Nossa São Paulo torna público as razões do desligamento do Secovi-SP de sua rede de organizações participantes. Leia abaixo a troca de correspondências que expõe as divergências
Texto do ofício em que o presidente da entidade empresarial do ramo imobiliário pede desligamento da Rede Nossa São Paulo:
São Paulo, 25 de novembro de 2016
Prezado Senhor,
Por entender que toda mobilização que venha a contribuir para aprimorar as condições de vida em nossa cidade merece ser apoiada, não hesitamos em somar esforços com a Rede Nossa São Paulo.
Durante anos, ate mesmo aceitamos eventuais divergências, inerentes ao processo democrático de discussões, pois o objetivo comum, de melhorar a qualidade de vida dos paulistanos, sempre prevaleceu.
Todavia, deparamo-nos, agora, com situação que, por questão de coerência, não autoriza nossa permanência nesse Movimento.
No concernente ao PL 476, vetado pelo prefeito de São Paulo e objeto de forte atuação da Rede Nossa São Paulo pela derrubada do veto, nosso posicionamento é absolutamente contrario. Aliás, desconhecemos se a organização consultou previamente seus integrantes para tomar tal decisão.
Consideramos que a manutenção ao do veto é de interesse da cidade e de seus habitantes. Ainda, preserva a legitimidade daqueles que foram democraticamente eleitos pelos cidadãos para representá-los.
Existem obras, públicas ou privadas, necessárias ao desenvolvimento urbano, econômico e social, as quais não podem ser impedidas por aqueles que vivem em seu entorno imediato.
Imagine-se que a implantação de uma estação de metro ou VLT, cuja execução é incômoda e demorada, seja obstada por plebiscito. Quantos serão os beneficiados e quantos os prejudicados?
Os bairros de São Paulo não são guetos ou ilhas. Estão conectados. Um depende do outro para progredir. A cidade é um corpo único. Desmembrá-la (por plebiscito) será prejudicial a coletividade.
Diante disto, somos impelidos a solicitar nosso desligamento da Rede, o que lamentamos, cabendo deixar clara que permanecemos a disposição para dialogar e colaborar com ideias que tornem nossa São Paulo melhor para todos.
Cordialmente,
Flavio Amary – Presidente do SECOVI-SP
Leia a resposta da Rede Nossa São Paulo ao presidente do Secovi-SP:
São Paulo, 28 de novembro de 2016
Prezado Senhor:
Recebemos vosso ofício e acatamos o pedido. Desta forma, o Secovi SP deixou de fazer parte das organizações que integram a Rede Nossa São Paulo.
Entretanto, consideramos importante registrar que a proposta de permitir a realização de plebiscito na capital paulista é nada mais, nada menos do que a regulamentação de um artigo já existente na Lei Orgânica do Município – a Constituição da cidade de São Paulo. O posicionamento de vosso ofício confronta a implementação deste artigo (art. 10).
A Rede Nossa São Paulo e as organizações que a integram consideram que a participação é a base da vida democrática.
Esse posicionamento está consagrado em nossa “Carta de Princípios”, que explicita ainda: “Participação implica… na obrigação de consulta popular na tomada de decisões de grande impacto ambiental e nas finanças (como especificado na Lei Orgânica Municipal)…”. E complementa: “A Rede Nossa São Paulo atuará para assegurar a obediência às prescrições constitucionais e da Lei Orgânica Municipal relativas à participação cidadã, denunciará toda insuficiência e manipulação constatada nas ações exigidas por essas prescrições, estimulará propostas de participação surgidas na sociedade e tomará suas próprias iniciativas para ampliar cada vez mais as possibilidades de real participação”.
Ao propor o aumento da participação da sociedade e a democracia participativa, a Rede Nossa São Paulo lembra que o acesso aos políticos, e, portanto, a influência nas decisões políticas, tem sido tradicionalmente privilégio de setores mais poderosos economicamente. Não é por acaso que o Brasil e o município de São Paulo, embora sendo uma das nações e cidades mais ricas economicamente no mundo, são também um país e uma cidade com enormes desigualdades, fato que deveria envergonhar todos nós e, especialmente, as elites brasileiras. Recomendamos a leitura do Mapa da Desigualdade da cidade publicado pelo Rede Nossa São Paulo.
Realizar plebiscito para consultar a população sobre obras de grande impacto é atividade corriqueira nas grandes cidades da Europa e dos Estados Unidos, no chamado primeiro mundo. Não é habitual em países atrasados politicamente e socialmente, como o nosso.
Entendemos que ampliar a participação da sociedade ameace aqueles que tradicionalmente tiveram acesso privilegiado à classe política (financiando campanhas eleitorais pelas empresas e/ou por seus diretores, por exemplo), o que sempre favoreceu a promoção dos seus interesses. Exemplos, infelizmente, não faltam.
Conversando com lideranças empresariais, políticas e sociais dos países escandinavos, todos são unânimes em afirmar que aprofundar a democracia participativa foi essencial para serem os países mais justos e de melhor qualidade de vida no mundo. Infelizmente, esta percepção ainda não chegou a algumas de nossas lideranças empresariais e políticas.
Estamos à disposição para dialogar, especialmente quando o Secovi, esta poderosa organização, se dispuser a usar seu poder para estimular ativamente a ampliação da participação política da sociedade, a redução da desigualdade na cidade de São Paulo, a melhoria da qualidade de vida, especialmente dos setores mais pobres e marginalizados da sociedade, e a ampliação dos espaços verdes essenciais para a saúde da população.
Atenciosamente,
Oded Grajew, Coordenador Geral da Rede Nossa São Paulo
P.S.: Publicaremos no nosso portal a vossa carta e a nossa resposta. Esperamos que possa fazer o mesmo.
Confira as cartas originais:
Confira aqui o ofício em que o presidente da entidade empresarial do ramo imobiliário pede desligamento da Rede Nossa São Paulo.
Leia também a resposta da Rede Nossa São Paulo ao presidente do Secovi-SP.