Os indicadores de taxas de emprego formal, renda média familiar e famílias em extrema pobreza são relacionados aos dados aos impactos do coronavírus em cada distrito da cidade, em edição extraordinária do Mapa da Desigualdade de São Paulo
Em mais uma análise que ajuda a compreender a relação entre a disseminação da Covid-19 e as desigualdades sócio-territoriais na capital paulista, a Rede Nossa São Paulo apresenta dados que indicam o endereço como fator de risco na pandemia.
Os mapas resultam do cruzamento dos dados, por distrito, do Mapa da Desigualdade 2019, da taxa de emprego formal, por mil habitantes participantes da PIA (população em idade ativa); da renda média familiar em 2017, da Pesquisa OD 2017; e famílias em extrema pobreza, da Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social – SMADS e Base CadÚnico, 2018, com o número de óbitos por Covid-19, divulgados pela Prefeitura Municipal e o Ministério da Saúde. O objetivo é identificar se os piores indicadores de trabalho, renda e de maiores vulnerabilidades sociais são também os distritos que apresentam os maiores números de falecimentos pela doença.
Taxa de emprego formal
Na Barra Funda há 5.920 postos de trabalho para cada mil habitantes, enquanto que em Cidades Tiradentes há 24 postos de trabalho para cada mil habitantes. Isso significa que quase toda a população do distrito precisa se deslocar para ter acesso a empregos formais, o que deixa as pessoas mais expostas à covid-19.
Cidade Tiradentes registra 223 mortes pelo vírus — isso significa 10,61 vezes mais óbitos que Barra Funda, onde há 21 falecimentos divulgados até agora.
Nos de Tremembé, 44 e Iguatemi, 54; com 246 e 159 mortes pela pandemia, respectivamente. Enquanto isso, ao lado de Barra Funda, há Bom Retiro, com 2.270 postos; e Sé, com 4.640. Nesses lugares, há 42, 27.
Anhanguera e Itaim Bibi são casos excepcionais. Com apenas 40 postos de trabalho por mil habitantes, Anhanguera tem também um baixo número de mortes por covid-19, tendo registrados 41 mortes. Itaim Bibi, com 3.460 postos, possui 103 mortes. Essa distribuição é influenciada pela densidade demográfica destes distritos, pois, enquanto Anhanguera concentra menos habitantes por quilômetro quadrado, Itaim Bibi concentra número maior, influenciando na disseminação da doença.
Renda Familiar
Os distritos com menor renda média familiar mensal têm 2,7 vezes mais óbitos por covid-19 do que os distritos que concentram mais renda.
Em Jardim São Luís, a renda familiar mensal é, em média, de R$ 983, onde há o registro 256 mortes; em Raposo Tavares, a renda é de R$ 1.519 por família, e foram registradas 105 mortes; em Jaraguá a renda é de R$ 1.702, com 162 mortes registradas; e Artur Alvim tem a renda de R$ 1.832 por família, onde há 161 mortes.
A receita por família nesses lugares equivale a 16,8% da renda média dos distritos mais ricos: Alto de Pinheiros com R$ 9.344 e 48 mortes; Morumbi, com R$ 9.091 e 42 mortes; Perdizes, com R$ 8.756 e 103 mortes registradas; e Consolação, com R$ 8.755 e apenas 60 mortes por covid-19.
Quanto menor a renda das famílias, menor são as possibilidades de acesso a tratamentos para casos de maior gravidade da doença, tendo em vista a superlotação do sistema público de saúde, assim como a desigualdade estrutural de acesso à saúde para as regiões mais vulneráveis socioeconomicamente.
Famílias em extrema pobreza
Em Grajaú, há 34.430 famílias em situação de extrema pobreza e o registro de 302 óbitos por covid-19; em Jardim Ângela, são 26.857 famílias, com 282 mortes; em Cidade Ademar são 21.577 famílias e 262 mortes; e Jardim São Luís são 20.771 e 256 mortes pela pandemia registradas. Esses distritos concentram 202,8 vezes mais famílias com até um quarto de salário mínimo.
Em contraponto, o distrito de Alto de Pinheiros há apenas 102 famílias em situação de extrema pobreza e 48 mortes registradas; em Jardim Paulista há 124 famílias e 76 mortes; em Moema há 125 famílias e 76 mortes; e Barra Funda, 160 famílias e 21 mortes pela doença.
A Covid-19 é mais letal aos extremamente pobres e mais vulneráveis, já que os distritos que concentram o maior número de famílias em condição de extrema pobreza, com até um quarto de salário mínimo, também concentram os maiores números de óbitos pela doença.