THIAGO AMÂNCIO E RAPHAEL HERNANDES – FOLHA DE S. PAULO
Buracos no asfalto, mato alto, bueiros entupidos, falta de varrição. Essas são situações cotidianas, visíveis a qualquer um que se disponha a percorrer São Paulo.
Por isso, são também algumas das queixas mais numerosas feitas à prefeitura da capital paulista por meio do 156, central que reúne solicitações e reclamações da população.
Mas quem reclama precisa ser paciente: a prefeitura promete responder às solicitações de limpeza de bueiros em cinco dias, mas demorou 68 dias em média, no primeiro semestre. No caso de denúncias de descarte irregular de entulho, o poder público estipula um prazo de quatro dias, mas levou 77 em média.
A reportagem analisou o relatório das 340 mil solicitações feitas pelo 156 entre 1º de janeiro e 20 de junho deste ano, publicado pela prefeitura no portal Dados Abertos.
A gestão João Doria (PSDB) respondeu, no primeiro semestre deste ano, a 57% dos pedidos depois do prazo estipulado, que varia de acordo com cada serviço.
Por exemplo, o serviço de tapa-buracos, campeão de reclamações. A prefeitura prevê um prazo de 45 dias para responder ao problema, mas demorou, em média, 70 dias no primeiro semestre deste ano. De 75.934 solicitações no período, 45.490 delas foram finalizadas com atraso.
Os pedidos analisados se referem a 312 tipos de serviços, como a varrição, limpeza de bueiros e tapa-buraco.
No portal do 156, a prefeitura informa o prazo máximo para resposta de pelo menos 218 dessas 312 solicitações, que equivalem a 268.852 reclamações no período. Desse total, 154.376, o equivalente a 57%, foram respondidas depois do prazo estipulado.
O setor mais comprometido é o da zeladoria urbana, tema caro ao prefeito João Doria, que na eleição chegou a chamar a cidade de "lixo vivo" e se vestiu de gari no primeiro dia de trabalho. Serviços de capinação e roçada deveriam levar 30 dias, mas na prática, demoram 78.
Para fazer o cálculo, a reportagem analisou pedidos que estariam atrasados em 21 de junho, um dia depois da publicação da tabela.
No primeiro semestre do ano passado, ainda sob a gestão Haddad (PT), o atraso das respostas ficou em patamar semelhante (cerca de 56%).
A região central é a mais comprometida da cidade: no Brás, Bom Retiro, Santa Cecília e Sé, 73% das reclamações, em média, foram respondidas com atraso.
No distrito de Pinheiros, onde está o Jardim Europa, bairro em que vive o prefeito, 1.712 das 2.789 reclamações feitas no período estão atrasadas –o equivalente a 61%. As principais solicitações são serviços de tapa-buraco e avaliação de árvores em vias públicas.
Os problemas são similares no Grajaú, distrito pobre da zona sul: tapa-buraco e capinação e roçada ocupam o topo das 4.171 reclamações.
Os órgãos responsáveis pela maioria das solicitações são a Secretaria de Prefeituras Regionais, que responde pela zeladoria urbana (160 mil pedidos e 59% deles atrasados), a Assistência Social (35 mil pedidos e 73% deles atrasados) e a SPTrans (47% dos 25 mil pedidos atrasados).
INTEGRAÇÃO
Com o objetivo de economizar R$ 10 mi por ano, a prefeitura vai integrar mais centrais telefônicas ao 156. A ideia da gestão é, gradativamente, estabelecer o serviço como o único canal para atender às solicitações do paulistanos.
A ideia é incluir no serviço os canais de atendimento da Defesa Civil, Departamento de Transporte Público (responsável pelos serviços de táxi), SPTrans, Ilume (iluminação pública), Guarda Civil Metropolitana e limpeza urbana.
O secretário Municipal de Inovação e Tecnologia, Daniel Annenberg, diz que as mudanças não devem abarrotar o serviço e causar ainda mais atrasos. "A entrada do 156 funciona. O problema é a saída, a realização do serviço."
OUTRO LADO
O secretário Municipal de Inovação e Tecnologia, Daniel Annenberg, afirma que a gestão Doria começou o mandato, em janeiro, com um estoque acumulado no 156 de 589.026 solicitações sem resposta, herdadas da gestão de Fernando Haddad (PT).
Além disso, segundo Annenberg, de abril em diante o órgão vem conseguindo responder a mais reclamações do que o serviço recebe, o que reduz o estoque. Desde aquele mês, foram recebidas 226.212 solicitações e concluídas 274.874, de acordo com números enviados pela gestão à reportagem.
O secretário culpa ainda um rombo de R$ 7,5 bilhões que, segundo ele, a prefeitura herdou da gestão anterior.
Annenberg, vereador licenciado pelo PSDB e idealizador do Poupatempo, do governo paulista, afirma que o serviço recebe 25 mil ligações por dia. "A gente trabalha, por um lado, com um déficit, uma demanda que existia e não estava zerada, com uma grande demanda de área, e com um buraco orçamentário."
"Estamos conseguindo diminuir o estoque, mas isso não é da noite para o dia. Mensalmente, reduzimos 10 mil, 20 mil. Mas leva tempo", diz. A expectativa, afirma o secretário, é de zerar a demanda até o começo de 2018.
Como esforços para reduzir o contingente, o titular da pasta diz que a secretaria está enviando mapas às prefeituras regionais com destaques para as áreas com mais problemas, de modo que as equipes ganhem tempo e não tenham que se deslocar mais de uma vez a locais próximos.
Segundo o titular da pasta, não havia sistematização para atender a áreas próximas numa mesma saída.
O número de equipes de tapa-buraco aumentou de 32 para 75 nesta gestão, diz ele.
Sobre a poda de árvores, Annenberg diz que a prefeitura mandou projeto de lei para a Câmara Municipal para alterar a legislação, que exige que o laudo para a poda seja feito por um engenheiro da prefeitura. A gestão quer que sejam considerados válidos laudos feitos por engenheiros que não sejam do quadro da administração municipal, o que desafogaria a demanda e aceleraria a resposta ao serviço.
"Se você não mudar a legislação, por mais inteligência que use, maior a tecnologia, você não consegue agilizar o processo", diz ele.
"São uma série de medidas. Você tem que usar a tecnologia, a inteligência, rever processos, mudar a legislação, para permitir, com tudo isso, que a gente consiga reduzir esses prazos. É um trabalho titânico, não é simples."
A assessoria do ex-prefeito Fernando Haddad (PT) diz que nove meses "é um tempo considerável" para a atual gestão assumir a responsabilidade pelos atrasos e que respondia a todas as reclamações dentro do prazo legal quando entregou a prefeitura, em janeiro.
Matéria publicada na Folha de S. Paulo.