Com 102 denúncias por dia, ‘pancadões’ se espalham por todas as regiões de SP

Análise do ‘Estado’, com base nos dados da PM, ainda aponta que em dois batalhões as denúncias chegaram a quadruplicar desde 2014: o 45º (Mooca) e o 23º (Itaim-Bibi); focos incluem sobretudo bares perto de faculdades e ruas de favelas

Luiz Fernando Toledo, O Estado de S.Paulo

“Ozziel, seu vacilão!”, grita um homem, no interior de um ônibus, ao passar na frente do prefeito regional de Cidade Tiradentes e sociólogo Ozziel Evangelista de Souza. “Olha aí o Ozziel, esse é famosinho! Parabéns pelo trabalho”, grita uma menina de sua casa. A fama, para o bem e para o mal, foi conquistada com uma “guerra” travada por ele, semanalmente, desde janeiro, contra os pancadões e bares irregulares com som alto no extremo leste paulistano.

As ações da Prefeitura são consequência. A PM já registrou 27,7 mil denúncias desse tipo na capital até setembro – 102 por dia, segundo mapeamento obtido pelo Estado. Apesar da repressão policial, as denúncias se espalham pela cidade. Entram na conta não só os pancadões com carros de som estacionados em vias públicas, mas também bares que ficam abertos após 1 hora e, com bebida alcoólica e música alta, fazem os clientes dominarem as ruas, que ficam fechadas. 

Já ocorreram 2,8 mil operações policiais contra pancadões neste ano, com mais de 400 pessoas presas.“E há trabalho preventivo para evitar ocorrências, com base no levantamento prévio de locais de maior incidência, para onde as viaturas policiais são direcionadas”, afirma a PM, em nota oficial.

A Prefeitura também ampliou suas ofensivas, com Operações como a Peixoto Gomide e a Sono Tranquilo, um projeto-piloto que surgiu para atender a uma solicitação do Ministério Público Estadual (MPE) de fechar bares abertos após 1 hora e controlar os “pancadões”. “Na Regional Cidade Tiradentes, existiam cerca de 40 a 50 pancadões aos fins de semana. Após a Sono Tranquilo, existem atualmente cinco eventos, sempre de sexta a domingo, com autorização da regional”, destaca o governo municipal.

Em duas semanas, a reportagem acompanhou duas operações envolvendo diretamente prefeitos regionais: a de Evangelista de Souza, na periferia, e a do prefeito regional Paulo Mathias (Pinheiros), na Vila Olímpia, zona sul. Em ambos os casos, os agentes municipais estiveram acompanhados de Polícia Militar e fiscais para multar estabelecimentos irregulares.

Vezes quatro. Levantamento feito pelo Estado, com base nos dados enviados pela Polícia Militar, aponta que dois batalhões registraram o maior aumento no número de denúncias contra pancadões e barres irregulares desde 2014: o 45.º (Mooca), que atende ocorrências na região central (sobretudo na frente das universidades); e o 23.º (Itaim-Bibi), cujo foco das denúncias está em favelas como a San Remo. Nesses locais o número de denúncias quadruplicou no período.

O prefeito regional da Sé, Eduardo Odloak diz que o principal foco do problema na região é a Rua Peixoto Gomide, próximo da Augusta. “Tem muito barzinho ali e já fechamos vários. Fazemos operação toda sexta e sábado, com a polícia, mas não tem jeito. Como a molecada fica no entorno, é só sair de lá que eles voltam”, disse. Outro alvo comum de reclamações é o entorno de faculdades, como na Rua Taguá. “Se você fecha o bar, sempre tem alguém que abre a porta do carro e está cheio de bebidas. Existe um limite na nossa ação”, diz o prefeito regional.

No 23.º Batalhão, as reclamações têm como alvo as Favelas San Remo e do Sapé. “Como falta lugar para as pessoas se divertirem, pancadões têm atratividade. Houve muitas operações em Heliópolis e esse pessoal acabou migrando para cá”, destaca o comandante local, o coronel Mario Alves da Silva Filho. “E o fluxo atrai pessoas de Osasco, Carapicuíba, Itapevi…”

Para o promotor de Justiça da Infância e Juventude Eduardo Dias de Souza Ferreira, falta fiscalização até na região central. “Se você for agora na porta das universidades, vai encontrar um monte de estudante de ensino médio que fica no entorno, consumindo álcool. A fiscalização foi precarizada.”

Em nota, a Polícia Militar disse que “não há como apontar motivo específico para o aumento de queixas”. Um dos problemas seria a “mudança dos ‘points’, que jovens começam a frequentar e fechar ruas”. “Tais eventos são voláteis, tendo sua organização baseada em grupos de redes sociais e divulgação em massa por aplicativos.”

Matéria publicada no jornal O Estado de S. Paulo.

 

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