A vereadora Edir Sales (PSD) já organizou abaixo-assinado para retirar ciclovias da Vila Prudente, na zona leste. Aurélio Nomura (PSDB) fez requerimentos contra as pistas para bicicletas na Vila Mariana, zona sul. Mário Covas Neto (PSDB) quer remover as que passam ao lado da Câmara Municipal, no centro. João Jorge (PSDB) é mais radical: tenta excluir mais de cem trechos na cidade toda.
Integrantes da base do prefeito João Doria (PSDB), eles são só alguns exemplos da romaria de parlamentares na porta do Executivo desde janeiro com a meta de reverter parte dos 468 km de ciclovias instaladas em São Paulo, bandeira da gestão anterior, de Fernando Haddad (PT).
Os pedidos caem nos braços de Sérgio Avelleda, secretário municipal dos Transportes, que é ciclista –condição que tem motivado desconfianças em campos opostos.
Vereadores cobram pressa para definir mudanças prometidas por Doria nas ciclovias e questionam a imparcialidade do secretário-ciclista.
Avelleda também tem sido acuado no outro lado do balcão, por cicloativistas que dizem se sentir traídos diante da confirmação do secretário de Doria de que haverá alterações em ao menos parte das pistas exclusivas para bikes.
Um dos planos envolve a transformação de algumas delas em ciclorrotas –caminhos sem a separação das bicicletas do restante do tráfego.
No dia 28 de abril, um grupo chegou a pichar "Avelleda traíra" no asfalto em frente ao prédio onde ele mora. Procurado pela Folha, Avelleda não quis comentar as críticas.
Em comum, os dois lados fazem uma cobrança semelhante: a apresentação do plano cicloviário a ser implantado pela gestão Doria.
Irritados, cicloativistas ameaçaram encerrar mais cedo reunião que ocorreu na quinta (18) com membros da secretaria –que só quis tratar do plano de sinalização das ciclofaixas e ciclorrotas. "Isso é um desconforto absoluto", afirmou Daniel Guth, diretor da Ciclocidade.
Vizinhos
Líder do governo Doria na Câmara, Aurélio Nomura formalizou, com requerimentos, contestações de moradores a ciclovias da Vila Mariana.
Secretário do mesmo governo Doria, Avelleda se comprometeu, durante audiência pública no bairro, a enviar equipes para vistoriar as pistas alvo de reclamações.
O secretário-ciclista disse que a primeira região onde haverá remoção de trechos de ciclovias será a Vila Prudente.
Trata-se de uma cobrança da vereadora evangélica Edir Sales, que foi diretamente a Doria para fazer esse pedido. "Toda hora encontro com vizinhos que estão descontentes. Nessas ruas não passa nenhum ciclista. O risco é grande de acidente." Ela afirma ter 10 mil assinaturas coletadas contra ciclovias do bairro.
Outro colega de partido de Doria, João Jorge é um dos vereadores mais ferozes contra as pistas exclusivas para bikes. Cita reclamações de comerciantes e moradores em 102 trechos –devido à retirada de espaço para tráfego ou estacionamento de carros.
"Tem trechos de 100 metros que foram feitos apenas para contar quilometragem."
Funcionário de carreira da EMTU (empresa estadual que gerencia ônibus metropolitanos), Jorge diz ser a favor do transporte de massa. "Eu uso o metrô da linha vermelha. De vez em quando, eu deixo o carro. Entro no metrô e digo: 'o que eu fiz? largar o conforto do carro, o ar condicionado, para vir apertado aqui'. Mas semana que vem estou lá de novo, pela rapidez."
Centro
No centro, uma das pressões anticiclovia vem do tucano Mário Covas Neto, que tenta tirar a pista ao lado da sede do Legislativo municipal. "É um erro tratar a bicicleta como meio de transporte na cidade inteira. Na periferia é meio de transporte sim, mas, no centro, é mais utilizada como lazer", diz.
Cobrança semelhante foi encampada dentro do governo Doria pelo prefeito regional da Sé, Eduardo Odloak.
Semanas atrás, ele levou uma comitiva de empresários do Bom Retiro para uma reunião com Avelleda. O assunto: pedido para readequação do trecho que passa pelas ruas Silva Pinto e da Graça. "O comércio sentiu impacto da ciclovia na atividade econômica da região", diz Odloak.
Entre as alternativas apresentadas pelo secretário aos empresários, a redução da ciclovia para apenas uma faixa, que ficaria entre a calçada e as vagas de zona azul.
Por enquanto, Avelleda tem repetido que qualquer mudança no projeto cicloviário da cidade será discutida previamente com os ciclistas.
Matéria originalmente publicada no jornal Folha de S. Paulo