Percepção de racismo entre os moradores da capital paulista continua alta nos principais ambientes investigados pela Pesquisa Viver em SP: Relações Raciais; levantamento aborda também as políticas públicas, ações das empresas e o papel das pessoas brancas no combate ao preconceito de raça.
A Rede Nossa São Paulo lançou nesta quinta-feira (14/11) a Pesquisa Viver em SP: Relações Raciais, em evento presencial e gratuito no Centro de Pesquisa e Formação do Sesc.
Participaram do debate: Ediane Maria, Deputada Estadual pelo PSOL SP; Elisa Rodrigues, secretária executiva adjunta da Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania na Cidade de São Paulo; Paulo Cesar Ramos, doutor em sociologia e autor do livro Gramática negra contra a violência de Estado e Manoela Cruz, cientista social e ex-conselheira municipal de promoção da igualdade racial.
Principais destaques da pesquisa Relações Raciais 2024:
- O trabalho mostra que 78% dos moradores da capital paulista dizem que há diferença no tratamento entre negros e brancos nos shoppings e comércio em geral – os locais onde mais se manifesta o preconceito racial, na percepção dos entrevistados.
- Nas escolas e faculdades, o percentual é de 75%; nas ruas e espaços públicos, 70%; e no ambiente de trabalho, 68%. Entre as pessoas que se autodeclaram pretas e pardas, a percepção de racismo é maior em praticamente todos os ambientes pesquisados.
- Os números permanecem estáveis na comparação com as pesquisas dos últimos anos, mas cresceram significativamente em relação ao levantamento de 2019. Naquele ano, 69% dos entrevistados diziam haver diferença no tratamento entre negros e brancos nos shoppings e no comércio em geral; 64%, nas ruas e espaços públicos; 62%, nas escolas e faculdades; e 60%, no ambiente de trabalho.
- A pesquisa perguntou também quais são as medidas mais eficazes para combater o racismo e o preconceito na cidade de São Paulo. Aumentar a punição para atos de injúria racial foi a mais citada (54% dos entrevistados), seguida por punições mais severas para policiais que cometem abuso contra pessoas negras (39%). Em terceiro lugar, ampliar o debate do tema nas escolas e incluí-lo no currículo escolar aparece com 38% das menções.
- Em relação às medidas que as empresas devem adotar para combater o racismo, dar suporte/apoio institucional (psicológico, jurídico) para funcionário que sofre racismo ou preconceito racial é a alternativa mais citada (38%); sempre se posicionar contra qualquer tipo de racismo ou preconceito racial e promover campanhas de conscientização aparecem em segundo lugar (36% das respostas).
O papel das pessoas brancas no combate ao racismo
A pesquisa perguntou também qual é o papel das pessoas brancas no combate ao racismo. A opção que teve mais citações (49%) foi se informar e se educar mais a respeito. Em segundo lugar, aparece intervir em situações de tratamento diferente entre pessoas negras e brancas (43%) e, em terceiro, reconhecer-se como parte do problema, identificando ações racistas nas pequenas atitudes como gírias e piadas (37%).
Veja abaixo mais alguns dados da pesquisa:
Concordam totalmente ou em parte…
… que o racismo prejudica o desenvolvimento da cidade. (86% dos respondentes)
… que as mobilizações internacionais antirracismo são importantes para combater o
preconceito. (85% dos respondentes)
… que a violência policial afeta principalmente as pessoas negras. (82% dos
respondentes)
… que falar sobre racismo e preconceito racial em programas de TV, realities shows,
etc. contribui para ampliar o debate do tema. (82% dos respondentes)
… que tratar piadas racistas como brincadeira contribui ainda mais para o racismo.
(79% dos respondentes)
… que o racismo é um problema central na cidade de São Paulo e deve ser enfrentado
com políticas públicas específicas. (78% dos respondentes)
… que aumentar a representatividade das pessoas negras na política e nos cargos de
poder contribui para diminuir as desigualdades estruturais. (78%)
… que os partidos políticos devem dedicar fundos de forma proporcional às
campanhas de candidatos brancos e negros. (73% dos respondentes)
… que já temos ferramentas suficientes para combater o racismo, como as cotas, as
leis de punição contra o racismo e políticas afirmativas. (48% dos respondentes)