Sarah Fernandes | sarahfernandes@aprendiz.org.br
O percentual de paulistanos que frequentam a Educação de Jovens e Adultos (EJA) caiu 33,3% entre dezembro de 2009 e dezembro de 2010. O diagnóstico é do Indicadores de Referência de Bem-Estar no Município (Irbem), uma pesquisa divulgada, na última semana, pelo Movimento Nossa São Paulo, que busca avaliar a qualidade de vida na capital paulista.
Em 2009, 12% dos 1.512 paulistanos ouvidos pela pesquisa haviam frequentado a escola na Educação de Jovens e Adultos. Um ano depois, o total caiu para 8%. Esse é o menor percentual registrado até agora pelo levantamento, que acontece anualmente desde novembro de 2008. Neste ano, 9% dos entrevistados frequentavam a EJA.
Para o especialista em educação de adultos da organização não governamental Ação Educativa, Roberto Catelli, a queda não é surpreendente. “Ela reflete as políticas adotadas pela prefeitura e pelo governo estadual. A redução foi registrada inclusive no Censo Escolar de 2010 [que apontou que as matrículas de EJA caíram 23,4% no estado de São Paulo]”.
“O governo municipal fechou muitas salas no ano passado, alegando que não havia matrículas. Mas as matrículas também caíram devido ao fechamento das salas”, conta Catelli. “Há desinteresse em ampliar as salas de adulto, porque as aulas acontecem à noite. Isso obriga as escolas a trabalharem três turnos, o que gera um problema de gestão.”
Para Catelli existem problemas estruturais no EJA que travam sua ampliação. “É difícil encontrar uma escola que ofereça as aulas durante o dia e com carga horária flexível. Um adulto que trabalha e cuida da família pode não ter disponibilidade para cumprir quatro horas diárias de aula.”
Outro problema é a localidade das escolas e a formação de turmas, segundo o especialista. “Existem escolas que oferecem EJA em alguns pontos, que muitas vezes ficam longe das casas dos alunos. Além disso, é necessário ter 40 alunos para abrir uma sala, o que também dificulta a expansão do número de turmas”, diz.
“Faltam campanhas de divulgação e adaptação do currículo escolar para adultos, com professores específicos para essa modalidade. Há muita infantilização nas aulas de EJA e por isso elas se tornam desinteressantes”, avalia o especialista.
Em queda
As matrículas de EJA no país caíram 10,3% entre 2009 e 2010, segundo o Censo Escolar 2010, do Ministério da Educação. Somente em quatro estados houve crescimento: Paraná, Goiás, Mato Grosso e Roraima.
Na outra ponta, Mato Grosso do Sul obteve o pior resultado, com queda de 39,2% em relação a 2009. São Paulo ficou com o segundo pior resultado: uma redução de 23,4% nas matriculas na modalidade. A terceira pior diminuição ocorreu no Rio Grande do Sul, com 10,3%.
Ao todo, 60 milhões de brasileiros com mais de 15 anos não concluíram a educação básica, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).