Por Jorge Abrahão, coordenador-geral do Instituto Cidades Sustentáveis (artigo publicado originalmente na Folha de S.Paulo em 03 de outubro de 2024)
A qualidade do ar que respiramos. Depende dos vereadores.
A organização da cidade através do Plano Diretor. Também.
O tempo que gastamos no trânsito todos os dias, a lotação e o tempo de espera no transporte coletivo. Deles depende.
A geração de oportunidade de trabalho e renda. Sim.
A ampliação de áreas verdes e a proteção dos mananciais para evitar uma crise hídrica. Também depende.
A gestão de risco para enchentes, com planos de contingência, mapeamento de áreas de risco e sinais de alerta, entre outros. Sim.
A qualidade dos serviços de saúde e da educação, com a valorização dos profissionais. Nem se fala.
A ampliação dos espaços de participação da sociedade. Idem.
É responsabilidade deles(as) propor e aprovar leis, aprovar o orçamento e a definição das prioridades da cidade, além de fiscalizar o poder executivo.
Elegeremos quase 60.000 vereadores no Brasil. Nesta última gestão, somente 7.000 (12%) eram mulheres e 53.000 homens. Se na sociedade somos praticamente meio a meio, na política os homens são sete vezes mais que as mulheres. Prova de uma sociedade machista e de que eleições são oportunidade de mudança.
Vereadores são os representantes do povo, nossos representantes durante os quatro anos de gestão. Não aceite uma cola com o número ou mensagens vazias como “sou sério e competente”. Vale a pena gastar um tempo para pensar e pesquisar em quem votar: se temos alinhamento com suas propostas; qual seu histórico de vida e realizações; seu posicionamento ético e integridade; se tem capacidade de diálogo e colaboração ou mostra sinais autoritários e agressivos; sua experiência em temas relevantes; que candidado a prefeito(a) está apoiando e a que partido pertence.
Em pesquisa feita pelo IPEC para a Rede Nossa São Paulo e Instituto Cidades Sustentáveis soubemos que 65% dos eleitores não se lembram em quem votaram nas últimas eleições legislativas. E os mesmos dois terços, segundo o DataFolha, há uma semana das eleições, ainda não sabem em quem votar para vereador. É muito importante reduzir esta distância que nos separa da política.
A qualidade da democracia depende muito do legislativo e um dos fatores de retrocesso no Brasil deve-se à pouca atenção que dedicamos à eleição dos legislativos nas diferentes esferas de governo federal, estadual e municipal. Da mesma maneira que podem ser estimuladores de mudanças no país, podem promover retrocessos, como temos vivenciado no Congresso Nacional com o centrão e suas emendas parlamentares. As eleições municipais configuram-se como a chance que temos de qualificar a política e dela nos aproximar, valorizando-a e aprofundando a democracia. Sem o que as saídas para os grandes desafios que temos ficarão mais difíceis de serem alcançadas.