A sensação de insegurança experimentada pelos frequentadores da região central de São Paulo é ampliada por problemas estruturais da região, como falta de limpeza, iluminação deficiente e a existência de moradores de rua e usuários de droga.
O centro está entre as regiões que têm maior ocorrência de furtos na cidade, mas tem poucos registros de crimes violentos, como homicídios ou assaltos.
Segundo o ex-secretário nacional de política de drogas Luiz Guilherme Paiva, a sensação de insegurança pode ser tão prejudicial quanto a falta de segurança em si, porque afasta a população e o comércio e segrega frequentadores.
"Nos grandes centros, existe uma relação entre a sensação de insegurança e a desorganização, inclusive estética, gerada por cenas de uso de drogas em lugares públicos."
Paiva afirmou que é preciso parar de tratar a cracolândia como um problema particular de São Paulo e passar a prestar atenção nas soluções encontradas por outras cidades pelo mundo.
É essencial, disse, olhar tanto para a segurança de quem frequenta a região, quanto para a dos próprios usuários, entre os quais a causa de morte mais frequente não acontece pelo uso de drogas, mas por homicídio.
Para o vice-presidente da Associação Viva o Centro, Marco Antonio Ramos, a diversidade de culturas e etnias encontrada na região central é outro fator que pode contribuir para a impressão: "Porque as pessoas se sentem inseguras frente ao desconhecido".
Questões como limpeza, iluminação e a falta de jardins bem cuidados e estabelecimentos comerciais funcionando normalmente seriam, na avaliação dele, muito mais importantes do que uma grande presença da polícia no local.
"Por isso a requalificação do centro é fundamental. Um lugar muito policiado, como um aeroporto, já geraria inclusive um certo clima de insegurança."
Ramos disse também ser favorável à maior descentralização de um dos grandes eventos ocorridos anualmente na região, a Virada Cultural. Ele defende espalhar as ações culturais por toda a cidade, mas sem abrir mão da participação dos equipamentos culturais da área central, que aproveitariam a ocasião para divulgar seus espaços e atrair visitantes.
Marcos da Costa, presidente da OAB-SP, pensa diferente. A Virada Cultural deve ter o centro como foco, principalmente para atrair jovens à região. Parte da degradação local, segundo ele, pode ser atribuída à perda de grandes referências culturais.
Para Costa, o importante é descobrir quais novas estruturas devem surgir na região para que ela deixe de ser ocupada por usuários de drogas.
"Devemos ocupar o centro da cidade com aquilo para o que ele tem vocação hoje: serviços, gastronomia e cultura. Isso fará com que ele volte a ter o papel de centro cultural e palco de grandes manifestações da sociedade."
Matéria originalmente publicada no jornal Folha de S. Paulo