Não é possível resolver os problemas ambientais sem enfrentar as desigualdades

Avaliação foi feita em debate realizado nesta quarta-feira (1º/6), durante o evento de lançamento da pesquisa Viver em São Paulo: Meio Ambiente

Por Airton Goes, da Rede Nossa São Paulo  |  Foto: Caroline Errerias Ribeiro

A relação entre meio ambiente e desigualdade foi um dos pontos destacados no debate que se seguiu à apresentação dos resultados da pesquisa Viver em São Paulo: Meio Ambiente, realizada nesta quarta-feira (1º/6). E, ao abordarem o tema, os participantes do evento, de diferentes formas, concordaram que os problemas ambientais apontados pelos paulistanos no levantamento não serão resolvidos sem o enfrentamento e, a consequente, redução das desigualdades existente na cidade e no país.

“Não acredito que seja possível enfrentar a questão ambiental, se não enfrentarmos a questão das desigualdades”, argumentou o arquiteto e urbanista Nabil Bonduki, um dos participantes do debate. Segundo ele, os dois eixos, enfrentar as desigualdades e fazer uma transição ecológica, têm que caminhar juntos.

Na avaliação de Bonduki, reduzir as diferenças sociais e econômicas nas cidades envolve principalmente o acesso à terra, habitação e mobilidade em geral. “Enquanto tivermos uma desigualdade que faz com que as pessoas sejam obrigadas a ocupar uma beira de córrego ou uma encosta íngreme, porque não tem opção [para morar], a questão ambiental não será enfrentada”, exemplificou.

Segundo o urbanista, é impossível explicar para as pessoas que o problema ambiental é fundamental, se elas estão vivendo em favelas, na beira do córrego. “A pessoa vai se preocupar com um grau e meio no final do século ou com agrotóxico, se ela não tem o que comer?”, provocou.

A ativista ambiental Amanda Costa destacou um dos dados da pesquisa Viver em São Paulo: Meio Ambiente, segundo o qual 81% dos moradores da capital acham que as pessoas mais vulneráveis, ou seja, os mais pobres, os moradores de periferia e aqueles em situação de rua são os mais afetados pelos problemas ambientais da cidade.

“Quem já ouviu falar em racismo ambiental?”, questionou ela, para explicar em seguida: “quando a gente pensa nas consequências da crise climática, a gente sabe que são as mulheres, pretas, periféricas, indígenas, quilombolas, ribeirinhos… os mais impactados por esse modelo econômico, mas não foram essas pessoas quem contribuiu para esse modelo econômico”.

Para Amanda, que também é vice-curadora no Global Shapers, isso reflete uma injustiça climática. “Quem está pagando a conta? Será que é justo?”, perguntou.

O debate foi mediado por Jack Magalhães, agente de educação ambiental do Sesc São Paulo.

Veja o vídeo do evento, com apresentação dos dados da pesquisa e o debate:

 

Lançamento da pesquisa

O evento de lançamento da pesquisa Viver em São Paulo: Meio Ambiente, que incluiu a apresentação dos dados do levantamento e o debate, foi realizado de forma presencial no Centro de Pesquisa e Formação do SESC São Paulo e transmitido pela Internet.

A atividade contou ainda com as participações de Jorge Abrahão, coordenador geral do Instituto Cidades Sustentáveis – organização realizadora da Rede Nossa São Paulo e do Programa Cidades Sustentáveis –, Denise Baena, gerente de educação e cidadania do Sesc São Paulo, Patricia Pavanelli, diretora do IPEC – Inteligência em Pesquisa e Consultoria Estratégica, e Igor Pantoja, assessor de coordenação da Rede Nossa São Paulo.

Em sua fala, Jorge Abrahão relatou os três eixos de atuação do Instituto Cidades Sustentáveis – desigualdade, clima e democracia – e realçou o desafio global de zerar as emissões para conter o aquecimento.

Ele considerou que os dados da pesquisa, aliados ao que a ciência tem demonstrado, podem contribuir com as transformações necessárias para combater as mudanças climáticas na cidade.

Ele lembrou que o instituto e o IPEC também lançaram na semana anterior uma pesquisa nacional sobre o tema, a Pesquisa Cidades Sustentáveis: Consumo e Meio Ambiente, e citou alguns dados daquele levantamento.

Leia também: Quais são os maiores problemas ambientais de sua cidade? 

Patricia Pavanelli, diretora do IPEC – Inteligência em Pesquisa e Consultoria Estratégica, apresentou os resultados da pesquisa Viver em São Paulo: Meio Ambiente, que está em sua quarta edição.

Alguns resultados

Promovida pelo Instituto Cidades Sustentáveis e realizada pelo IPEC, a pesquisa revela que a 69% paulistanos compreendem que as ações humanas são as principais causadoras dos problemas ambientais e já percebem os efeitos negativos destes em sua qualidade de vida, constatação de três quartos dos entrevistados.

Mostra também maior percepção por parte das pessoas de que é necessária uma articulação entre políticas municipais, estaduais e federais para dar conta dos desafios ambientais da cidade de São Paulo (86%).

Para a população paulistana, as três esferas do governo têm responsabilidade na busca por soluções para os problemas ambientais da cidade – governo municipal apontado por 88%; governo estadual por 87% e governo federal por 85% dos participantes da pesquisa. Para mais da metade destes, as empresas e indústrias (69%) e a população de maior renda (53%) têm muita responsabilidade na busca por soluções para os problemas ambientais.

Como ocorreu na pesquisa de 2021, a poluição do ar, a poluição dos rios e as enchentes permanecem como os problemas ambientais mais percebidos pela população. Dentre os nove itens avaliados, estes são mencionados por 57%, 57% e 42% das pessoas, respectivamente.

Apesar do recuo em relação ao levantamento anterior, a maioria dos paulistanos (52%) continua avaliando que o aumento de doenças cardiorrespiratórias são as principais consequências individuais dos problemas ambientais da cidade. Outros 44% citam o aumento na ocorrência de enfermidades como dengue, zika e chikungunya.

Pensando nas soluções ambientais, a despoluição dos rios e córregos foi apontada por 41% dos entrevistados como medida mais eficiente, enquanto 36% citou uma maior fiscalização e aplicação de multas pelo Poder Público sobre o lançamento de esgotos nos rios e nos córregos de São Paulo.

Preocupados com as consequências dos problemas ambientais, 83% acreditam que seus impactos contribuirão para a falta de alimentos básicos, água, energia, etc..

Para 81% dos paulistanos, as pessoas mais vulneráveis, ou seja, os mais pobres, os moradores de periferias e aqueles em situação de rua são os mais afetados pelos problemas ambientais da cidade.

Além disso, 76% afirmam ainda que o Brasil está perdendo credibilidade internacional por sua atuação em relação ao combate às mudanças do clima e ao aquecimento global.

A pesquisa foi realizada entre os dias 4 e 28 de dezembro de 2021. Foram 800 entrevistas online e domiciliares com pessoas maiores de 16 anos, que moram na cidade de São Paulo. A margem de erro é de 3 pontos percentuais para mais ou para menos.

Confira aqui todos os resultados da pesquisa Viver em São Paulo: Meio Ambiente.

Acesse a série histórica do levantamento, que está em sua quarta edição.

Leia também: Mais de dois terços dos paulistanos se dizem muito preocupados com o aquecimento global.

 

 

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