A questão e sugestões para respondê-la foram destaques em diversos momentos da Conferência Ethos 2017. Rede Nossa São Paulo e Programa Cidades Sustentáveis participaram do evento.
Por Airton Goes, da Rede Nossa São Paulo
Um dos temas mais marcantes da Conferência Ethos 2017, realizada esta semana em São Paulo, foi a questão das “enormes desigualdades” existentes na capital paulista e no país. A pergunta, como reduzir essas diferenças, e sugestões para respondê-la estiveram presentes em diversos momentos do evento.
Duas mesas de debate, que contaram com a participação da Rede Nossa São Paulo, focaram o assunto.
Na primeira – A Redução das Desigualdades e as Empresas –, o coordenador de projetos da organização, Américo Sampaio, apresentou alguns dados “vergonhosos” do Mapa da Desigualdade da capital paulista. “Um terço das regiões da cidade de São Paulo não tem um único livro disponível para o público infanto-juvenil [de 7 a 14 anos]”, informou ele, antes de complementar: “E 60 distritos não têm centros culturais ou espaços públicos de cultura”.
Outro indicador apresentado foi o tempo médio de vida dos paulistanos, que em Pinheiros é de 79,67 anos, enquanto na Cidade Tiradentes alcança apenas 53,85 anos. “O tempo médio de vida em Pinheiros é semelhante ao da Noruega e o da Cidade Tiradentes é equivalente ao de Serra Leoa, na África. E estamos falando de regiões dentro de uma mesma cidade”, denunciou o representante da Rede Nossa São Paulo.
Para Sampaio, “a redução das desigualdades deve ser a prioridade zero de qualquer governo”.
Discordante de uma visão existente em alguns setores da sociedade, de que a desigualdade é fruto da falta de planejamento de São Paulo, ele explicou que a cidade tem um padrão de desigualdade, que aumenta do centro expandido em direção à periferia. “Isso demonstra que a cidade foi planejada para ser desigual, ou seja, foi planejada para ser assim”, argumentou.
Em relação ao papel das empresas no combate às desigualdades, Sampaio propôs a retomada do Fórum Empresarial de Apoio à Cidade de São Paulo, que foi constituído na época da ex-prefeita Marta Suplicy, mas não teve continuidade nas gestões seguintes.
“As empresas desse fórum ajudariam a colocar em prática as medidas e ações previstas nos planos setoriais [Plano Municipal de Educação, Plano Municipal de Saúde, Plano Municipal de Cultura, etc.], que representariam um cardápio de políticas e investimentos estruturantes da cidade.”
Ele destacou, entretanto, que o fórum seria aberto à todas as empresas, em diálogo com a população. “Hoje você tem um filtro, que é ser ou não amigo do prefeito, o que é algo inadmissível”, considerou.
O protagonismo das empresas nas mudanças necessárias também foi defendido por Rafael Georges, coordenador de campanha da Oxfam Brasil, que apresentou diversos números do estudo A distância que nos une: um retrato das desigualdades brasileiras, divulgado esta semana.
“As empresas têm um papel muito importante na redução das desigualdades entre grupos populacionais no Brasil”, destacou.
Elaborado pela Oxfam Brasil, o estudo revela, por exemplo, que os seis brasileiros mais ricos detêm a mesma renda que os 100 milhões mais pobres.
“Reduzir o gap [espaço] entre o maior e o menor salário dentro de uma empresa contribuiria para a redução da desigualdade”, sugeriu Georges.
Outra política a ser colocada em prática pelas empresas, em sua opinião, é a inclusão de pessoas que hoje estão excluídas ou têm mais dificuldade para ingressar no mercado de trabalho, como mulheres, negras e negros. “Se as empresas têm políticas destinadas à inclusão e promoção desses segmentos, estão contribuindo para a redução das desigualdades”, avaliou.
De acordo com o representante da Oxfam Brasil, “existem empresas com políticas bem concretas para superar isso”.
Na última mesa de debates da conferência – Política, Democracia e Coletivos –, que abordou as desigualdades de gênero, sexo e raça, a coordenadora de comunicação da Rede Nossa São Paulo, Luanda Nera, pontuou mais alguns dados emblemáticos sobre o tema na cidade. “As diferenças também estão explicitas na mobilidade urbana”, relatou ela, ao falar da Pesquisa de Mobilidade Urbana, que a organização em que atua divulgou na semana passada.
“Cerca de 28% das pessoas deixam de ir a consultas médicas, porque não têm dinheiro para a passagem do ônibus”, exemplificou.
Os resultados da pesquisa em relação ao assédio sexual no transporte coletivo também foram mencionados por ela. “A pesquisa mostrou que, na periferia e nas classes de menor renda, esse problema se acentua”, constatou.
Maria Sylvia de Oliveira, presidente do Geledés – Instituto da Mulher Negra, apresentou dados sobre a discriminação desse segmento no Brasil. “Aproximadamente 68% das mulheres vítimas de ações policiais são negras, ou seja, a mulher negra também sofre com a violência policial”, registrou.
Alice Riff, diretora do longa metragem Meu Corpo é Político, contou a experiência de fazer o seu primeiro filme, que foi focado na população trans. Rodado na periferia de São Paulo, o documentário acompanha a trajetória de quatro ativistas LGBT. “O que eu filmei é muito mais as nossas semelhanças do que as nossas diferenças”, ponderou.
Coordenada por Marina Ferro, gerente executiva em práticas empresariais e políticas públicas do Instituto Ethos, a mesa de debate também contou com a participação de Litícia Bahia, diretora institucional da revista Az Mina.
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