Pinheiros, por exemplo, deve voltar a ter uma via dedicada ao choro: a João Moura
Felipe Resk e Juliana Diógenes, O Estado de S. Paulo
Ritmos musicais vão ganhar endereço fixo em São Paulo. A gestão João Doria (PSDB) quer tirar do papel as quatro primeiras Ruas Musicais até o fim do ano, com shows de bandas ao ar livre aos domingos e feriados. Na pauta do projeto estão o choro, o reggae, o samba-rock e o pagode. Em busca de parceiros privados, a proposta discute até a criação da “Rua do Karaokê”, na segunda etapa do programa, com banda contratada para acompanhar quem quiser subir no palco e soltar a voz.
Previsto no Plano de Metas, o programa Ruas Musicais resgata uma iniciativa da década de 1980, implementada pelo próprio Doria, então presidente da Paulistur, empresa municipal de fomento ao turismo. Na época, a cidade chegou a inaugurar espaços como a Praça do Forró, na zona leste, e a Rua do Choro, em Pinheiros, mas a medida perdeu força ao longo dos anos.
Um novo projeto está em fase de estudo pela Secretaria Municipal de Esportes, Lazer e Recreação. “Vamos implementar quatro até o final do ano, nas regiões norte, sul, leste e oeste”, afirma o secretário Jorge Damião, titular da pasta. “Cada rua terá uma entidade responsável tomando conta. A curadoria passa a ser deles.”
Segundo Damião, Pinheiros, na zona oeste, voltará a ter uma Rua do Choro, a exemplo dos anos 1980. E a João Moura deve ser a escolhida de novo. “É a nossa proposta”, diz o prefeito regional Paulo Mathias. “Mas ainda não está decidido, porque não houve reunião com a comunidade do entorno.”
“Queremos aproveitar a vocação de cada lugar”, explica o secretário Damião. A Rua do Reggae, por exemplo, ficará no Butantã, onde já há eventos do gênero. Na Praça Benedicto Ramos Rodrigues, em Ermelino Matarazzo, na zona leste, será criada a Rua do Samba-Rock. “Ela já é reservada para o Ruas Abertas, mas tem domingo que fica sem evento. Nós queremos oficializar, virar uma referência do samba-rock”, diz o prefeito regional Arthur Xavier.
Na zona norte ainda não há um local favorito. “Estamos conversando para ser algo mais voltado ao samba, ao pagode”, diz Damião. “Tem de ter um cuidado muito grande para escolher. Tem todo o conceito para saber qual o impacto no trânsito e para os moradores.”
As vias serão interditas e um palco ficará montado das 11 às 17 horas. No modelo idealizado pela Prefeitura, os eventos devem ser organizados por empresas privadas, que pagarão por equipamento de som, equipes de segurança e cachê de uma banda principal. A gestão estima que cada evento custe cerca de R$ 20 mil. A infraestrutura, como bloqueio do tráfego, ficam a cargo da Prefeitura.
Em troca, o município estuda oferecer espaço de propaganda e permitir a comercialização de alimentos e bebidas nas Ruas Musicais, autorizando, por exemplo, a exploração de food trucks. “Tudo dentro do limite da legislação”, diz Damião.
Karaokê
Mais duas ruas devem ser incluídas depois no programa. Uma delas, um karaokê a céu aberto na Liberdade, na região central, que concentra estabelecimentos do tipo. A outra, no centro expandido, está sem o gênero definido. “Estamos recebendo propostas para vários estilos: do sertanejo ao arrocha”, afirma Damião.
A meta da Prefeitura é ter ao menos 80 Ruas de Lazer, incluindo as seis Ruas Musicais, em funcionamento até o fim da gestão. Atualmente, apenas 22 dessas vias estão ativas. No Plano, a proposta está relacionada ao objetivo de aumentar em 20% a taxa de atividade física da cidade. “As pessoas vão dançar, vão cantar e, de alguma forma, transformar lazer em atividade física.”
Para o urbanista Lucio Gomes Machado, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (USP), o projeto é “interessante”. “Quanto mais animação, menos se degrada e mais se desenvolve a região”, diz. O especialista, contudo, acredita que o centro deveria ser incluído já na primeira fase. “Há ruas que estão preparadas para eventos assim, mas estão vazias.”
Já a urbanista Lucila Lacreta, do Movimento Defenda São Paulo, teme conflito com moradores por causa do barulho. “Melhor seria se houvesse variação de ruas e datas”, sugere.
Matéria publicada no jornal O Estado de S. Paulo.