Prós e contras linhas de monotrilho são debatidos em seminário em SP

 

Representantes do Metrô informam que sistema tem capacidade para transportar até 48 mil pessoas por hora no mesmo sentido. Especialistas e moradores questionam número

Airton Goes airton@isps.org.br

Os projetos de instalação de linhas de monotrilho na cidade foram os principais pontos debatidos no seminário “Os desafios dos sistemas de transporte de passageiros de alta e média capacidade na cidade de São Paulo”, promovido pelo GT Mobilidade Urbana da Rede Nossa São Paulo. Representantes do Metrô e da Secretaria de Transportes Metropolitanos defenderam o sistema de monotrilho, argumentando que a futura linha Vila Prudente-Cidade Tiradentes terá capacidade de transportar até 48 mil passageiros/hora por sentido. Os dados não convenceram especialistas e representantes da sociedade civil.

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“Quando estiver pronta, a linha começará atendendo 40 mil pessoas por hora no mesmo sentido, mas o sistema está projetado para atender 48 mil”, afirmou o assessor da presidência do Metrô, Marcos Kassab, durante o evento realizado nesta terça-feira (1º/3) na capital paulista. Segundo ele, cada trem – que circulará por uma via elevada – terá capacidade para mil pessoas.

No caso da linha prevista para ligar Jabaquara, Aeroporto de Congonhas e Morumbi, o trem a ser instalado será menor. “A previsão é atender de 12 a 13 mil pessoas por hora no mesmo sentido e, portanto, não há razão para instalarmos um sistema de alta capacidade ali”, justificou Kassab, que representou o secretário estadual dos Transportes Metropolitanos, Jurandir Fernando Ribeiro Fernandes, no debate.

Questionado se o sistema de transporte previsto para a região do M’Boi Mirim – ligando Santo Amaro ao Jardim Ângela – será metrô ou monotrilho, ele respondeu que o projeto está sob responsabilidade da Prefeitura de São Paulo e não do Metrô. Recentemente, o prefeito Gilberto Kassab anunciou que o metrô seria a alternativa mais indicada para a futura linha.   

Epaminondas Duarte Junior, representante do Metrô, complementou as informações sobre os projetos de monotrilho previstos para a cidade. “Temos ainda [programado] uma linha ligando a Estação Tamanduateí ao ABC, em um projeto conjunto com a Prefeitura de São Bernardo do Campo”. 

Duarte Junior, que é assistente da Diretoria de Planejamento e Expansão dos Transportes Metropolitanos, apontou o que considera as principais vantagens do sistema de monotrilho. “Tem a mesma qualidade de serviço do metrô convencional, causa número menor de desapropriações e atende adequadamente a demanda prevista [para cada uma das linhas].”

Os dados apresentados pelos representantes do Metrô e da Secretaria de Transportes Metropolitanos, entretanto, não convenceram especialistas e representantes da sociedade civil que participaram do debate. Marcos Kiyoto, arquiteto e consultor da organização TC Urbes na área de transportes de alta capacidade, considera que o monotrilho é um sistema de média capacidade. Ou seja, poderia atender de 15 a 25 mil pessoas/hora por sentido.

Manuel Xavier Lemos Filho, diretor da Federação Nacional dos Metroviários (FENAMETRO), criticou o projeto previsto para ligar a Cidade Tiradentes à Vila Prudente. “Os milhares de usuários [da nova linha] não vão conseguir entrar no sistema [na Vila Prudente], que já estará operando em sua capacidade máxima", previu. Para ele, “monotrilho é uma tecnologia que está em desuso no mundo e não é recomendado para locais onde se exige transporte de alta capacidade.”

Quando a palavra foi passada ao público, Lucas Monteiro, do Movimento Passe Livre, lembrou que os projetos de expansão do sistema de transporte não podem estar descolados dos projetos de habitação popular. “Caso persista esta prática vamos continuar reproduzindo os mesmos problemas.”

Monteiro criticou o repasse do custo da passagem para o usuário e defendeu maior participação da sociedade na discussão dos temas relacionados ao transporte.

O debate foi mediado por Maurício Broinizi, coordenador da Secretaria Executiva da Rede Nossa São Paulo, que relatou alguns resultados dos cinco seminários organizados pelo GT Mobilidade Urbana e a Comissão de Transporte da Câmara Municipal no ano passado. “Apresentamos um conjunto de propostas para um Plano Municipal de Mobilidade e Transportes Sustentáveis e os vereadores aprovaram uma dotação no orçamento deste ano, de R$ 15 milhões, para que a prefeitura realize os estudos necessários à elaboração do plano.”

A discussão do plano de mobilidade e transporte, que a sociedade aguarda ser apresentado pelo poder público, e do novo Plano Diretor Estratégico da cidade são dois dos desafios apontados por Broinizi para que São Paulo avance nessa área.

Também participaram do seminário Edilson Reis, integrante da Diretoria Executiva do Sindicato dos Engenheiros no Estado de São Paulo, e Ailton Brasiliense Pires, assessor da diretoria de planejamento da CPTM e presidente da ANTP-Associação Nacional de Transportes Públicos, além de diversos representantes da sociedade civil.

Os próximos eventos programados pelo GT Mobilidade Urbana da Rede Nossa São Paulo deverão abordar transportes sobre rodas, modais não motorizados, pedestres e calçadas. No final do ano, os orçamentos da cidade e do Estado de São Paulo para as áreas de transportes e mobilidade urbana também farão parte dos debates.

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