Aceleramos sobre vidas? O número de ciclistas mortos no primeiro semestre de 2017 apresenta um aumento de 75% em comparação com 2016 e, somado ao número de pedestres, representa metade do total de vítimas fatais
Por Ciclocidade
A Ciclocidade – Associação dos Ciclistas Urbanos de São Paulo manifesta profunda consternação pelo atropelamento fatal de mais um ciclista na cidade de São Paulo, ocorrido na terça-feira (25/7), na Av. Radial Leste. Gostaríamos de prestar solidariedade aos familiares e amigos.
Reinaldo Aparecido da Silva, do Pedala Itaquera, foi mais uma vítima da escalada de violência que temos observado no trânsito da capital paulista. O número de ciclistas mortos entre janeiro e junho de 2017 já representa um aumento de 75% em comparação com o ano passado. Segundo dados do Infosiga, do Governo do Estado de São Paulo, foram 21 vítimas fatais ante 12 no mesmo período em 2016.
Não são apenas ciclistas que estão deixando nódoas de sangue e sofrimento por São Paulo. Os números do Infosiga também registram um aumento nas vítimas fatais de 23% para pedestres, 200% para usuários de ônibus e 2% para mortes de motociclistas. No mesmo período, as vítimas fatais em automóveis caíram 27% e de caminhões diminuíram 33%.
A soma dos números de usuários exclusivos de mobilidade ativa (ciclistas e pedestres) agora contabiliza metade do total de mortos. No ano passado, representavam 41% do total.
Tais números confirmam o que vem sendo reportado sucessivas vezes na Câmara Temática da Bicicleta, órgão que faz parte do Conselho Municipal de Transporte e Trânsito. Ilustram como uma gestão municipal que tem como preocupação divulgar o mote do “Acelera São Paulo” – um slogan que é no mínimo impróprio para o agressivo trânsito motorizado da capital paulista – é, ao mesmo tempo, excessivamente lenta em tomar medidas essenciais para a segurança de ciclistas e pedestres.
Estamos diante de um grave retrocesso, a saber, a tendência de interrupção da curva decrescente de mortes no trânsito, que ocorria desde 2005 sobretudo para os meios de transporte ativos.
Ainda que a análise dos dados deva ser aprofundada e seja precoce afirmar as razões para esta escalada de violência no trânsito, o mapa de mortes produzido pelo Infosiga evidencia alguns dados importantes de serem destacados:
a) Atropelamentos e colisões fatais, envolvendo todos os meios de transporte, estão espalhados por toda a cidade. As vias arteriais – avenidas e vias expressas, incluindo as marginais Pinheiros e Tietê – concentram a maior parte das ocorrências;
b) Além do aumento do número total de ciclistas mortos, chama a atenção o fato de estarem espalhadas por todas as regiões da cidade, sendo mais de 90% das ocorrências longe do centro, nas periferias.
c) Pedestres mortos também estão espalhados na cidade, com alguma concentração na região compreendida pelo “centro expandido” e em vias arteriais. Chama atenção a quantidade de idosos mortos por atropelamento.
A tendência de aumento na letalidade do trânsito na capital precisa urgentemente ser reconhecida pelo poder público, divulgada amplamente para a população, discutida com especialistas e conselheiros da cidade e, sobretudo, servir de base para a definição e implementação emergencial de novas ações de curto, médio e longo prazo, que protejam a vida das pessoas.
Nenhuma morte no trânsito é tolerável, e São Paulo precisa incorporar uma meta clara de acabar com todas as mortes no trânsito (Visão Zero), um horizonte possível e que já está sendo posto em prática nas maiores metrópoles globais do planeta.
*Na imagem, homenagem do grupo Pedala Itaquera ao ciclista Reinaldo.
Artigo publicado no portal da Ciclocidade – Associação dos Ciclistas Urbanos de São Paulo.