De acordo com participantes do encontro, o assédio e a violência contra as mulheres são ainda maiores do que mostram os números.
Por Airton Goes, da Rede Nossa São Paulo
O medo, a falta de conscientização e a estrutura inadequada do Estado fazem com que os resultados das pesquisas sobre assédio e violência contra as mulheres sejam inferiores aos da realidade. Essa é uma das conclusões do debate sobre a pesquisa “Viver em São Paulo: Mulher”, realizado nesta quinta-feira (8/3) – Dia Internacional da Mulher – no Sesc Parque Dom Pedro.
Promovido pela Rede Nossa São Paulo e Ibope Inteligência, em parceria com o Sesc São Paulo, o evento ocorreu logo após a apresentação dos resultados da pesquisa.
Os dados do levantamento revelam que 25% das mulheres paulistanas já sofreram assédio no transporte coletivo; 16% já foram assediadas no ambiente de trabalho; e 13% afirmam ter passado por abordagem desrespeitosa, ou seja, foram agarradas, beijadas ou outra situação sem o seu consentimento.
Além disso, uma em cada cinco – 19% delas – diz já ter sofrido algum tipo de preconceito ou discriminação no trabalho por ser mulher.
A pesquisa de percepção “Viver em São Paulo: Mulher” constata ainda que elas são, de longe, as principais responsáveis pelos cuidados dos filhos.
Para a arquiteta e urbanista, Joice Berth – uma das debatedoras –, o que mais chama a atenção na pesquisa é o grande percentual de mulheres que dizem não ter sofrido nenhum tipo de assédio, preconceito ou outro tipo de violência.
“O fato de 72% delas afirmarem não ter sofrido nenhum tipo de assédio no ambiente de trabalho é muito mais preocupante [do que o percentual de mulheres que responderam sim]”, exemplificou.
Na avaliação de Joice – que também é autora do blog Justificando –, os números mostram a necessidade de um grande trabalho de conscientização. “As mulheres precisam aprender a detectar o assédio e a violência, pois as construções sociais existentes naturalizam essas práticas”, argumentou.
Ela destacou a importância de se diferenciar os grupos pesquisados, pois o assédio às mulheres negras é diferente daquele que atinge as mulheres brancas.
Manô Miklos, doutora em relações internacionais e ativista feminista, constatou um paradoxo na pesquisa: embora percentuais significativos de mulheres afirmem já ter sofrido assédio no transporte coletivo (25%) e no ambiente de trabalho (16%) ou passado por outras situações desrespeitosas (13%), quase a totalidade delas declara que não precisou recorrer aos canais ou meios disponíveis para denunciar o problema. “Isso mostra que o Estado que temos atualmente não dá conta de nos atender”, considerou ela.
Ao avaliar os dados da pesquisa que mostram o medo das mulheres e a violência praticada contra elas, Giselle dos Anjos, do Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades – CEERT, denunciou: “A gente vive em uma sociedade patriarcal, onde historicamente as mulheres foram silenciadas e as práticas de violência foram naturalizadas”.
Segundo Giselle, “o 8 de março tem de ser visto como um dia de luta para os vários grupos de mulheres”.
Durante o debate, os participantes do evento puderam expor opiniões e questionamentos às debatedoras.
Apresentação da pesquisa
Na abertura do evento, o coordenador-geral da Rede Nossa São Paulo e do Programa Cidades Sustentáveis, Jorge Abrahão, explicou que o objetivo da pesquisa “é trazer um olhar sobre a mulher na cidade de São Paulo”.
Para ele, o medo fica muito evidente nos resultados do levantamento, e um dos desafios que se coloca é fazer com que as empresas tenham políticas de igualdade de gênero.
A apresentação da pesquisa “Viver em São Paulo: Mulheres” foi feita por Patrícia Pavanelli, diretora de contas do IBOPE Inteligência.
Segundo ela, “as mulheres vivem em uma situação de insegurança maior do que os homens”.
Confira aqui a apresentação da pesquisa.
Confira aqui a pesquisa completa.
Ao comentar os resultados do levantamento, a professora e pesquisadora da Unifesp, Esther Solano, considerou que os dados são instrumentos de luta para as mulheres conquistarem políticas públicas.
“Os registros, embora grandes, ainda são menores que a realidade”, ressaltou ela, lembrando que a violência contra a mulher acontece no âmbito público e no âmbito privado.
“O espaço público não poder ser um espaço de violência e de desigualdade. E o poder público tem a responsabilidade de evitar que isso ocorra”, defendeu Esther.
A atividade contou ainda com uma apresentação cultural do coletivo As Rutes.
Leia também: Análise dos resultados da pesquisa "Viver em São Paulo: Mulher"
Confira a repercussão na mídia:
25% das mulheres já sofreram assédio no transporte público (BAND)
25% das mulheres já sofreram assédio no transporte público (JORNAL O METRO)
Pesquisa diz que 27% das paulistanas têm medo de sofrer violência sexual (ISTOÉ DINHEIRO)
Pesquisa diz que 27% das paulistanas têm medo de sofrer violência sexual (BOL NOTÍCIAS)
Pesquisa diz que 27% das paulistanas têm medo de sofrer violência sexual (JORNAL O METRO)
27% das paulistanas têm medo de sofrer violência sexual (EXAME)
25% das mulheres já sofreram assédio no transporte público (JORNAL DESTAK)
Em SP, uma entre quatro mulheres sofre abuso sexual no transporte (JORNAL NACIONAL)
Uma em cada 4 mulheres de SP sofreu assédio no transporte público (EXAME)
1 em cada 4 mulheres de SP já sofreu assédio no transporte coletivo (GUIA UP)
Uma em cada 4 mulheres já sofreu assédio no transporte (GAZETA DE S. PAULO)
Uma em cada 4 mulheres já sofreu assédio no transporte coletivo (VEJA SÃO PAULO)
Uma em cada 4 mulheres de SP já sofreu assédio no transporte coletivo (JORNAL O METRO)
27% das paulistanas temem sofrer violência sexual (R7)
Burocracia fecha centro de apoio à mulher vítima de violência há 1 ano (R7 NOTÍCIAS)
1 em cada 4 mulheres de SP já sofreu assédio no transporte coletivo (ESTADÃO)
Duas em cada dez mulheres já sofreram preconceito no ambiente de trabalho em SP, diz pesquisa (G1)
Uma em cada 4 mulheres de SP já sofreu assédio no transporte coletivo (UOL NOTÍCIAS)
Uma em cada 4 mulheres de SP já sofreu assédio no transporte coletivo (JOVEM PAN)
Especial Mulheres: violência sexual é o maior medo delas (SPTV)
Ser mulher em São Paulo é viver com medo, mostra pesquisa (PORTAL APRENDIZ)
Pesquisa mostra que São Paulo é uma cidade que assusta as mulheres (EBC)