Objetivos do levantamento, que será lançado no início de agosto, foram apresentados no seminário "Periferias urbanas: territórios de desafios e possibilidades no enfrentamento das desigualdades"
Por Airton Goes, da Rede Nossa São Paulo
Morar longe do centro da cidade e, consequentemente, da infraestrutura urbana e dos equipamentos e serviços traz prejuízos não apenas para o morador, mas também para a administração pública. Essa é premissa do estudo “Quanto custa morar longe?”, que está sendo elaborado pelo Instituto Escolhas e a Fundação Getúlio Vargas (FGV) e deverá ser lançado no início de agosto.
As motivações e os objetivos do estudo foram apresentados pelo diretor do Instituto Escolhas, Sergio Leitão, durante o seminário "Periferias urbanas: territórios de desafios e possibilidades no enfrentamento das desigualdades".
Promovido pela Fundação Tide Setubal, Página 22 e FGV, o seminário ocorreu nesta segunda-feira (26/6), no auditório da Fundação Getúlio Vargas, em São Paulo.
Sergio Leitão explicou que entre os objetivos do levantamento “Quanto custa morar longe?” é colocar, em números, não apenas o gasto com o deslocamento do morador da periferia até o seu local de trabalho, mas também outros custos envolvidos com o problema, entre os quais os relacionados à saúde das pessoas que diariamente passam horas dentro de um ônibus.
Ele espera que os resultados a serem apresentados levem gestores públicos e a sociedade em geral a fazerem alguns questionamentos. E exemplifica: “É possível as pessoas morarem mais perto, para que não tenhamos que continuar expandindo infinitamente a periferia?”; “Por que o centro se degrada, não é ocupado, enquanto temos que ocupar áreas que não deviam ser ocupadas, como é o caso das regiões de mananciais?”.
O diretor do Instituto Escolhas antecipou que os dados do estudo deverão estar disponíveis não apenas para os integrantes da administração pública, mas também para os cidadãos, que poderão consultar as informações.
Evento lotou auditório da FGV
O seminário "Periferias urbanas: territórios de desafios e possibilidades no enfrentamento das desigualdades", que lotou o auditório da FGV, foi dividido em dois painéis.
No primeiro painel, “Retratos das Periferias – Desafios e Possibilidades”, a presidente do Conselho da Fundação Tide Setubal, Neca Setubal, destacou a importância de se construir pontes entre os diversos setores da sociedade, para se ouvir e construir uma cidade melhor para todos. “Temos que universalizar os direitos”, defendeu ela.
Outro participante do painel, o jornalista Tony Marlon, registrou que gosta de usar a palavra “periferias”, no plural, “pois elas são várias, diversas, convergentes, divergentes…”. Segundo ele, nenhuma pessoa consegue sintetizar toda a complexidade existente nas periferias.
O diálogo também contou com a colaboração de Mauricio Érnica, professor da Faculdade de Educação da Unicamp, que falou sobre a desigualdade no sistema educacional.
Na sequência, foi realizado o segundo painel “Dados e indicadores: onde a conta não fecha?”, no qual Sergio Leitão, fundador e diretor de Relacionamento com a Sociedade do Instituto Escolhas, abordou as motivações e os objetivos do estudo “Quanto custa morar longe?”.
Durante essa parte do evento, Eliana Souza e Silva, diretora da ONG Redes da Maré e do Instituto Maria e João Aleixo, relatou os 20 anos de atuação de sua organização no complexo de favelas do mesmo nome, no Rio de Janeiro. “Até a década de 1990, as favelas não faziam parte do mapa da cidade, eram manchas brancas no mapa”, lembrou ela, antes de explicar que uma das iniciativas da ONG foi fazer a cartografia da Maré.
O painel também contou com a contribuição de Haroldo Torres, demógrafo e sócio da Din4mo, empresa voltada ao desenvolvimento de negócios com impacto positivo.
O seminário é parte de um projeto desenvolvido pela Fundação Tide Setubal, em parceria com a FGV EAESP, que conta com o lançamento de uma edição especial da Revista Página 22 sobre o tema Periferias.
Confira aqui a Edição Especial da Página 22 – Periferias
Créditos das imagens: Vanderson Atalaia – Fundação Tide Setubal
