Inventário realizado pelo IEMA detalha as emissões na capital paulista por modal, horário, tipo de combustível e localização na cidade.
Em um dia comum, entre as 6h e as 7h da manhã, acontece o pico das emissões de CO2 na cidade de São Paulo. O horário marca o deslocamento cotidiano de muitas pessoas, de casa em direção ao trabalho ou demais compromissos do dia, e explica por que a poluição atinge níveis mais altos no período. Cabe observar, contudo, a disparidade entre as emissões provenientes do transporte individual motorizado e dos ônibus: indo ao trabalho de ônibus, por exemplo, emitimos quase quatro vezes menos do que se formos sozinhos de carro.
Os mapas e gráficos acima foram gerados a partir da nova plataforma lançada pelo Instituto de Energia e Meio Ambiente (IEMA): uma representação interativa do Inventário de Emissões Atmosféricas do Transporte Rodoviário de Passageiros no Município de São Paulo. A análise inédita sobre a contribuição de cada modo de transporte no total das emissões mostra que, apesar de transportarem menos pessoas (30%, enquanto os ônibus levam 40%) os automóveis são responsáveis por 73% das emissões de gases de efeito estufa (GEE)* ao longo de um dia na cidade. Os ônibus, municipais e rodoviários, são responsáveis por 24% e as motos correspondem aos 3% restantes.
Os resultados do inventário podem orientar escolhas por meios de transporte mais sustentáveis e eficientes, ajudar a destinar investimentos, guiar decisões de planejamento, incentivar avanços na tecnologia veicular e de combustíveis e, quem sabe, estimular um uso mais consciente dos automóveis. Os dados utilizados na plataforma foram extraídos de órgãos da gestão municipal de transportes (CET e SPTrans), além de pesquisas do setor (Pesquisa Origem Destino 2007, Pesquisa de Mobilidade Urbana 2012 e o relatório “Emissões Veiculares no Estado de São Paulo 2015”, da CETESB).
O que e quanto é emitido? Por quem, quando e onde?
Nos últimos 30 anos, as características da poluição atmosférica em São Paulo mudaram, e hoje os poluentes associados ao consumo de combustíveis permanecem acima dos níveis considerados adequados. Com mais de 11 milhões de habitantes e uma frota de 8 milhões de veículos, São Paulo sofre com longos congestionamentos e altos índices de poluição. Quando milhões de pessoas fazem a mesma escolha, o impacto dessa decisão vai além da esfera individual. Os carros ocupam 88% do espaço das vias, e a cidade toda vive com as consequências.
Esses não são desafios novos para a capital paulista. E para superá-los é preciso partir de informações confiáveis. As respostas para as perguntas descritas acima é o que o inventário realizado pelo IEMA se propôs a buscar. Ao contemplar divisão modal, horário, tipo de combustível utilizado e a localização das maiores concentrações de emissões de poluentes na cidade, os dados disponíveis na plataforma traçam um diagnóstico preciso do problema. É o primeiro passo para mudar as estratégias de planejamento e a implementar medidas eficientes de controle e mitigação.
Rede integrada de transportes: eficiência e redução de emissões
No momento em que está em discussão a nova licitação de ônibus na cidade, a ferramenta pode contribuir para a priorização do modal. Outro estudo feito pelo IEMA mostrou que, entre 2012 e 2014, a velocidade média dos ônibus aumentou 14% nas áreas que receberam faixas exclusivas; no mesmo período, as emissões de GEE caíram 5%.
Priorizar o transporte coletivo tem o potencial de mudar o paradigma da mobilidade urbana tanto em São Paulo quanto nas demais cidades brasileiras. Faixas e corredores dedicados aumentam a velocidade média operacional dos veículos e, com isso, reduzem o tempo de deslocamento dos passageiros que, por sua vez, ganham em produtividade e qualidade de vida.
Hoje, apenas 25% dos moradores de São Paulo vivem próximos a uma estação de transporte coletivo de qualidade. Em 2016, um estudo realizado pelo WRI Brasil Cidades Sustentáveis em parceria com o ITDP, mostrou que São Paulo pode ampliar esse acesso para até 70% da população se expandir e qualificar sua rede de transporte, ampliando a integração física, tarifária, operacional e de informação entre os diferentes modos públicos e privados. Uma cidade com uma rede multimodal de transporte – integrada, conectada e bem operada – é capaz de aplacar a dependência dos carros. Ao estabelecer conexões mais rápidas e eficazes entre diferentes pontos da cidade, uma rede integrada promove a otimização dos deslocamentos, tornando os sistemas mais eficientes e reduzindo os tempos de viagens e as emissões de poluentes. *Nas emissões totais de GEE, o CO2 ocupa a maior parcela – em torno de 95%.
Matéria originalmente publicada no portal WRI Brasil – Cidades Sustentáveis