Levantamento integra a séria “Viver em São Paulo”, que foi iniciada este ano e mensalmente tem divulgado dados sobre a percepção dos paulistanos em relação a temas importantes que afetam a vida na capital paulista.
Por Américo Sampaio, gestor de projetos da Rede Nossa São Paulo
Praças e Parques
Quase metade dos entrevistados pela pesquisa “A cidade e o meio ambiente” avalia negativamente a preservação/manutenção de praças e parques da cidade: 25% dizem que essa atividade de zeladoria é “ruim” e 23% a classificam como “péssima”. Isso significa que, na prática, 5 em cada 10 paulistanos consideram que Prefeitura de São Paulo não faz um bom trabalho de manutenção desses espaços públicos. O levantamento aponta que 41% – 4 em cada 10 paulistanos – a definem como “regular”. E somente 1 em cada 10 entrevistados a avalia positivamente, sendo 8% como “boa” e 3% de “ótima”.
Quando analisamos regionalmente esse item da pesquisa, podemos observar que a zona oeste, área nobre de São Paulo, é mais crítica do que o restante da cidade. Nessa região, sobe para 52% a parcela da população que avalia como ruim ou péssima a preservação de praças e parques. Na outra ponta, a zona sul é a que tem o percentual mais alto de avaliação positiva: 13% dos entrevistados consideram as condições desses espaços ótimas ou boas.
Chama a atenção o fato de ser justamente a região oeste a que é melhor abastecida de praças e parques na cidade. Quanto maior a renda e a escolaridade dos entrevistados, maior é o grau de criticidade com relação a essa temática. Sendo a região oeste a que concentra a população mais rica e escolarizada da cidade, é compreensível que a avaliação mais crítica com relação à manutenção de praças e de parques se dê nela. Esse dado revela que a cidade tem diferentes percepções sobre o padrão de qualidade das praças e dos parques, e que a população mais privilegiada é mais crítica com relação a este item.
Reciclagem
Pouco mais da metade dos paulistanos afirmam que separa os materiais recicláveis dos não recicláveis em casa, no entanto, 4 em cada 10 paulistanos não têm este hábito. Dado o estágio do debate na sociedade com relação às pautas ambientais, em especial o debate acerca do descarte correto do lixo, é bastante crítico encontrar dados que revelam que apenas 6 em cada 10 paulistanos estão separando o lixo corretamente em suas casas. Sobre esse item da pesquisa, cabe destacar que os hábitos dos paulistanos são simétricos quando em relação aos hábitos dos brasileiros em geral, pois no país 39% da população não separa o material orgânico do reciclável no seu dia-a-dia. Mais preocupante ainda é o fato de a pesquisa revelar que a parcela da população paulistana que separa o lixo em casa cresce conforme o paulistano é mais velho, mais instruído e mais rico.
Esse dado da pesquisa revela que a sociedade paulistana tem um déficit comportamental com relação à degradação ambiental, e que o acesso à informação de qualidade e estímulos à reciclagem ainda é bastante baixo. Numa cidade em que todos os dias são produzidos cerca de 20 mil toneladas de resíduos, dá para se ter uma dimensão dos impactos ambientais causados por ela reciclar muito pouco, ainda mais sabendo que cerca de 60% do lixo é resíduo domiciliar. Em resumo, podemos concluir que a separação de lixo na casa do paulistano é um hábito cultuado por apenas metade da população, o que é bastante preocupante.
Quando analisamos esse dado regionalmente, observamos que a região oeste e centro – áreas mais nobres da cidade – são as que mais separam o lixo orgânico do reciclável. A média da cidade da população que separa o lixo é de 57%, mas na região oeste essa taxa sobe para 75% e na região central 65%. Reforçando o que já foi mencionado anteriormente.
