"É zoado." É assim que um professor resume a escola Adelaide Rosa Fernandes Machado de Souza, que teve o pior desempenho no ano passado entre as estaduais da capital paulista no Enem.
Ali, no distrito do Grajaú, na zona sul de São Paulo, onde 47% da população só estudou até o ensino fundamental, segundo a última pesquisa DNA Paulistano, é comum o uso de drogas entre os alunos e o índice de evasão é alto, dizem os professores.
"Aqui a gente trabalha mais como um administrador de conflitos. O problema social é maior que qualquer coisa", resume um professor que prefere não se identificar. "Você trabalha mais como pai que como professor", diz.
"Eu dou mais conselho que aula", concorda outro.
Leva-se quase duas horas para percorrer, de ônibus, os 29 km que separam a escola do centro da cidade –há ruas de chão batido no entorno.
Falta "de tudo", resumem professores e alunos. Um professor de história relata que ganha R$ 1.900 por mês e precisou gastar R$ 1.200 em uma impressora porque a escola não conseguia dar o mínimo, e diz que precisa levar papel higiênico de casa –o que é confirmado por um aluno.
"Tem estudantes bons, que você fica em cima e que conseguem entregar um resultado. E tem alunos que o seu papel como professor é tentar tirar do crime. Tem estudante que já me confessou que ganha R$ 1.300 por semana vendendo droga. E aí?", conta um dos professores.
Em novembro, um furto de fios e cabos deixou a escola sem energia elétrica por 15 dias e sem água por dois.
O entorno também é problemático. A loja de doces do comerciante Lauro Bel Rovere, 47, a um quarteirão da escola, fecha nos horários de menor movimento.
"Seguro, seguro, eu não me sinto. Aqui já foi bom, mas fica cada vez mais difícil. Já roubaram até a igreja", conta o comerciante, que trabalha ali há 12 anos.
"Não tem lazer, não tem diversão por aqui. O que o aluno faz? Vai para a droga", afirma um professor.
Presidente do grêmio estudantil, Felipe Santana, 17, diz que também "falta muito interesse por parte dos alunos". "Esse ano, uma professora organizou uma excursão para o Theatro Municipal. Quase todo mundo desistiu de ir", diz ele, que acaba de se formar no ensino médio e, com a nota do Enem deste ano, quer cursar publicidade numa universidade privada.
Só 6% dos alunos do 9º ano têm aprendizado considerado adequado em português e matemática, segundo a Prova Brasil 2015. A nota do Ideb de 2015 foi de 2,9 (numa escala que vai de 0 a 10).
O diretor da escola, Antônio Teixeira Neto, reconhece que faltava tinta para impressão, mas desde que assumiu a direção, em junho, diz ter resolvidos as pendências e que não falta papel higiênico.
A escola passará a ser integral a partir do ano que vem, o que deve melhorar os índices, diz. "Nós temos melhorado. No Idesp do ano passado, a escola avançou. Estamos mudando a equipe, estamos comprometidos a melhorar", afirma o diretor.
Matéria originalmente publicada no jornal Folha de S. Paulo