Por Jorge Abrahão, coordenador geral do Instituto Cidades Sustentáveis, organização realizadora da Rede Nossa São Paulo e do Programa Cidades Sustentáveis
Sete em cada dez pessoas que vivem em cidades no Brasil dizem que há impacto do desmatamento da Amazônia nas suas vidas. Duas dizem que não. Aumento de temperatura, poluição do ar e aumento de períodos secos são os fatores que mais contribuem para essa percepção. Este é um dos achados da pesquisa de meio ambiente que o IPEC realizou para o Instituto Cidades Sustentáveis, recentemente lançada. É sempre bom lembrar que o desmatamento é o maior emissor de gases de efeito estufa no Brasil, responsável por 40% das emissões totais segundo o SEEG, sendo central para o país caminhar para zerá-lo.
Elas dizem também que os principais problemas ambientais são a poluição do ar, a falta de sistema de esgotamento sanitário, a poluição dos rios e mares, e as enchentes, nesta ordem. É importante lembrar que em cidades como São Paulo mais da metade da população tem doenças respiratórias causadas, sobretudo, pela poluição do ar. Recente decisão da prefeitura de proibir a compra de ônibus movidos a combustíveis fósseis contribui para a redução deste problema de saúde pública no médio e longo prazos.
Quando perguntadas se mudariam seus hábitos de consumo, deixando de comprar produtos com relação comprovada com o desmatamento como madeira, artigos de ouro (garimpo ilegal), carne bovina e derivados de soja, mais da metade (54%) respondeu que sim, mudariam. Um terço diz que não deixaria de consumir, mesmo sabendo da relação causa-efeito.
Sobre o papel da gestão pública municipal, quase oito em cada dez dizem que é a instância que mais pode ajudar no combate à mudança climática. E apontam a ampliação de áreas verdes, o controle do desmatamento, a redução do uso de combustíveis fósseis e as construções sustentáveis como as principais ações nas cidades.
Algumas cidades como Paris e Cingapura debatem programas para evitar que a temperatura local chegue a 50 graus Celsius. No último verão, cidades da Europa e da América do Norte alcançaram 49 graus, com mortes e graves problemas de saúde pública. No projeto Paris 50 e em Cingapura estão sendo debatidos, entre outros temas, o aumento de áreas verdes, a pintura mais clara das habitações, as fachadas e coberturas verdes, o aumento de espelhos d’água, a ampliação de áreas cobertas e a utilização de pisos porosos e mais claros.
No Brasil, a cidade sustentável passa por acesso universal à água e ao esgotamento sanitário, pela mobilidade com baixa emissão, pela coleta de resíduos e reciclagem, pela redução de emissões de CO2 no transporte coletivo e a oferta de serviços e oportunidades mais próximas das residências para reduzir o tempo de deslocamentos.
É um alento saber pela pesquisa que a maioria da população tenha um elevado grau de consciência em relação ao meio ambiente, o que estimula avanços em programas e políticas públicas. Cabe, portanto, às diferentes esferas de governo seguir avançando e propondo políticas públicas que protejam nossos biomas, entendendo que são as maiores riquezas de nosso país.