Coleta de material reciclável
Sobre o descarte de material reciclável na cidade, a pesquisa aponta que apenas 38% dos paulistanos que separam lixo em casa (57%) tem o material reciclável coletado pelo serviço da Prefeitura, ou seja, o serviço de coleta de recicláveis da Prefeitura abrange apenas 4 em cada 10 paulistanos que fazem separação do lixo em casa, o que representa cerca de 25% do total dos paulistanos, o que é uma taxa de abrangência extremamente pequena. Outros 28% dos entrevistados que fazem a separação em casa afirmam que a coleta de recicláveis se dá por catadores. E outros 15% desse mesmo grupo de pessoas responderam que levam os materiais recicláveis até um ponto de coleta e reciclagem. Isso revela dois destaques importantes, em primeiro lugar que o serviço de coleta de materiais recicláveis da Prefeitura é muito pouco abrangente. E em segundo lugar, que o trabalho desenvolvido por catadores na cidade é extremamente relevante no que diz respeito à coleta de recicláveis, pois o trabalho desenvolvido por estes profissionais alcança quase o mesmo percentual do serviço desenvolvido pela Prefeitura.
Quando analisamos esses dados regionalmente, destaca-se o fato de as regiões mais nobres serem as que tem proporcionalmente a maior cobertura de coleta de materiais reciclados pela Prefeitura. As regiões centro e oeste chegam a 43% e 41% de coleta pelo poder público, respectivamente. A região sul também merece destaque nesse sentido, chegando a 47% de coleta de recicláveis pela Prefeitura. Fenômeno inverso acontece com os catadores de rua, eles são preponderantes nas regiões leste e norte, com 40% e 35%, respectivamente. Tudo isso mostra que os catadores são mais significativos nas áreas em que a Prefeitura é mais deficitária. E, além disso, esse dado reforça que o comportamento mais favorável do paulistano com relação ao meio ambiente e também a atuação da Prefeitura nessa temática se concentram nas áreas mais nobres e centrais da cidade, reforçando os dados já mencionados acima.
Combate à poluição
Com relação ao tema do combate à poluição na cidade, a pesquisa revela que medidas que limitem a circulação de veículos em São Paulo tem amplo apoio da opinião pública. Pouco mais de 3/4 dos paulistanos são favoráveis à adoção de medidas que limitam a circulação de veículos para diminuir a poluição na cidade, chegando a 76% dos entrevistados. Apenas 2 em cada 10 paulistanos são contra esse tipo de medida. Cabe ressaltar nesse item que cerca de 60% dos paulistanos afirmam já terem sofrido problemas de saúde por conta da poluição do ar da cidade.
Dentro do grupo de pessoas favoráveis à limitação da circulação de veículos na cidade, a medida mais aceita pela população é a volta da inspeção veicular ambiental. Para 30% dos paulistanos essa seria a melhor medida para melhorar a qualidade do ar em São Paulo. Em segundo lugar, a população aposta na alternativa de limitar a circulação de veículos em algumas ruas e avenidas do centro expandido da cidade, com 21% de apoio. E em terceiro lugar, quase empatados, a ampliação do horário de duração e o aumento dos dias de rodízio na cidade, com 16% e 13%, respectivamente. Chama a atenção esse item da pesquisa o fato de ampla maioria ser favorável a medidas que limitem a circulação de veículos na cidade, e que a principal medida que a população acredita ter impacto ser a volta da inspeção veicular. À época em que a inspeção estava funcionando na cidade, ela era alvo de muitas críticas por parte da população, mas dado o fato de essa ser a principal aposta dos paulistanos, podemos concluir que por mais que uma parcela minoritária da população não goste da ideia, majoritariamente os paulistanos encontram nessa proposta a melhor saída para reduzir a poluição em São Paulo, talvez pelo fato de não querem ampliar os dias ou horários de rodízio, por exemplo, que teve apoio de apenas 16% e 13% dos entrevistados. Ou seja, o paulistano entende que a poluição é um problema grave em São Paulo, e que medidas que limitem a circulação de veículos na cidade precisam ser adotadas, no entanto, o paulistano não quer deixar de andar de carro para isso – aumentando a incidência do rodízio, por exemplo –, mas sim passando por inspeção veicular. Destaca-se também o fato de o pedágio urbano ser a medida com menos apoio dos paulistanos, com apenas 4%.
Quando analisamos esses dados regionalmente, observamos que as regiões norte e oeste são as que mais apoiam a ideia da volta da inspeção veicular, com 36% e 34%, respectivamente. E que a região sul é a que mais apoia limitar a circulação de veículos no centro expandido da cidade, com 27%. Mas, ainda, cabe destacar também que a região central é a que mais apoia a ideia de aumentar o número de dias do rodízio de carros para dois ou mais dias, com 18% de apoio – talvez pelo fato de quem mora na região central se deslocar menos de carro, e por isso não ver impacto no seu dia-a-dia se o rodízio fosse ampliado na capital paulista.
