Artigo de Cláudia Collucci – Folha de S. Paulo
Quanto custará ao sistema de saúde de São Paulo o aumento dos acidentes com vítimas nas marginais da capital paulista?
Não há dados oficiais sobre esse custo, mas ele deveria ser levado em conta pelas gestões do prefeito João Doria e do governador Geraldo Alckmin (ambos do PSDB), tão preocupadas em reduzir gastos.
Segundo reportagem da Folha, nos dois primeiros meses após o aumento das velocidades, houve alta de 51% nos acidentes com vítimas nas marginais em relação a fevereiro e março de 2016, quando os limites ainda eram de 50 km/h na pista local, 60 km/h na central e 70 km/h na expressa.
Embora não haja dado oficial que mostre a velocidade dos veículos envolvidos em cada um desses acidentes, a associação entre velocidade acima de 50 km/h no trânsito urbano e o aumento de acidentes e mortes está mais do que estabelecida em vários estudos.
Um novo relatório divulgado pela OMS (Organização Mundial da Saúde) na última sexta (5) deixa isso bem claro. A velocidade excessiva ou inapropriada é responsável por uma em cada três mortes por acidentes de trânsito em todo o mundo.
A OMS alerta que apenas 47 países (o Brasil não está entre eles) seguem boas práticas em relação a uma das principais medidas de gestão da velocidade: a aplicação de um limite de velocidade urbana de 50 km/h ou menor.
Estimativas indicam que os prejuízos trazidos por essas fatalidades custam aos países entre 3% e 5% de seu PIB (Produto Interno Bruto). "A velocidade é o cerne do problema mundial de acidentes no trânsito", disse a diretora-geral da OMS, Margaret Chan, na cerimônia de divulgação do relatório.
Os países que tiveram mais sucesso em reduzir drasticamente os números de mortes e lesões causadas pelo trânsito nas últimas décadas (entre eles, Holanda, Suécia e Reino Unido) são aqueles que abordaram a questão de forma abrangente.
A velocidade segura é um dos quatro componentes de suas estratégias, juntamente com a segurança das vias e dos veículos e políticas para os usuários.
Nesses países, prefeitos têm contribuído fortemente para um movimento crescente de transformação das cidades em lugares mais habitáveis para todos.
Segundo a OMS, ao reduzir a velocidade e melhorar a segurança, as pessoas se beneficiam das vantagens adicionais trazidas pelo aumento da caminhada e do ciclismo, além da redução da poluição sonora e do ar.
Os benefícios dessas políticas incluem ainda quedas nas taxas de doenças cardiovasculares, câncer, diabetes e outras patologias não transmissíveis. Do ponto de vista de saúde pública (e dos cofres públicos), as vantagens da redução da velocidade são inegáveis. Só não vê e não aceita isso o gestor que não quer.
Artigo publicado na Folha de S. Paulo.
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