Prefeitura propõe aumentar em até 68% o limite de construção para o comprador – de 1 milhão de metros quadrados para 1,68 milhão
Fabio Leite, O Estado de S.Paulo
Com o objetivo de atrair o interesse do setor privado e arrecadar mais dinheiro com a privatização, a gestão do prefeito João Doria (PSDB) pretende aumentar em até 68% o potencial construtivo do Complexo do Anhembi, na zona norte de São Paulo, e reduzir o valor da contrapartida que o futuro dono da área terá de pagar à Prefeitura para construir acima do limite mínimo permitido em relação aos índices previstos para os imóveis da região.
+++ Doria quer aprovar privatização do Anhembi na Câmara até fevereiro
Na prática, a minuta do projeto de lei, que foi apresentada em dezembro pela Secretaria Municipal de Urbanismo e Licenciamento e será debatida nesta quarta-feira, 10, em audiência pública, permitirá que o comprador do Anhembi construa, ao todo, 1,68 milhão de metros quadrados no local, quatro vezes a área total do terreno e o equivalente a 22 prédios Mirante do Vale, o edifício mais alto da capital, com 170 metros de altura e 51 andares.
+++ Câmara aprova privatização do Anhembi, mas venda depende de outro projeto
Hoje, o limite de construção permitido para o Anhembi é de 1 milhão de metros quadrados e foi definido pela Lei de Zoneamento sancionada em 2016 pelo ex-prefeito Fernando Haddad (PT). Mas o volume foi considerado baixo pelos vereadores que aprovaram o projeto de privatização do Anhembi em novembro. Eles incluíram no texto a exigência de que a Prefeitura enviasse novo projeto com novos parâmetros de construção para o local com o objetivo de valorizar o ativo.
+++ Por privatização do Anhembi, Fórmula E cancela corrida de São Paulo
A estimativa é de que o texto seja enviado em fevereiro e precisará de aval de dois terços dos vereadores. O projeto do Anhembi virou a grande prioridade do plano de desestatização de Doria, que chegou a anunciar a privatização para março deste ano. A venda será feita por meio do leilão da São Paulo Turismo (SPTuris), empresa que administra o local.
Hoje, o Complexo do Anhembi tem cerca de 400 mil m² de área total, divididos em dois grandes setores: sambódromo e Centro de Convenções e Exposições, com 300 mil m². A proposta de Doria quer permitir que quem compre o Anhembi construa 1 milhão de m² a mais no setor de convenções e 400 mil m² no setor sambódromo. Como a lei aprovada em novembro definiu que o espaço do samba paulistano terá de ser mantido, a gestão tucana quer permitir que esses 400 mil m² adicionais possam ser usados no setor vizinho, de convenções.
“O que estamos fazendo é apenas admitindo que não se vai mais edificar na área do sambódromo, uma vez que o projeto aprovado determina que ele seja mantido, e esse potencial pode ser transferido para o outro setor. O que nós queremos lá é um centro de convenções com atividades agregadas compatíveis”, disse a secretária municipal de Urbanismo e Licenciamento, Heloisa Proença.
Para isso, a gestão Doria propõe um estímulo financeiro ao comprador. Se ele mantiver as atividades de centro de convenções e exposições, poderá construir ainda 20% a mais no local, ou seja, mais 280 mil m², ou utilizar esse porcentual para pagar a outorga onerosa.
Essa contrapartida financeira, paga à Prefeitura para construir acima do limite mínimo (equivalente à área total do terreno), é calculada com base em uma tabela municipal com os valores de m² por região que são multiplicados por um índice (fator de planejamento) usado pela Prefeitura para tentar direcionar o adensamento da cidade.
Na região do Anhembi, que fica dentro do perímetro do Arco Tietê, o valor do metro quadrado é de R$ 967 e o fator de planejamento é de 1,3. Em seu projeto, Doria reduz o índice para 0,7, o que, na prática, diminui em 46% o preço do m² que será construído a mais pelo empreendedor. Segundo Heloísa, o valor de 1,3 havia sido uma trava fixada pela Prefeitura até que se definissem os parâmetros para a região. A redução proposta, diz ela, auxilia a viabilidade dos investimentos no local.
Campo de Marte
Mas há um entrave: o Campo de Marte. Isso porque uma resolução de 2015 da Aeronáutica limita a construção de prédios no raio de 4 quilômetros dos aeroportos a 45 metros, ou 15 andares acima do nível da pista.
Doria negocia com o governo federal a desativação da asa fixa do Campo de Marte, o que permitiria maior verticalização do entorno. A meta do prefeito é conseguir isso até 2020. Procurada, a Secretaria Nacional de Aviação disse que a desativação depende de uma alternativa ao aeroporto na região, que atenda à demanda da capital.
Pontos-chave
Projeto prevê construir mais 1,68 mi de m²
Proposta
Projeto de lei, em debate, permitirá construir 1,68 milhão de metros quadrados no Anhembi. A área equivale a 22 prédios Mirante do Vale, o mais alto da cidade.
Objetivo
A ideia da proposta da gestão João Doria (PSDB) é atrair o interesse do setor privado e aumentar a arrecadação com a privatização do espaço.
Entrave
Limites de construção no entorno do Campo de Marte podem ser um entrave ao projeto. Doria negocia com a União desativar a asa fixa do aeroporto.
Veja outro conteúdo do especial:
Pacaembu e Interlagos também dependem de planos urbanísticos
Matéria publicada no jornal O Estado de S. Paulo.
NOTÍCIAS RELACIONADAS
Governo Doria altera projeto de privatização do Anhembi para atender bancada evangélica
Doria prevê uso do Anhembi por até 60 dias por ano após privatização
Após ano de cortes, Doria aposta em privatizações para investir R$ 5,5 bi