Consumo consciente
Sobre o consumo consciente na cidade de São Paulo, a pesquisa revela que quase 5 em cada 10 paulistanos afirmam que com certeza deixariam de consumir produtos que geram prejuízos ambientais e sociais, 46% dos entrevistados deixaria de consumir produtos que geram prejuízos ambientais e sociais com certeza, 40% talvez deixaria de consumi-los e 12% não deixaria de consumi-los.
Quando analisamos esses dados regionalmente, observamos que a região norte da cidade é e que tem mais dúvidas com relação a deixar de consumir produtos com prejuízos à sociedade e ao meio ambiente (48% responderam que talvez deixariam de consumir esses produtos), e a região leste é a que mais se posiciona contrário a abandonar o consumo desses produtos (19% afirmam que não deixariam de consumi-los).
Aprendizados
• A manutenção de parques e praças é percebida de maneira negativa por quase metade da população, com maior criticidade entre os moradores da região Oeste;
• Embora 4 em cada 10 paulistanos não separem os resíduos recicláveis, aqueles que se dispõem a separar tais materiais estão mais propensos a alterar seus hábitos de consumo de acordo com o impacto socioambiental;
• Os catadores de materiais recicláveis configuram uma importante atividade complementar ao serviço prestado pela Prefeitura, suprindo a demanda de descarte de pouco mais de ¼ dos paulistanos que fazem separação dos materiais recicláveis, com destaque nas regiões Norte e Leste;
• A preocupação com a poluição em São Paulo parece motivar o paulistano a apoiar a aplicação de medidas de controle de circulação dos veículos na cidade, com destaque para a volta da inspeção veicular ambiental;
• Em geral, os entrevistados mais velhos, os mais escolarizados e os mais ricos têm opiniões mais contundentes sobre o tema ambiental.
Conclusões
• O paulistano apresenta baixa adesão a comportamentos mais benéficos ao meio ambiente, como se ele tivesse certa resistência à mudança de hábitos individuais em prol do meio ambiente. Apenas metade da população paulistana aparenta ser sensível aos temas ambientais;
• Há uma baixa capacidade da Prefeitura em estimular novos hábitos da população para reduzir os impactos ambientais, e, igualmente, baixa capacidade para ampliar a abrangência das políticas ambientais, ainda muito centradas nas áreas nobres da cidade;
• A cidade de São Paulo precisa rever as políticas de manutenção e preservação de praças, parques e áreas verdes, para melhorar a qualidade desses equipamentos para a população;
• A Prefeitura poderia se empenhar mais nas políticas de coleta seletiva residencial e ampliar a abrangência desse serviço para outras áreas da cidade, em especial nas periferias;
• Os poderes públicos municipais têm avançado muito pouco em promover políticas de estímulo ao consumo consciente. Ainda é baixo o número de pessoas que mudariam seus hábitos de consumo para gerar melhorias sociais e ambientais;
• A pesquisa revela uma oportunidade importante, que é a de fortalecer as políticas de valorização dos catadores;
• A Prefeitura também tem uma oportunidade quanto a ampliação do serviço de coleta de recicláveis e promoção de um ciclo de economia verde fortalecendo essa dinâmica, inclusive ampliando a arrecadação do município com o uso de recicláveis;
• O apoio da população paulistana com relação a medidas que restringem a circulação de veículos para a melhoria da qualidade do ar é grande, dessa forma, a Prefeitura poderia ser mais ambiciosa com relação a este tipo de medida, limitando a circulação de veículos para reduzir a poluição na cidade.
Caminhos
• Rever as políticas de manutenção de praças, parques e áreas verdes, buscando ampliar a participação da sociedade civil, reforçar a atuação das Prefeituras Regionais e melhorar as condições desses equipamentos;
• Ampliar a rede de coleta seletiva na cidade, estimular campanhas de reciclagem e separação do lixo para a população e promover políticas de valorização e profissionalização dos catadores;
• Desenvolver políticas de combate à poluição, especialmente aquelas que limitam a circulação de veículos na cidade;
• Desenvolver campanhas de consumo consciente e promover debates, encontros e mobilização da opinião pública sobre essa temática.
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