Debate contou com a presença de Aline Cardoso, secretária municipal de Trabalho e Empreendedorismo, e Clemente Vanz Lúcio, diretor técnico do Dieese
Por Natalia Mendes, da Rede Nossa São Paulo
Foi lançada hoje a pesquisa Viver em São Paulo: Trabalho e Renda, realizada pela Rede Nossa São Paulo em parceria com o Ibope Inteligência, no Sesc Santo Amaro. Durante a abertura do evento, Jorge Abrahão, da Rede Nossa São Paulo, ressaltou a importância dos dados da pesquisa no encaminhamento de políticas públicas.
Os resultados foram apresentados por Patrícia Pavanelli, do Ibope Inteligência, que destacou que 43% das pessoas que participaram da pesquisa declararam que alimentação é o item que mais impacta no orçamento doméstico. Entre os(as) desempregados(as), esse número é ainda maior: 49% declararam gastar mais com alimentação.
Patrícia também ressaltou a situação das mulheres no mercado de trabalho: 47% das pessoas entrevistadas afirmaram que as mulheres têm menos oportunidades de emprego do que os homens – esse índice é maior entre as próprias mulheres, chegando a 60%. Para Patrícia, isso indica que elas “têm reconhecido mais a própria situação”.
Outro ponto evidenciado foi o da região Norte ser a única que teve aumento na percepção de diminuição da renda em relação ao levantamento anterior, com uma diferença de 7%. Aline Cardoso, secretária municipal de Trabalho e Empreendedorismo, afirmou ser um ponto positivo não ter aumento na percepção de que a renda caiu, considerando o cenário de crise atual.
A secretária também falou sobre a necessidade de um esforço maior para elaboração de políticas públicas para recolocar quem está fora do mercado de trabalho há mais tempo – a pesquisa aponta que 3 em cada 10 pessoas desempregadas estão desocupadas há mais de dois anos – e fez um chamado “para a sociedade trabalhar junto com a Prefeitura, dar as mãos”. Para ela, a política de geração de renda tem que olhar para as regiões com menos oferta de emprego.
Aline também enfatizou a importância da qualificação para o mercado de trabalho. Afirmou que a Prefeitura tem recursos, mas que precisa usar melhor para garantir que jovens e pessoas que estão desempregadas estejam preparadas para as oportunidades que aparecerão.
Clemente Ganz Lúcio, diretor técnico do Dieese, afirmou que “olhar para a frente é olhar para um mundo do trabalho que precisa ser reorganizado”. Para ele, o “trabalho do futuro precisa ser regulado desde já”, e é necessário pensar em tecnologias que gerem mais emprego, não desemprego. “Essa lógica neoliberal de que o mercado resolve tudo, o que o mercado vai resolver é gerar tecnologia para substituir trabalho e gerar uma massa de desempregados, subocupados e precarizados. Deixar para o mercado a decisão sobre inovação tecnológica e emprego, é deixar o mercado decidir pelo desemprego. Se nós queremos alterar isso, temos que defender a inovação tecnológica com o objetivo de gerar emprego. São escolhas políticas fundamentais”, defendeu.
Clemente também falou sobre a importância de um novo modelo de trabalho, que seja possível trabalhar por mais anos, mas com mais qualidade. “Quem nasce hoje, ao chegar nos 60 anos, vai, provavelmente, ter uma expectativa de vida entre 90 e 100 anos. Imagina que a gente vai viver 90 anos, trabalhar do ponto de vista produtivo 40 anos. Estamos falando de 50 anos de vida não produtiva”, explicou. Dessa forma, segundo Clemente, “a sociedade não ‘para em pé’ e é economicamente inviável”, o que evidenciaria essa necessidade de se pensar um novo modelo de trabalho, considerando que “não é possível que uma pessoa que passa mais de 1h30 para ir e 1h30 para voltar do trabalho seja feliz e produtiva”, por exemplo. A pesquisa “Trabalho e Renda” mostrou que paulistanos e paulistanas gastam, em média, 1h43 no descolamento entre casa e trabalho. “Se eu trabalhar 4 horas por dia, talvez eu organize minha vida hoje de um outro jeito. Talvez atividades produtivas não sejam só aquelas com resultado econômico que a gente mensura”.
Para ele, São Paulo é um “microcosmos do macro”, o que significa que, além da cidade sofrer “as consequências de todas as políticas”, ainda tem um papel importante no impacto de políticas do país. “Dados de São Paulo mostram que experiências bem-sucedidas em uma cidade com essa magnitude viram referências para políticas nacionais”, afirmou. Em consonância com essa ideia, Aline afirmou que ter uma “visão de estado e não de gestão é muito importante”. Assim, o impacto seria de longo prazo, mas com resultados mais sustentáveis.
Saiba mais:
Apresentação da pesquisa Viver em São Paulo: Trabalho e Renda
Pesquisa completa Viver em São Paulo: Trabalho e Renda
Análise da pesquisa Viver em São Paulo: Trabalho e Renda
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