ROGÉRIO PAGNAN – FOLHA DE S. PAULO
O Estado de São Paulo, sob a administração de Geraldo Alckmin (PSDB), vive uma epidemia de roubo de cargas.
O crescimento desse tipo de crime foi de 23% nos primeiros seis meses deste ano em comparação a igual período do ano passado, o maior aumento registrado em um primeiro semestre desde 2004.
Em número absolutos, eles saltaram de 4.398 para 5.417.
O crescimento de junho, de 19% ante o mesmo mês de 2016, é o 13º consecutivo –a maior sequência de altas desse tipo de crime desde 2009, quando o Estado registrou uma série de 18 meses.
Além dos roubos de carga, os roubos em geral tiveram leve alta no Estado, com 161.819 registros no semestre.
Os dados foram divulgados nesta terça (25) pelo secretário da Segurança Pública, Mágino Alves Barbosa Filho, que disse ver algo positivo.
"No mês passado [maio], tivemos um aumento muito maior no roubo de carga [37%]. Também está parecendo que começa a ter um movimento de queda. Não estou falando que está caindo o roubo. Estou falando que tem uma tendência de diminuição do aumento desse indicador."
Assim como nos meses anteriores, ele relativizou a gravidade dos casos, sob a justificativa de que a maioria envolve produtos com valores abaixo de R$ 5.000. "São roubos de ocasião", afirmou.
Durante apresentação desses dados, a Folha questionou quais os crimes que mais preocupam a segurança pública. O roubo de carga aparece em quarto lugar no ranking de Mágino, atrás de homicídio, latrocínio e estupro.
Desde o ano passado, o Estado vem registrando mega-assaltos a carros-fortes e caminhões em cenas cinematográficas, especialmente em estradas do interior, como na região do terminal de cargas do aeroporto de Viracopos, em Campinas (a 93 km de SP).
Para o diretor-presidente do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Renato Sérgio de Lima, 13 meses seguidos de aumento não podem ser desprezados pela polícia.
"Já confirma que não é um efeito sazonal. Tem sido uma constante. Em termos estatísticos, é um crescimento. E não deixa de ser uma modalidade de crime que financia PCC e afins. Não é só a droga que financia o crime", afirma.
O assessor de segurança do Setcesp (sindicato das empresas de transportes de carga), coronel Paulo Roberto de Souza, diz que a maior parte dos roubos é de pequeno valor agregado, mas que não se trata de um fenômeno novo. "É a característica do roubo urbano, que alguns chamam de roubo de oportunidade, de ocasião. Mas não é de tanta oportunidade assim, porque é um roubo continuado."
Segundo o coronel, há casos em que um mesmo comerciante registrou cerca de 70 pequenos ataques em seis meses, o que totaliza R$ 2 milhões em mercadoria roubada.
"Não estou dizendo que a polícia não está trabalhando, mas uma coisa que me parece clara é que a estrutura de resposta é insuficiente para a dimensão do problema.
De acordo com o sindicato, os registros de roubo de carga em São Paulo representam 42% do total do país. No território paulista, 80% são cometidos em áreas urbanas.
Uma das medidas que o setor cobra do governo do Estado é a aplicação rigorosa de uma lei, aprovada em 2014, que permite a cassação da inscrição estadual de estabelecimentos comerciais flagrados comercializando produtos de roubo ou furto.
O secretário, questionado pela Folha, não soube informar quantos estabelecimentos foram fechados nesses três anos de vigor da lei.
O motorista de caminhão Genivaldo Luiz da Silva, 47, que foi vítima de uma série de roubos durante os 26 anos em que trabalhou com transporte de cargas, incluindo ataques em rodovias, afirma que este é momento mais crítico vivido por ele. "A gente conversa com os outros colegas. São caminhões sendo abordados todos os dias. Hoje nós estamos mais a mercê. Está sendo muito mais fácil para o bandido", diz o motorista.
OUTROS CRIMES
No primeiro semestre deste ano, além do roubo de carga, também houve crescimento de latrocínio (23%), de 168 para 207, roubos em geral (1%), de 160.734 para 161.819, e estupro (11%), de 4.736 para 5.280.
Por outro lado, o número de vítimas de homicídio apresentou uma leva queda, de 0,5%. O total de mortes neste tipo de crime foi de 1.784 para 1.776. Todas as comparações consideram o primeiro semestre de 2017 e o mesmo período de 2016.
Matéria publicada na Folha de S. Paulo.