Programa Cidades Sustentáveis e Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente iniciam projeto inédito de desenvolvimento local em São Paulo.
Entre os dias 26 e 28/3, a equipe do Programa Cidades Sustentáveis (PCS) recebeu a visita da missão da UNEP/Paris (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente), representada por Sharon Gil, Mateo Ledesma e Esteban Munoz. Objetivo do encontro foi dar início ao projeto "Implementando a abordagem de vizinhança em São Paulo", que será realizado em parceria com o Instituto das Cidades, da Unifesp.
O projeto prevê o desenvolvimento de um plano físico e financeiro detalhado para criar um bairro sustentável em São Paulo. A região escolhida foi a do Jardim Helian, em Itaquera, na Zona Leste da capital. O trabalho terá início com a realização de consultas públicas com a população para entender a ideia de uma "vizinhança sustentável" e suas aspirações; planejamento e validação de um projeto de desenvolvimento do bairro de forma coletiva, envolvendo as lideranças, os especialistas da ONU e os pesquisadores; orçamento e possibilidades de financiamento junto a diferentes fontes, incluindo setor privado e doadores externos.
Com o objetivo de replicar a metodologia, o projeto também prevê a criação de materiais de apoio para que outras comunidades se apropriem e criem seus próprios planejamentos. Haverá um guia passo a passo que permitirá a replicação da coleta de dados em nível distrital e a subsequente abordagem de vizinhança em outras partes do Brasil e em todo o mundo. As atividades do projeto começam em abril e têm previsão de término em setembro deste ano.
Sharon Gil, oficial de programas da UNEP/Paris (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente), relatou suas primeiras impressões sobre a capital paulista e destacou a importância dessa iniciativa pioneira:
Quais suas impressões sobre a cidade de São Paulo e os programas e projetos que visitou? É sua primeira vez aqui?
Sim, é a minha primeira vez em São Paulo. Estou positivamente impressionada. Além da diversidade gastronômica (que é incrível!), há uma grande riqueza de culturas, características e desafios também. E é justamente por isso que estamos aqui. Para dar suporte aos parceiros e comunidades que estão trabalhando com urbanização sustentável. São Paulo é realmente um município globalizado e um laboratório rico para desenvolvermos as mais complexas experiências em cidades. A questão do transporte, por exemplo, é impressionante. As pessoas gastam horas do dia para se locomover, isso é insustentável. Mas acredito que a cidade está tentando enfrentar essas questões e nós estamos aqui para isso.
Como você classifica o trabalho desenvolvido pelo Programa Cidades Sustentáveis (PCS)? Qual a relevância de uma iniciativa como esta?
Sem dúvida alguma, o Programa Cidades Sustentáveis é uma iniciativa pioneira no mundo. Afirmo isso com total segurança. Por isso a UNEP está trabalhando com vocês. Nós queremos apoiar o trabalho que desenvolvem, mas também aprender muito com essa metodologia de envolvimento da sociedade civil, empresas e governos. Trata-se de uma iniciativa facilmente replicável em qualquer parte do mundo. Brasil é único e tem uma realidade tão complexa, país tão grande, que o torna laboratório mundial. Se algo é feito no Brasil, certamente é possível de ser feito em outras partes do mundo.
Quais suas expectativas a respeito do projeto “Implementando a abordagem de vizinhança em São Paulo”, que começa a ser desenvolvido no Jardim Helian, Zona Leste da capital?
Estamos trabalhando nesse projeto para demonstrar que é possível trabalhar a abordagem de vizinhança no nível das comunidades. Até o momento, a UNEP tinha seu foco no nível nacional e global. Mas as pesquisas que fazemos revelam que não estamos trabalhando rápido o suficiente. A infraestrutura que estamos construindo não é suficiente para o futuro da população urbana, para promover a sustentabilidade. Precisamos de novas soluções e esperamos consegui-las a partir do trabalho “bottom-up”, ou seja, do local para o global. E esse é exatamente o propósito desse projeto. Na gestão municipal, cada profissional atual em um ramo específico da vida pública – transporte, saúde, água, habitação etc. Nas comunidades, as lideranças têm uma visão integrada, transversal, o que é extremamente rico para todos nós. Nosso desafio é saber como isso pode funcionar em todo o mundo e de uma só vez. E como fazer esse processo rápido, como podemos absorver esse processo de trabalho integrado que vem das comunidades. Eu acredito que as cidades são um reflexo do que nós pensamos. E o segredo para mudar o jeito que as pessoas pensam é trabalhar com as pessoas, fazer com que elas de fato queiram interferir nos processos e percebam possibilidades de interferências. E esse é o objetivo desse projeto. E é o que o PCS vem fazendo ao oferecer à sociedade uma plataforma rica de indicadores que possibilitam o diagnóstico da realidade e as possibilidades de transformação a partir do controle social.
Você acredita que é possível replicar esse projeto em outras cidades no Brasil e até no mundo? Isso está nos planos de vocês?
Absolutamente. Nós estamos ansiosos para multiplicar essa iniciativa. Eu espero sinceramente que os governos, especialmente os locais, percebam o valor dessa experiência. Isso é especialmente interessante em cidades grandes como São Paulo, já que os governos centralizados não conseguem absorver toda a demanda local. Justamente por isso é tão fundamental ouvir a população e, mais do que tudo, trabalhar em parceria.