Evento contou com a participação de Aline Nascimento e José Adão de Oliveira
A pesquisa “Viver em São Paulo: Relações Raciais” foi lançada nesta quinta-feira, dia 19 de novembro, em evento virtual. A edição de 2020 traz dados sobre a percepção da população paulistana em relação ao racismo e à discriminação contra a população negra na cidade. O levantamento é realizado pela Rede Nossa São Paulo em parceria com o Ibope Inteligência.
Aline Nascimento, historiadora e mestra em Relações Étnico-Raciais, e José Adão de Oliveira, cofundador do Movimento Negro Unificado – MNU, participaram do encontro.
Durante o lançamento, Carolina Guimarães, coordenadora da Rede Nossa São Paulo, comentou que “as pessoas reconhecem que o racismo prejudica o desenvolvimento urbano”. No levantamento, observamos que a grande maioria das pessoas entrevistadas (85%) concorda que o racismo prejudica o desenvolvimento da cidade de São Paulo. Na sua análise, a pesquisa mostra, também, que “estamos nesse processo de ganho de consciência, mas a ação ainda está muito distante”.
Aline falou sobre a importância de entendermos “como o racismo opera na sociedade”. “Antes de pensar o que precisamos fazer, precisamos entender o que é a pauta racial. Quando a gente fala da pauta racial a gente fala que ela está enraizada no nosso comportamento, que ela perpassa todas as nossas relações”, explicou.
A historiadora também reforçou que devemos nos entender como parte da questão. “Quando a gente cobra o desenvolvimento de ação para o poder público, a gente também precisa levar em consideração que nós compomos essa sociedade. Somos nós também essa força motriz que vai pensar essa mudança de sociedade”, disse.
“Estou falando “nós” de forma geral porque é muito importante a gente pensar o que a gente faz para construir essa mudança. O que a gente faz para, além de apontar o racismo como ele acontece, a gente se repensar, como eu reproduzo o racismo”, completou.
Ainda, Aline pontuou que “a população branca está nesse processo de se pensar e não entender ainda como esse racismo opera. Sobre não entender, ou sobre não refletir sobre raça, isso já em si um caráter de privilégios”.
A pesquisa nos mostra que, em relação ao papel das pessoas brancas no combate ao racismo, se informar mais e se educar sobre o assunto é a ação mais citada, com 47% das menções. Se reconhecer como parte do problema, identificando ações racistas nas pequenas atitudes como gírias, piadas, etc é apontada por 41% das pessoas entrevistadas; enquanto intervir em situações de tratamento diferente entre pessoas negras e brancas é mencionada por 38%; reconhecer os próprios privilégios (e o racismo estrutural) por 28%; participar de protestos (físicos ou online) em apoio às reivindicações das pessoas negras por 27%; e votar em pessoas negras nas eleições por 16%.
José Adão, por sua vez, abordou a questão da educação. Explicou como o Movimento Negro Unificado busca “uma educação voltada para o interesse da população negra” e questionou a educação apenas voltada para o mercado de trabalho. Apontou, também, as desigualdades no ingresso nas universidades: “as condições são totalmente diferentes e isso gera diferença no usufruto das oportunidades que o mercado de trabalho coloca”.
Assim, Adão explicou a relevância de “políticas afirmativas, de correção de uma injustiça, de correção desse racismo estrutural, do racismo institucional, do racismo empresarial”. Para ele, como ações desse tipo, “quem ganha em primeiro lugar, não somos nós negros e negras, é quem deixa de ser o agente, deixa de ser o protagonista desse racismo institucional. As pessoas brancas são as que primeiro ganham. Deixam de incentivar, deixam de potencializar, de repetir aquilo que é errado”.
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Saiba mais
Para 83% da população paulistana, a discriminação contra pessoas negras aumentou
Confira a apresentação da pesquisa Viver em São Paulo: Relações Raciais