A maior seca da história do país está afetando a vida de milhões de brasileiras e brasileiros. Pelo menos 1.400 cidades estão sentindo diretamente os efeitos das atuais condições climáticas no país. Os rios nunca estiveram tão baixos no Norte, os incêndios consomem milhões de hectares no Pantanal e na Amazônia, a fumaça cobre cidades inteiras no interior e, em capitais como São Paulo, a umidade desértica se soma às toneladas de carbono que despejamos diariamente na atmosfera. Há poucos meses acompanhávamos perplexos a dimensão das enchentes no Sul.
As prefeituras têm um papel fundamental para enfrentar esses problemas. Há várias medidas e ações que podem ajudar as cidades a se prevenir e se adaptar aos eventos climáticos severos. Planejar, investir em estudos técnicos, fazer gestão e monitorar riscos, elaborar planos e políticas públicas específicos são alguns exemplos. E aumentar e empenhar de fato o orçamento da área em prevenção e adaptação, uma iniciativa que nunca passa da promessa.
Na prática, as ações no âmbito municipal vão da zeladoria no curto prazo a medidas mais estruturais:
1 – Aumentar as áreas verdes
A criação e manutenção de áreas verdes, como parques, praças e calçadas, ajudam a capturar carbono e a mitigar os efeitos das ilhas de calor urbanas.
2 – Reduzir o uso de combustível fóssil
Investir na qualidade do sistema municipal de transporte e incentivar o transporte público eficiente pode reduzir a dependência de veículos particulares, diminuindo as emissões de CO2.
3 – Mudar a matriz energética
A maioria dos ônibus urbanos ainda usa motores a diesel, que emitem grandes quantidades de CO2 e outros poluentes. Substituir esses veículos por ônibus elétricos alimentados por energia renovável, como solar, eólica ou hidroeletricidade, pode reduzir significativamente as emissões de carbono.
4 – Uso de energia limpa e renovável
A prefeitura pode oferecer isenções ou reduções em impostos municipais, como IPTU ou ISS, para residências, empresas e indústrias que instalem sistemas de energia limpa e renovável, como painéis solares ou pequenas turbinas eólicas.
5 – Adotar cores claras nas construções
Em áreas urbanas, a adoção de cores claras em fachadas, telhados e pavimentos pode ajudar a reduzir o efeito de ilha de calor, fenômeno onde as cidades ficam significativamente mais quentes do que as áreas rurais ao redor.
6 – Construção civil eficiente
Investir em sistemas eficientes de iluminação e refrigeração; em calçadas permeáveis, jardins, jardins no alto dos prédios; em sistemas de reuso de água.
7 – Gestão, coleta e destinação de resíduos
Acabar com lixões a céu aberto; aterros sanitários com sistema de captura de metano. A prefeitura pode – e deve – incentivar a redução do uso de plásticos e outros materiais não biodegradáveis, promovendo alternativas mais sustentáveis.
Lembrando: incinerar lixo não é solução, ao contrário. É uma medida arcaica, isso era feito nos séculos passados.
8 – Educação e programas escolares
Incluir a educação ambiental no currículo escolar, formando novas gerações mais conscientes e ativas na luta contra as mudanças climáticas. Além do incentivo de hábitos sustentáveis e saudáveis, que podem ser implementados desde a criação de áreas verdes nas escolas até a alimentação oferecida na merenda pelo município.
9 – Descentralização da cidade
Prefeituras devem promover um planejamento urbano que minimize a expansão urbana desordenada, aportando recursos de acordo com as realidades dos territórios. Ao investir nos bairros dando acesso a oportunidades de trabalho, serviços públicos, parques, esporte e cultura perto de casa, se reduz a distância percorrida da população.
10 – Ser exemplo na administração pública
Prefeituras podem liderar pelo exemplo, adotando práticas de eficiência energética em prédios públicos, como o uso de painéis solares e sistemas de iluminação LED; frota de veículos renovável; compras públicas sustentáveis (com produtos oriundos de tecnologia limpa).
Ouça também o Programa Nossa Cidade da rádio Eldorado FM (107.3) com o colunista Jorge Abrahão, coordenador geral do Instituto Cidades Sustentáveis (veiculado em 12 de agosto de 2024).