Especialistas dizem ser necessário aprimorar o convívio entre as formas diferentes de transporte para evitar conflitos.
Por BRUNO RIBEIRO E MARCO ANTÔNIO CARVALHO – O ESTADO DE S. PAULO
A morte do zelador aposentado Florisvaldo Carvalho Rocha na segunda-feira passada acendeu o debate em torno da segurança de ciclistas e pedestres em faixas exclusivas para bicicleta e também em ruas e avenidas da cidade. Especialistas apontam que, com o aumento da malha cicloviária na cidade, a sinalização agora deve passar a focar nos usuários dessa estrutura.
“Há um predomínio na sinalização do trânsito para o automóvel. As placas e a iluminação não são pensadas para o trânsito de pedestres e ciclistas. A Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) começou uma campanha recente, mas ainda precisa ser reforçada, de que o ciclista não é o elo mais fraco do trânsito”, disse a professora do Centro de Engenharia da Universidade Federal do ABC (UFABC) Silvana Maria Ziani.
O elo mais fraco, para ela, passa a ser o pedestre. E mesmo entre eles, há quem mereça mais cuidado. “Ele (ciclista) tem um artefato que lhe dá mais velocidade. O pedestre é que é o mais vulnerável. Mesmo entre os pedestres, há níveis de mais vulnerabilidade, como crianças, idosos, pessoas com mobilidade reduzida e isso precisa ser reforçado por campanhas”, afirmou Ziani.
A professora acrescentou que cabe ao poder público reforçar a importância desse debate. “O que cabe ao Estado? Implementar e incrementar mecanismos de sinalização adequados e campanhas educativas. Há duas décadas, houve campanhas que promoviam a ideia de direção segura. Agora, é a vez do convívio entre os diferentes modais que precisa ser reforçado. Os ciclistas ainda não estão praticando essas regras.”
Educação
O coordenador de mobilidade urbana da Rede Nossa São Paulo, Carlos Aranha, vê na educação a solução para o conflito entre carros, bicicletas e pedestres nas vias. “Não há ‘ciclistas irresponsáveis’ ou ‘motoristas imprudentes’. Há pessoas irresponsáveis, pessoas imprudentes. Que, a depender do que estão usando para se movimentar – 1 tonelada de aço (carro), 20kg de alumínio (bicicleta) ou 80kg de carne (o próprio corpo) -, oferecem mais ou menos risco às outras”.
Matéria publicada originalmente no jornal O Estado de S. Paulo.
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