Durante evento, promovido pela Rede Nossa São Paulo e projeto Cidade dos Sonhos, representante da Prefeitura reconhece que é preciso ampliar faixas exclusivas e corredores de ônibus
Por Airton Goes, Rede Nossa São Paulo
O debate sobre a Pesquisa de Mobilidade Urbana, promovido pela Rede Nossa São Paulo e projeto Cidade dos Sonhos nesta quinta-feira (21/9), foi marcado por declarações que enfatizam a necessidade de medidas imediatas para melhorar o transporte público e outros aspectos relacionados ao deslocamento pela cidade.
“A pesquisa identificou uma pioria em todos os itens relacionados à mobilidade na cidade”, relatou o coordenador-geral da Rede Nossa São Paulo, Jorge Abrahão, logo na abertura do evento ocorrido no auditório do Instituto de Arquitetos do Brasil, em São Paulo – IAB SP.
Segundo ele, a solução para os problemas apontados pelos paulistanos no levantamento é a colocação em prática de políticas públicas que contemplem os anseios da população, também revelados na pesquisa.
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“A pesquisa deveria ser utilizada pelo poder público como um diagnóstico da cidade”, sugeriu Flavio Siqueira, representante do projeto Cidade dos Sonhos.
A adoção de medidas imediatas por parte da Prefeitura foi enfaticamente defendida por Clarisse Cunha Linke, diretora executiva do ITDP – Instituto de Políticas de Transporte & Desenvolvimento. “Não há mais problemas técnicos a resolver, pois no mundo já se sabe como resolver os problemas de mobilidade”, argumentou.
Lucio Gregori, ex-secretário municipal dos Transportes na gestão Luiza Erundina, também avaliou que as principais dificuldades apontadas na pesquisa e as soluções para elas já são conhecidas há muito tempo. “Nos últimos anos houve mudanças, mas os problemas continuam os mesmos: a qualidade do serviço é ruim e a tarifa muito cara”, sintetizou.
Para o ex-secretário, “qualidade é ônibus com ar condicionado, piso baixo, com acessibilidade e força motriz elétrica, e que tenha regularidade e conforto, o que significa reduzir a ocupação”. Ele defendeu que os contratos de concessões de ônibus, a serem definido no edital de licitação a ser lançado pela administração municipal, tenham prazo de validade bem menor que 20 anos.
A importância do controle e fiscalização das linhas de ônibus foi destaque nas declarações de Ana Odila de Paiva Souza, ex-diretora de Planejamento da CET – Companhia de Engenharia de Tráfego. “O que interessa no transporte coletivo é sua regularidade, ou seja, o cumprimento dos horários. Não adianta passar dois ônibus [da mesma linha] juntos, se depois demora mais de 15 minutos para vir outro”, exemplificou.
Representante da Prefeitura reconhece que é preciso ampliar faixas exclusivas e corredores
O chefe de gabinete da SP Trans (São Paulo Transporte S.A), Ulrich Hoffmann, que representou a Prefeitura no debate sobre a Pesquisa de Mobilidade Urbana, afirmou que a cidade está intoxicada de tanto carro.
Entretanto, segundo ele, a classe média só vai trocar o automóvel particular pelo ônibus, se este for melhor. “E isso só vai ocorrer, se o ônibus for mais rápido que o carro.”
A solução, reconheceu o representante da administração municipal, “são os corredores e a faixas exclusivas de ônibus”.
Segundo Hoffmann, para se fazer faixas exclusivas basta tinta (para pintar as faixas). Já os corredores necessitam de investimentos consideráveis. “Infelizmente, a questão de recursos é determinante”, justificou.
Em resposta às declarações do chefe de gabinete da SP Trans, o coordenador do Grupo de Trabalho (GT) Mobilidade Urbana da Rede Nossa São Paulo, Carlos Aranha, sugeriu: “Se para implantar as faixas exclusivas só precisa de tinta, por que a Prefeitura não faz isso então”.
Ao reforçar a ideia de que é preciso medidas imediatas para melhorar o transporte público na cidade, ele destacou um dado da pesquisa. “A ideia de deixar o carro em casa nunca foi tão alta na cidade, pois 80% dos pesquisados se disseram dispostos a fazer isso, se houvesse um transporte coletivo de qualidade”, argumentou Aranha.
Mediado por Paulina Chamorro, jornalista especializada em sustentabilidade, o debate também contou com as participações de Marcia Cavallari, CEO do Ibope Inteligência, Meli Malatesta, consultora e professora de cursos de especialização em mobilidade ativa, Mila Guedes, autora do blog Milalá e conselheira municipal de Transportes e Trânsito, e Renata Falzoni, videorrepórter e cicloativista pioneira na valorização do uso da bicicleta no Brasil.
Vídeos do debate estão disponíveis na página do projeto Cidade dos Sonhos no facebook.
A divulgação da Pesquisa de Mobilidade Urbana e o debate sobre os seus resultados fazem parte da programação da Semana da Mobilidade em São Paulo, marcada pelo Dia Mundial sem Carro que acontece nesta sexta-feira (22/9).
MobCidades
O debate realizado nesta quinta-feira (21) também marcou o lançamento em São Paulo do projeto MobCidades – Mobilidade, Orçamento e Direitos, que envolve 10 cidades brasileiras até o final de 2019. Promovida pelo Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc) em parceria com 10 organizações integrantes da Rede Social Brasileira por Cidades Justas, Democráticas e Sustentáveis, a iniciativa visa fortalecer e fomentar a participação popular na gestão da mobilidade urbana, com foco na garantia do direito à cidade e ao transporte.