Entrega da primeira parte, entre a Trecho Oeste e a Rodovia Fernão Dias estava prevista para março, dois anos após o prazo inicial; obra completa, com 47 km, só deve ser concluída em dezembro
Fabio Leite e Adriana Ferraz, O Estado de S. Paulo
O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), admitiu nesta quarta-feira, 10, que a construção do Rodoanel Norte sofreu novo atraso e adiou a entrega do primeiro trecho da obra, que estava previsto para março, para o mês de julho. Já a abertura do segundo trecho dos 47 km que formam a última alça do aneal viário metropolitano foi prorrogada de agosto para dezembro deste ano.
Com o novo prazo, Alckmin não conseguirá inaugurar a principal obra viária de seu governo no exercício do mandato, já que terá de deixar o comando do Estado em abril caso seja confirmado como o candidato do PSDB à Presidência da República. A construção do Trecho Norte, que teve início em 2013, no governo anterior do tucano, havia sido prometida para março de 2016. Além do atraso, a construção ficará cerca de 30% mais cara do que o orçamento inicial, chegando a R$ 9,7 bilhões.
Em 2016, o governo tucano adiou em dois anos a entrega, que acabou posteriormente sendo dividida em duas etapas: o trecho entre a Avenida Raimundo Pereira de Magalhães (conexão com o Trecho Oeste) e a Rodovia Fernão Dias, em março deste ano, e trecho até a Rodovia Presidente Dutra (conexão com o Trecho Leste) e a ligação até o Aeroporto de Guarulhos, em agosto.
O novo atraso foi anunciado por Alckmin após o leilão no qual a EcoRodovias sagrou-se vencedora na disputa para assumir a gestão do Rodoanel Norte por 30 anos, com oferta de R$ 883 milhões. A concessionária terá de investir R$ 804 milhões no período de concessão e vai arrecadar dinheiro cobrando pedágio em cinco praças ao longo da rodovia. O valor previsto da tarifa é de R$ 3,30 para veículos com dois eixos, igual ao do trecho Sul do Rodoanel.
Alckmin atribuiu o novo atraso a problemas envolvendo três processos de desapropriação de terrenos nas cidades de Arujá e Guarulhos, na Grande São Paulo, e à falta de repasse de recursos para obra pelo governo federal. "Nós estamos tocando a obra praticamente sozinhos. Porque (o financiamento) é um terço federal, desde a época do governo Fernando Henrique (ex-presidente), e dois terços do Estado. Nós investimos R$ 1,5 bilhão do Estado no ano passado e o governo federal, que tinha R$ 620 milhões no orçamento, liberou R$ 154 milhões", disse o governador.
Segundo o secretário estadual de Logística e Transportes, Laurence Casagrande, desde o início da obra, em 2013, o governo federal repassou apenas 13% dos 33% que deveria financiar de toda a construção. A expectativa, segundo ele, é que esse dinheiro não chegue mais. "Este ano, eles (governo federal) estão prevendo apenas R$ 131 milhões. Ou seja, os recursos não vão chegar. O Estado tem adiantado dinheiro, mas tem seus limites, e por isso imprimiu um ritmo mais lento para não entrar em situação de incapacidade financeira", afirmou.
20 anos
Lançado em janeiro de 1998 pelo ex-governador Mário Covas (morto em 2001), o Rodoanel completará duas décadas de obras. Ao todo, o anel viário projetado para interligar as rodovias que chegam à capital paulista terá 177 km de extensão e será concluído no fim deste ao custo de R$ 26 bilhões, valor 163% maior do que o previsto por Covas para todo anel (R$ 9,9 bilhões, em valores corrigidos pela inflação). Na época, o ex-governador prometeu entregar todos os trechos em oito anos, ou seja, 2006.
Os R$ 26 bilhões do Rodoanel correspondem ao custo de 54 quilômetros de linhas de metrô, trem e monotrilho, que atenderiam 1,6 milhão de pessoas. O cálculo considera o total previsto para a Linha 6 e outras três linhas de transporte sobre trilhos atualmente contratadas pelo Estado na capital.
Com 47 quilômetros, a última alça do anel viário sintetiza a sucessão de atrasos e acréscimos de custos que marcaram a execução de todo o Rodoanel. Só os contratos com as empreiteiras, alvo de investigação do Ministério Público Federal (MPF) por suspeita de superfaturamento, tiveram reajustes de R$ 586 milhões, metade por causa da lentidão das obras civis, que vão custar R$ 4,5 bilhões. Já as desapropriações, apontadas pelo governo como o principal entrave para o avanço da obra por causa de disputas judiciais, custarão R$ 2,5 bilhões, mais do que o dobro do previsto. As desapropriações também são investigadas por supostos desvios.
Sucessivos aumentos fizeram com que o Trecho Norte se tornasse o mais caro entre as quatro alças do Rodoanel. Mas será o menos usado. Segundo a Agência de Transporte do Estado de São Paulo (Artesp), o trecho que vai conectar as rodovias Fernão Dias e Presidente Dutra, deve receber uma média de 20 mil veículos por dia, 20% do fluxo do trecho oeste (95,7 mil), inaugurado em 2002. Por todo o Rodoanel serão, em média, 192,2 mil por dia – só nos 47 quilômetros das Marginais Pinheiros e Tietê, o índice é de mais de um milhão de veículos.
Matéria publicada no jornal o Estado de S. Paulo.