Houve menos 20 mil registros na soma de Hospital das Clínicas, Santa Casa e Hospital São Paulo; a explicação está na diminuição dos procedimentos eletivos (não urgentes), suspensos por falta de verba ou por readequação do serviço prestado
Fabiana Cambricoli e Felipe Resk, O Estado de S. Paulo
Principais unidades de referência do Sistema Único de Saúde (SUS) em São Paulo e responsáveis pela formação de alguns dos maiores especialistas do País, os Hospitais São Paulo, das Clínicas e da Santa Casa de Misericórdia internaram, no ano passado, 20 mil pacientes a menos do que cinco anos antes.
Levantamento inédito feito pelo Estado, com base em dados do Ministério da Saúde divulgados no portal Datasus, mostra que entre 2011 e 2016 o número de doentes hospitalizados nas três unidades passou de 113,7 mil para 93,7 mil, uma queda de 17%. O dado chama ainda mais a atenção se considerado o aumento da população no período (2,9%) e o crescimento do grupo de paulistanos que perderam o plano de saúde por causa da crise econômica – fenômenos que indicam maior demanda pelos serviços públicos.
A queda nas internações é reflexo, em parte, da diminuição da realização de procedimentos eletivos (não urgentes), suspensos por falta de verba ou readequação do serviço prestado. A maior baixa foi registrada na Santa Casa, onde as internações passaram de 33 mil para 22,7 mil nos cinco anos analisados, uma redução de 31%. Desde 2014, a instituição passa por grave crise financeira, com dívida acumulada de cerca de R$ 800 milhões. No ano passado, cirurgias eletivas foram suspensas por tempo indeterminado.
Situação parecida vive o Hospital São Paulo (HSP), ligado à Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Lá, o número de pacientes internados caiu de 25,3 mil para 22,2 mil entre 2011 e 2016, diminuição de 12%. O quadro deve piorar ainda mais neste ano, com o agravamento da crise financeira da unidade.
Desde abril, a direção do hospital já havia suspendido as cirurgias e internações não urgentes por falta de recursos para a compra de medicamentos, materiais e insumos. Na ocasião, o conselho gestor informou que seriam necessários mais R$ 18 milhões por ano do governo federal para dar conta do custeio.
Desativação
Sem novos repasses do Ministério da Saúde, o HSP decidiu, no mês passado, desativar metade dos leitos da unidade. “Tivemos de juntar unidades afins para trabalhar com o orçamento que temos. Com a junção, conseguimos economizar em despesas como energia e limpeza”, explica José Roberto Ferraro, diretor-superintendente do hospital, que hoje tem aberto apenas 370 dos 750 leitos existentes.
Embora também tenha registrado queda nas internações, o Hospital das Clínicas, vinculado à Faculdade de Medicina da USP, é o que tem situação menos desfavorável. A queda no número de pacientes hospitalizados por lá foi de 3,5%, passando de 50,5 mil para 48,7 mil.
O hospital diz, no entanto, que, somados os atendimentos de todos os institutos do complexo (como o Incor), houve aumento de 7,1% nas internações feitas no período. Ressalta ainda que, desde 2012, o pronto-socorro passou por reestruturação para atender mais casos graves, com risco de vida, nos quais o tempo de internação é maior.
Já a Santa Casa informou, em nota, que a queda dos atendimentos se deve à crise financeira já “conhecida pela imprensa”. A instituição diz que retomou significativamente sua produção e realiza mais de 340 mil procedimentos por mês.
Já o diretor-superintendente do Hospital São Paulo afirma que o conselho gestor trabalha para tentar retomar os atendimentos, mas depende da liberação de mais verba federal. “Estamos fazendo nossa parte. Por exemplo: otimizando recursos e fechando vagas de profissionais que pedem demissão. Não queremos fechar leitos, mas esse foi o caminho que encontramos para não parar o atendimento nem colocar os pacientes já internados em risco.”
Matéria publicada no jornal O Estado de S. Paulo.