Participantes de evento da campanha “Um novo Congresso” alertam que, embora a eleição para presidente receba mais atenção, o poder de fato está no Congresso e sua qualidade é essencial
Por Airton Goes, da Rede Nossa São Paulo
“Toda campanha eleitoral no Brasil se faz em torno do presidente da República, porém quem manda mesmo é o Legislativo”, assim o arquiteto e ex-vereador da cidade de São Paulo, Chico Whitaker, resumiu a importância do voto para deputados e senadores.
A afirmação de Whitaker foi feita durante evento da campanha “Um novo Congresso é necessário. É possível. E vai ser pelo voto!”, realizado nesta quarta-feira (25/4) na capital paulista.
Segundo o ex-vereador paulistano, o presidente da República não pode mexer “uma palha” sem a concordância do Congresso Nacional. Para exemplificar a importância do Legislativo, ele citou o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff e as leis que reduzem direitos dos trabalhadores aprovadas recentemente por deputados e senadores.
“O poder está no Congresso e a sua qualidade é essencial, não só do ponto de vista ético, mas também de representatividade” argumentou. Na opinião do integrante da campanha, o grande problema é que o Congresso não representa o conjunto da sociedade brasileira. “Quantos negros têm lá? Quantas mulheres? Quantos jovens?”, questionou ele.
Whitaker avaliou que o país está dividido, com o ódio se instalando, e vivencia um momento complicadíssimo. “Estão descontruindo a democracia e os direitos sociais em nosso país, por meio de leis aprovadas pela maioria do Congresso. E a gente tem que reagir”, convocou.
Diante deste cenário, ele alerta ao eleitor para que preste muita atenção e discuta com familiares, amigos, vizinhos e demais integrantes da comunidade em quem votar para deputado e senador nas eleições de outubro deste ano. “Nossa campanha pretende acordar o máximo possível de pessoas para essas questões e para a importância do voto no Legislativo”, explicou.
Tabata Amaral, integrante do Movimento Acredito e comentarista da Rádio CBN, reforçou a urgência de se renovar o Congresso Nacional, ressaltando que a renovação não é apenas eleger um nome novo. “Precisamos de um Congresso que tenha a cara do Brasil”, defendeu ela, referindo-se à necessidade de os deputados e senadores representarem os diversos segmentos da sociedade brasileira.
De acordo com Tabata, o Congresso renovado que se busca deve adotar novos princípios e práticas, além de focar em uma prioridade: “superar nossas profundas desigualdades”.
Outra palestrante que abordou a necessidade de o Congresso Nacional refletir os valores e anseios dos diversos segmentos sociais foi Sheila de Carvalho, advogada e integrante do Movimento Nós. “Estamos vendo um sistema político que não nos representa” afirmou ela, antes de concluir: “A gente não consegue se enxergar nas instituições”.
Defensora dos direitos humanos, Sheila diz que o voto nos deputados e senadores vale muito. “As pessoas ficam muito focadas no Executivo, enquanto temos visto tantas reformas e mudanças [negativas para a população] aprovadas pelo Legislativo”, alertou.
Para Carina Vitral, ex-presidente da União Nacional dos Estudantes – UNE e integrante do Movimento Ocupa o Poder, a democracia brasileira está sob ataque. Por isso, o maior mérito da campanha “Um novo Congresso” é revalorizar a política. “Só pela política é que vamos sair dessa situação de crise em que vivemos”, argumentou.
O principal público alvo da campanha, em sua avaliação, deve ser a juventude. “Não basta os jovens se manifestarem nas ruas, é preciso disputar e ocupar o poder”, explicou ela, ao lembrar que, após as manifestações de junho de 2013, foi eleito o Congresso mais conservador e reacionário que o Brasil já teve.
Durante o evento, ocorrido na Paróquia São Domingos, em Perdizes, os participantes puderam apresentar propostas para ampliar a campanha “Um novo Congresso”.
Nesse sentido, Oded Grajew, conselheiro da Rede Nossa São Paulo e do Programa Cidades Sustentáveis, sugeriu que as organizações da sociedade civil colaborassem entre si, para fazer a campanha avançar.
O ex-vereador paulistano Ricardo Young propôs que os movimentos se unam para forçar os partidos políticos a garantir espaço para os novos candidatos e trabalhar para o financiamento coletivo de campanha.
Coordenado por Américo Sampaio, gestor de projetos da Rede Nossa São Paulo, o evento contou com a participação de dezenas de organizações e cidadãos envolvidos com o tema.