Sem-teto fazem marcha por 23 km para pressionar Alckmin por moradia

Folha de S. Paulo

Sem-teto ligados ao MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto) fizeram, nesta terça-feira (31), uma marcha por cerca de nove horas e meia até o Palácio dos Bandeirantes, sede do governo do Estado, na zona sul de São Paulo. O grupo percorreu 23 km e chegou ao destino por volta das 16h20, sem registro de tumultos.

Os manifestantes cobram do governador Geraldo Alckmin (PSDB) a desapropriação de um terreno ocupado na rua João Augusto de Sousa, no bairro Assunção, em São Bernardo do Campo, na região metropolitana de São Paulo, para a construção de moradias populares.

A caminhada foi acompanhada pela Polícia Militar, que estimou o grupo em cerca de 3.500 manifestantes. "A operação da Polícia Militar é para evitar atrapalhar a rotina do Palácio dos Bandeirantes e manter a integridade dos manifestantes", afirmou o major da PM Marcelo Tasso.

Já o líder do movimento Guilherme Boulos, o número de manifestantes chegou a 10 mil. "Hoje o MTST fez história", afirmou ele. "Os sem-teto deram show hoje em resposta ao preconceito puro contra o movimento", destacou se referindo ao cancelamento pela Justiça do show de Caetano Veloso no terreno ocupado. 

Segurando faixas, o grupo iniciou a marcha por volta das 7h, na avenida Cupecê, em São Bernardo, que foi bloqueada totalmente.

O manifestantes também cobram a imediata construção de moradias em terrenos do CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano) e a manutenção do programa Casa Paulista.

O motorista Felipe de Carvalho Santana, 22, e a dona de casa Maiara Brito do Nascimento, 17, levaram o filho Benjamin, de 8 meses, ao ato. Eles fazem parte da ocupação em São Bernardo e disseram que caminharam de lá até o Palácio. "Estamos lutando por moradia. Pagar aluguel com criança pequena é difícil", disse Maiara.

No final da tarde, dez integrantes do movimento foram recebidos. Após mais de duas horas de reunião, o secretário de Habitação, Rodrigo Garcia, subiu no carro de som e falou para os manifestantes que lotavam a avenida Morumbi.

Segundo o secretário, será discutida a possibilidade de cadastro das famílias que estão na ocupação em São Bernardo no CDHU. "Vamos buscar empreendimentos a médio prazo para que essas famílias possam ter esperança de ter sua casa própria".

Governo e liderança do MTST devem se reunir no próximo dia 10 para detalhar as próximas ações.

SHOW PROIBIDO

Uma decisão judicial proibiu a realização do show do cantor Caetano Veloso na noite desta segunda-feira (30) no acampamento do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto) na área do mega-acampamento em São Bernardo do Campo.

O espetáculo prestaria apoio à luta por moradia e à marcha que os integrantes realizam nesta terça em direção ao Palácio dos Bandeirantes. A ação civil pública que ensejou a proibição alegava questões de segurança mas argumentava também que a ocupação já tinha liminar de reintegração de posse confirmada em segunda instância.

"Não sei dizer se foi censura, não sou um técnico. Mas dá a impressão de que não é um ambiente propriamente democrático", disse Veloso. "Pode ser um modo de reprimir uma ação que seria legítima", questionou.

Ele afirmou que esta foi primeira vez que ele se viu impedido de cantar desde a redemocratização. "E, mais do que nunca, é preciso cantar porque há muitas dificuldades", completou, antes de recitar os versos da canção "Gente", que pretendia cantar no palco e dedicou aos sem-teto.

Boulos classificou a liminar como um "ato de censura" e de "falta de democracia". "Alegar questão de segurança é uma excrescência. Fazemos assembleias diárias com o mesmo número de pessoas", afirmou à Folha. "Nossa melhor resposta será exercer o nosso direito à manifestação nesta terça", disse.

MEGA-ACAMPAMENTO

O acampamento, situado em um terreno particular no bairro Assunção, abriga 6.500 famílias é a maior ocupação feita pelo MTST nos últimos anos –a Copa do Povo, levantada em Itaquera (zona leste) meses antes do Mundial, tinha 3.500.

Segundo o movimento (autor das estimativas acima), o imóvel, da construtora MZM, estaria vazio há mais de 30 anos. A proprietária entrou com um pedido de reintegração de posse na Justiça –por enquanto, sem sucesso.

Embora esteja localizada numa região tradicionalmente industrial da cidade, a ocupação faz fronteira com uma vila e um condomínio residencial

Matéria publicada na Folha de S. Paulo.

 

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