Comum nos EUA, conceito transforma pequenas áreas, como terrenos baldios, em espaço de convivência; projeto ainda será votado
Por Adriana Ferraz
Um conceito simples, para melhorar o aproveitamento dos espaços públicos, pode finalmente chegar a São Paulo. Previstos no novo Plano Diretor, os "pocket parks" são realidade nos Estados Unidos há mais de 40 anos e, se implementados por aqui, podem transformar terrenos baldios em "salas de estar" ao ar livre. A ideia é simples: fazer de qualquer espaço, por menor que seja, um território convidativo ao descanso ou ao lazer do pedestre.
Válida para áreas públicas ou privadas, a fórmula dos miniparques, se aprovada, poderá ser aplicada em qualquer região da cidade. Diretor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo do Mackenzie, Valter Caldana explica que o conceito não exige uma metragem fixa. "Pode ser feito em terrenos de 300 metros quadrados ou mais de 1 mil. O que importa não é o tamanho, mas sua capacidade de convidar as pessoas, seja para uma atividade esportiva ou mesmo de leitura", afirma o urbanista.
Segundo Caldana, a capital paulista tem um enorme potencial para desenvolver miniparques. A própria Lei de Parcelamento do Solo, que exige do empreender a doação de parte do terreno para a Prefeitura criar espaços verdes, pode servir de base para disseminar a ideia.
"Muitas vezes, essas sobras de terreno são pequenas para abrigar um equipamento público e, por isso, acabam inutilizadas. São Paulo tem inúmeros casos desses. Agora, poderá fazer dessas áreas miniparques. Mas, para que funcionem, será preciso manutenção", afirma.
Geralmente menores do que uma praça, esses espaços ainda são chamados de parques de vizinhança, pois podem ser instalados entre duas construções, no meio de um quarteirão. Nesse modelo, servem como área de lazer para moradores ou para quem trabalha na região.
Raro em São Paulo, esse modelo é aplicado em terrenos na Alameda Ministro Rocha de Azevedo e na Rua Amauri, na zona sul (leia mais abaixo).
Revitalização
Relator do novo Plano Diretor, o vereador Nabil Bonduki (PT) diz acreditar que os miniparques podem fazer de São Paulo uma cidade mais agradável. "Eles valorizam o espaço público ao oferecer bancos, mesas e pequenas áreas verdes. Espalhar esse modelo pela cidade é também uma maneira de revitalizá-la", diz.
Bonduki explica que a inclusão do conceito no plano faz parte de um projeto mais amplo, que visa a proporcionar espaços mais qualificados. Nessa mesma linha, uma outra ideia abordada é a da fruição pública, que é a abertura dos pavimentos térreos de prédios comerciais ou residenciais para melhor circulação do pedestre. O Conjunto Nacional, na Paulista, serve de exemplo. Com abertura para quatro ruas, oferece mais opções de mobilidade a quem anda a pé pela cidade.
A arquiteta Lucila Lacreta, diretora do Movimento Defenda São Paulo, apoia a iniciativa, mas alerta que somente isso não basta como contrapartida ao adensamento populacional projetado pela gestão de Fernando Haddad (PT). "O plano prevê uma verticalização sem limites nos chamados eixos de transporte. Diante disso, 'pocket parks' são medidas pequenas de compensação. Precisamos discutir melhor esse plano para acharmos um equilíbrio mais saudável para São Paulo."
O projeto de lei que reorganiza a cidade já está tramitando na Câmara Municipal e deve ser votado pelos vereadores, em definitivo, até o fim de maio.
Matéria originalmente publicada no jornal O Estado de S. Paulo