ROGÉRIO PAGNAN – FOLHA DE S. PAULO
Os roubos seguidos de morte –os latrocínios– cresceram 20% nos primeiros sete meses deste ano no Estado de São Paulo, segundo dados divulgados pelo governo paulista na tarde desta sexta-feira (18).
Foram 237 casos registrados nos primeiros meses de 2017 (com 240 vítimas) contra os 198 registrados no mesmo período do ano passado –quando vitimaram 204 pessoas.
Esse tipo de crime, embora em números absolutos seja pequeno em comparação à quantidade de roubos (186.157), é considerado um dos mais importantes para a criminologia por impactar diretamente na sensação de insegurança da população.
São crimes que quase sempre provocam comoção, como na morte do empresário Sylvio Luiz Toledo Leite, 44, assassinado durante um roubo em um posto de gasolina na rodovia Fernão Dias, na noite desta quarta (16).
O crescimento nos latrocínios é um dos sintomas da epidemia de crimes patrimoniais vivida pela população de São Paulo que, conforme a Folha revelou, fez uma vítima a cada 30 segundos no Estado nos primeiros seis meses do ano. Foram ao todo 512.459 casos até junho, incluindo furtos, roubos e latrocínios.
Considerando-se apenas o mês julho, segundo os dados apresentados pelo governo paulista na tarde desta sexta, os roubos com mortes caíram quase 6% no Estado –foram de 35, em julho de 2016, para 33 casos registrados em julho passado. Insuficiente, porém, para reverter o acumulado do ano.
O secretário da Segurança, Mágino Alves Barbosa Filho, diz que a polícia tem aumentado o número de blitze pelo Estado para tentar reduzir os crimes patrimoniais, mas admite dificuldades no combate ao latrocínio. "É difícil de combater porque ocorre muito rápido", afirmou.
Mágino está desde maio do ano passado no cargo. Ele assumiu a vaga no lugar de Alexandre de Moraes, de quem já era secretário-adjunto. Até agora, ele também não conseguiu conter os seguidos aumentos nos roubos de carga. Com a nova elevação registrada em julho, que foi de 5% com relação ao mesmo mês de 2016, São Paulo tem o 14º aumento mensal seguido desse tipo de crime.
No acumulado do ano, são 6.270 roubos de carga no Estado –cerca de mil casos a mais que no mesmo período do ano passado (5.207). Ainda assim, o secretário disse ver esses dados sobre roubos de carga com bons olhos por ter havido, em julho, um crescimento menor em relação aos meses anteriores.
MÊS DE JULHO
No mês de julho deste ano, com exceção dos roubos de carga, todos os crimes patrimoniais recuaram no Estado de São Paulo, em comparação ao mesmo mês de 2016.
Houve queda nos roubos a banco (57%), de veículos (14%) e em geral (6%), assim como os tipos de furtos (em geral, queda de 2%, e de veículos –redução de 10%).
Um desempenho que, para Mágino Alves, é visto pelo governo paulista com "satisfação".
Otimismo que contaminou a opinião do secretário até sobre os dados de roubos de carga que em julho completaram o 14º aumento seguido.
Para o secretário, só o fato de as ocorrências desse crime terem sido em julho, em números absolutos, menores do que as anotadas em junho, já é um indicativo.
"O que a gente está verificando é que a gente está conseguindo diminuir, um pouco, esse crime que realmente vem de uma sequência grandes de aumentos", disse.
Estaticamente, essa comparação não pode ser feita, como o próprio Mágino ressaltou na entrevista, porque se tratam de períodos diferentes. Um mês de férias como julho, com suas especificidades, não pode ser comparado com outro mês do ano.
No cargo desde maio do ano passado, Mágino teve dificuldades para responder a alguns questionamentos na entrevista desta sexta-feira (18).
Primeiro, ele não deixou claro os motivos pelos quais o Estado de São Paulo não consegue reduzir os crimes patrimoniais assim como faz com crimes de homicídios.
Disse que homicídios foram reduzidos graças à política de desarmamento exitosa no Estado, aliada a um trabalho de "saturação" desempenhado pelas polícias. "Os crimes patrimoniais são mais difusos", resumiu.
O secretário também não conseguiu apontar qual é a principal política de segurança implantada em sua gestão. Afirmou apenas que, como gestor, trabalha para elevar os efetivos da polícia.
Também questionado ao falar sobre emprego de policiamento ostensivo, Mágino não soube responder a quantidade de PMs que trabalham atualmente nas ruas e no serviço administrativo. "Eu não tenho esse número de cabeça", afirmou.
Em 2011, o TCE apontou 23,3 mil homens no serviço interno, de um efetivo total em torno de 90 mil policiais.
"Eu acompanho o efetivo que está nas ruas diariamente no combate à criminalidade", resumiu o secretário.
Ele também respondeu sobre afirmações feitas pelo delegado-seccional do centro, Marco Antonio de Paula Santos, que, em entrevista à Folha, atribuiu às vítimas parte da culpa pela elevação dos crimes patrimoniais.
"Obviamente que não é responsabilidade da vítima", disse. "Todos os cuidados básicos nós devemos cuidar. Mas a vítima já sofreu o impacto do perdimento do seu bem, às vezes com uma agressão, às vezes com uma ameaça. É lógico que não é razoável atribuir a ela responsabilidade."
Matéria publicada na Folha de S. Paulo.