A maioria da população se envergonha do Congresso, mas deputados e senadores não foram enfiados goela abaixo dos eleitores
Artigo de Ana Moser, Caio Magri e Oded Grajew – publicado na Folha de S. Paulo
Provavelmente você faz parte da gigantesca maioria da população brasileira que se envergonha do atual Congresso Nacional.
Não é para menos: nossos deputados federais e senadores deveriam legislar e fiscalizar o Executivo tendo como horizonte um Brasil justo, igualitário e democrático; uma sociedade pacífica, solidária e em aliança com a natureza; uma economia voltada para o atendimento das necessidades humanas e para a redução das desigualdades.
Deveriam colaborar para que tenhamos uma administração avessa à corrupção, políticas públicas visando elevar os níveis de vida e de participação da população mais marginalizada e discriminada.
No entanto, assistimos a um Congresso Nacional dominado por bancadas que defendem interesses contrários aos da maioria do povo brasileiro e que não representa essa maioria: os pobres, os negros, as mulheres, os jovens, os indígenas e as minorias discriminadas.
Para cada grande decisão os congressistas chantageiam o governo, legislam em causa própria e desviam para esse fim os recursos públicos dos quais depende o atendimento das necessidades sociais.
Na atual legislatura, 238 parlamentares respondem a algum procedimento investigatório no Supremo Tribunal Federal.
Como resultado, somos os campeões mundiais das desigualdades sociais: 5% da população se apropria de 95% da renda e 10% das pessoas possuem 74% da riqueza.
Outros dados aterradores: os 9% mais ricos se apropriam de 70% dos recursos públicos; temos a terceira maior população carcerária do mundo e a maior taxa de assassinatos; em nosso sistema tributário os pobres pagam proporcionalmente mais impostos que os ricos.
Em geral, nossos serviços públicos, como educação e saúde, são de péssima qualidade. Não é por acaso que as pessoas de maior renda pagam por serviços privados.
Diante deste quadro, um grupo de organizações, lideranças e militantes da sociedade civil resolveu lançar uma campanha para requalificar o Congresso Nacional.
Uma proposta totalmente apartidária que busca conscientizar a sociedade a respeito da importância do Congresso e do voto consciente para o futuro do país.
É fundamental que cada eleitor procure pesquisar o currículo e as ideias dos candidatos, procure saber como atuaram os políticos que buscam a reeleição, quem de fato honrou nosso voto ou quem nunca mais o merecerá novamente.
Vários movimentos criados nos últimos anos estimulam novas lideranças a disputar as próximas eleições legislativas. Os novos candidatos e os candidatos à reeleição comprometidos com a ética, a justiça social e a sustentabilidade precisam do apoio dos eleitores. Eles poderão formar o novo Congresso.
Nenhum dos atuais deputados federais foi enfiado goela abaixo de nenhum de nós. O Congresso é resultado de nossas escolhas.
Nas eleições deste ano nosso voto pode mudar praticamente tudo. Se é importante eleger para a Presidência da República alguém comprometido com a justiça social e a democracia, é fundamental eleger congressistas que também representem esses valores.
Sem um Congresso digno, o futuro presidente ficará à mercê das mesmas barganhas a que assistimos hoje. Pelo voto poderemos construir um novo Congresso.
Ana Moser, Caio Magri e Oded Grajew
ANA MOSER é presidente do Instituto Esporte & Educação e diretora da Atletas pelo Brasil
CAIO MAGRI é sociólogo e presidente do Instituto Ethos
ODED GRAJEW é presidente do Conselho Deliberativo da Oxfam Brasil e conselheiro da Rede Nossa São Paulo e Programa Cidades Sustentáveis
Artigo publicado na Folha de S. Paulo.
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