantidas", afirmou. No início da gestão, o tucano paralisou a instalação da ciclovia da av. Ricardo Jafet (zona sul), o que gerou protestos de ciclistas. A ordem de serviço para a obra foi dada pela gestão de Fernando Haddad (PT). A instalação de 400 km de ciclovias foi uma das bandeiras de Haddad à frente da prefeitura.

Em reportagem publicada na quarta (19), o secretário dos Transportes, Sérgio Avelleda, afirmou que haverá remanejamentos e troca de parte das pistas exclusivas por ciclorrotas, sem separação física do espaço para bicicletas. A gestão Haddad afirmou, por telefone, que cabe ao prefeito atual definir as ações.

'EQUÍVOCO'

A decisão do prefeito João Doria (PSDB) gerou revolta entre cicloativistas, que esperavam a continuidade do programa de Fernando Haddad (PT), com a ampliação da malha cicloviária.

Para Willian Cruz, do site Vá de Bike, Doria está atendendo a uma demanda de parte de seus eleitores, que foram contra as ciclovias, mas tomou uma decisão equivocada. "Se tira a ciclovia, coloca em risco a vida das pessoas. É uma relação direta", afirma.

Cruz diz que o comerciante pode tirar vantagem da ciclovia. "O comércio varejista floresce com a ciclovia na porta, porque as pessoas param para ver vitrine. Não tem o automóvel bloqueando a entrada. O comerciante que está tendo insucesso não pode atribuir isso à ciclovia."

Diretor da Ciclocidade, Daniel Guth afirma que a polarização criada por Doria entre comerciantes e ciclistas aumenta o risco de conflitos. "Ele [Doria] está cumprindo um papel lastimável, colocando comerciantes contra ciclistas. É uma estratégia política tosca e que tem que ser rechaçada por todos", diz.

"O que mata o comércio é a desertificação. Veja as grandes avenidas que quase não têm calçadas para pedestres e também não têm comércio."

PROTESTO

Logo após a divulgação de que João Doria (PSDB) pretende remover ciclovias da capital, cicloativistas começaram a organizar, pela internet, uma agenda de protestos. A primeira manifestação seria realizada na própria quinta à noite.

Matéria publicada na Folha de S. Paulo.

 

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