Após corte de segurança, parques têm estrutura destruída em São Paulo

ROGÉRIO GENTILE – FOLHA DE S. PAULO

Oito parques municipais da região central de São Paulo e em seu entorno, entre os quais Trianon, Buenos Aires e Aclimação, estão há cerca de oito meses sem vigilantes.

Por causa da situação delicada das finanças da prefeitura, o contrato com a empresa responsável pela segurança no chamado "grupo centro" não foi renovado na reta final da gestão Fernando Haddad (PT) e até agora a questão não foi normalizada por João Doria (PSDB).

A atual gestão já abriu uma licitação para o serviço, mas os parques devem ficar ainda mais algumas semanas sem vigilância até que o novo contrato seja formalizado.

Fazem parte do "grupo centro" também os parques Zilda Natel, Mário Covas, Benemérito Brás, Independência, Leopoldina e Alfredo Volpi (o único em que o problema já foi resolvido, neste mês).

A situação em parques de outras regiões também é de vigilância reduzida. O Raposo Tavares, de 195 mil metros quadrados, na zona oeste, passou a contar com só metade do serviço quando os contratos foram renegociados na gestão passada.

Com isso, 90 torneiras foram furtadas, grades foram derrubadas, formou-se um lixão num determinado trecho e houve até tiro de fuzil na sede da administração.

No total, os 107 parques da cidade, que recebem 38,7 milhões de visitantes por ano, tinham 1.150 vigilantes. Atualmente, há só 780 na ativa.

O parque Aterro Sapopemba, na zona leste, chegou a ficar um mês sem o serviço de vigilância em 2016 enquanto a prefeitura discutia com a empresa responsável a redução dos valores contratuais.

Com isso, a administração foi depredada por vândalos. Privadas, torneiras e até o encanamento foram furtados.

ABANDONO

"Quando assumimos, 80 dos 107 parques estavam em petição de miséria", diz o secretário do Verde e Meio Ambiente de Doria, Gilberto Natalini. "Havia um verdadeiro estado de abandono, com mato alto, banheiros fechados por falta de funcionários e equipamentos quebrados."

Além de problemas na vigilância, os cortes orçamentários atingiram também duramente os serviços de manejo e conservação dos parques.

Dos 1.100 funcionários que atuavam na zeladoria, sobraram menos da metade (500).

Natalini diz que já conseguiu melhorar a situação de 52 deles, entre os quais o Raposo Tavares, com intervenções e serviços emergenciais.

Para isso, obteve doações de empresas, organizou mutirões com apoio das associações de bairro e promoveu as chamadas forças-tarefas nas quais funcionários de outros parques e de prefeituras regionais são convocados a participar dessas ações.

No último sábado (6), 1.000 moradores se reuniram para ajudar a recuperar o parque do Carmo, na zona leste, em um mutirão da prefeitura.

Medidas como essas, porém, têm alcance limitado. O Orçamento deste ano reserva R$ 109 milhões para a manutenção e conservação dos parques, mas são necessários mais R$ 44 milhões, de acordo com cálculos oficiais.

"Nossa obrigação é encontrar uma solução para os parques", disse o prefeito Doria, em evento no qual a Rede D'Or São Luiz passou a se responsabilizar pela administração do parque Alfredo Volpi.

Na tarde de domingo (7), apesar de cheio, não havia seguranças no parque Buenos Aires, em Higienópolis. No Trianon, a situação era a mesma. "Não tinha percebido [a falta de vigilantes], vou ficar mais atenta", disse a analista de sistemas Fabiana Ramos, 37.

CONCESSÃO

A concessão dos parques à iniciativa privada é uma das prioridades da atual gestão.

Nesta terça-feira (9), Doria apresentou os 14 espaços que devem servir como "iscas" para atrair interessados, entre os quais o Ibirapuera.

Em troca da manutenção, empresas poderão explorá-los comercialmente (estacionamento, eventos, venda de alimentos e bebidas), mas sem cobrança de entrada.

A partir das propostas que receber, a prefeitura deve lançar o edital no segundo semestre. A ideia é que parques considerados "premium" sejam concedidos de maneira conjunta com espaços com menor poder de atração.

SEM VIGIAS

Rodrigo Ravena, secretário do Verde e do Meio Ambiente da gestão Haddad, afirma que a Guarda Civil Metropolitana assumiu a vigilância dos parques nos quais os contratos com a iniciativa privada não foram renovados.

"Nenhum ficou desassistido. Em alguns locais, colocamos unidades móveis da GCM. Em outros, houve sistema de rondas."

O secretário diz que a redução dos gastos de vigilância e manutenção dos parques foi uma consequência direta da crise econômica e da queda abrupta da arrecadação. "Não havia o que fazer."

Segundo ele, de qualquer modo, a gestão Haddad deixou todos os contratos em condições de serem renovados por Doria.

A reta final de Haddad ficou marcada por cortes de gastos para evitar que pendências pudessem configurar desrespeito à Lei de Responsabilidade Fiscal.

O reflexo desse enxugamento afetou diferentes serviços, como redução da limpeza, corte de leite para crianças até a paralisação da produção de asfalto para recapeamento das vias.

Colaborou MARIANA ZYLBERKAN 

Matéria publicada na Folha de S. Paulo.
 

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