Pesquisa sobre relações raciais em São Paulo revela, também, que 85% concorda que o racismo prejudica o desenvolvimento da cidade
A edição de 2020 da pesquisa “Viver em São Paulo: Relações Raciais” traz dados sobre a percepção da população paulistana em relação ao racismo e à discriminação contra a população negra na cidade. O levantamento é realizado pela Rede Nossa São Paulo em parceria com o Ibope Inteligência.
Quais medidas ajudam a combater o racismo na cidade, a percepção acerca do impacto dos protestos ocorridos em diferentes lugares do mundo e qual o papel das pessoas brancas no combate ao racismo são algumas das questões abordadas na pesquisa.
Confira alguns destaques.
Discriminação
A percepção de que a discriminação contra a população negra aumentou na cidade nos últimos dez anos aumentou, chegando a 83%. Para 34% das pessoas entrevistadas a discriminação se manteve e para 14% diminuiu.
Em sete dos oito locais avaliados prevalece a percepção de que há diferença no tratamento de pessoas negras e pessoas brancas e em todos eles houve crescimento em relação a 2019.
- Shoppings e comércio: 81% (12% a mais do que 2019)
- Ruas e espaços públicos:75% (11% a mais do que em 2019)
- Escola/ faculdade: 77% (15% a mais do que em 2019)
- Trabalho: 74% (14% a mais do que em 2019)
- Transporte público: 70% (13% a mais do que em 2019)
- Hospitais e postos de saúde: 65% (13% a mais do que em 2019)
- Local onde mora: 57% (21% a mais do que em 2019)
- Ambiente familiar: 37% (15% a mais do que em 2019)
Ademais, 74% das pessoas entrevistadas acreditam que as pessoas menos oportunidade do que as pessoas brancas no mercado de trabalho. Já 21% acreditam que têm as mesmas oportunidades.
Para 82% das paulistanas e paulistanos, declarações com conteúdo racista ou preconceituoso feitas por políticos estimulam o racismo ou o preconceito. Porém, 13% acreditam que não estimulam.
Combate ao racismo
Segundo as pessoas entrevistadas, aumento da punição por injúria racial e racismo e punições mais severas para policiais são as medidas que mais contribuem para o combate ao racismo na cidade de São Paulo, sendo citadas por 48% e 41% respectivamente.
Já 33% acreditam que debater o tema em escolas e incluir no currículo escolar é a melhor medida; 22% mencionam ser uma maior conscientização nas contratações e promoção de pessoas negras nos diversos setores; 20% ação das empresas para combater racismo entre funcionários e clientes; 18% eliminar as cotas raciais nas universidade e em outras instituições; 14% marcas e empresas se posicionarem em campanhas sobre o racismo 14%; 13% ampliar as cotas raciais nas universidades públicas 13%; e 11% cotas raciais em cargos de poder de decisão 11%.
Considerando alguns casos recentes de injúria racial contra entregadores(as) vinculados a grandes empresas de entrega por aplicativo, 90% da população paulistana afirma que as empresas devem se envolver para prevenir e assegura um ambiente antirracista. Apenas 6% acreditam que as empresas não devem se envolver.
Para mais da metade dos moradores de São Paulo (54%), os protestos ocorridos em várias cidades do mundo pedindo o fim da violência policial contra a população negra provocaram maior conscientização sobre o racismo, inclusive no Brasil. Enquanto 20% entendem que os protestos foram importantes naquele momento, mas era uma questão pontual que já foi resolvida; e outros 20% que os protestos foram exagerados, pois a violência policial atinge brancos e negros da mesma forma.
Em relação ao papel das pessoas brancas no combate ao racismo, se informar mais e se educar sobre o assunto é a ação mais citada, com 47% das menções. Se reconhecer como parte do problema, identificando ações racistas nas pequenas atitudes como gírias, piadas, etc é apontada por 41% das pessoas entrevistadas; enquanto intervir em situações de tratamento diferente entre pessoas negras e brancas é mencionada por 38%; reconhecer os próprios privilégios (e o racismo estrutural) por 28%; participar de protestos (físicos ou online) em apoio às reivindicações das pessoas negras por 27%; e votar em pessoas negras nas eleições por 16%.
Racismo na cidade
A grande maioria das pessoas entrevistadas (85%) concorda que o racismo prejudica o desenvolvimento da cidade de São Paulo; 84% concordam que a violência policial afeta principalmente as pessoas negras; 83% concordam que as mobilizações internacionais antirracismo foram importantes para combater o preconceito.
Ainda, 80% concordam que aumentar a representatividade das pessoas negras na política e nos cargos de poder contribui para diminuir as desigualdades estruturais; e 77% que os partidos devem dedicar fundos de forma proporcional às campanhas de candidatas(os) brancas(os) e negras(os) 77%.
Para 75% da população paulistana, o racismo é um problema central na cidade e deve ser enfrentado com políticas públicas específicas e, para 43%, já temos ferramentas suficientes para combater o racismo.
Indicador de percepção de racismo em São Paulo
O objetivo do indicador de percepção de racismo em São Paulo é entender qual o grau de percepção de racismo entre a população paulistana, por meio da questão sobre a existência de diferença de tratamento entre brancos e negros no atendimento e acesso a locais e serviços da cidade. As respostas definem se as pessoas entrevistadas têm alta ou baixa percepção do racismo na cidade.
Cálculo do indicador: Cada resposta para cada local e/ou serviço apresentado tem um peso diferente:
Não existe diferença no tratamento = peso 0,0
Existe diferença no tratamento = peso 1,0
NS/NR (não sabe/ não respondeu) = peso 0,5
Escala do indicador de Percepção de Racismo em São Paulo
O resultado final é uma escala que varia de 0 a 1. Quanto mais próximo de 0, menor é a percepção de racismo e quanto mais próximo de 1 é o indicador, maior é a percepção de racismo da população paulistana.
Saiba mais:
Confira a apresentação da pesquisa Viver em São Paulo: Relações Raciais