O Instituto Ethos promoveu, no dia 22 de maio, na sede da OAB-RJ, o seminário “Balanço da Copa 2014: Como Está Esse Jogo?”, que incluiu um debate sobre o quesito meio ambiente. O encontro contou com participação de importantes atores do segmento, como o Ministério do Meio Ambiente e o Ministério do Esporte, por meio da Câmara Temática Nacional de Meio Ambiente e Sustentabilidade Ambiental da Copa do Mundo Fifa 2014.
De acordo com Caio Magri, diretor de Operações, Políticas Públicas e Práticas Empresariais do Instituto Ethos, o principal desafio é trazer o tema meio ambiente, inclusive a mobilidade urbana, para a reflexão durante a Copa do Mundo, quando todos estão voltados para os jogos. “Um país que optou por 12 cidades-sede deve levar em consideração vários desafios, principalmente a mobilidade”, afirmou.
Representante do Ministério do Esporte, o coordenador da Câmara Temática Nacional de Meio Ambiente e Sustentabilidade Ambiental da Copa do Mundo Fifa 2014, Claudio Langone, apresentou a agenda estratégica sustentável para o evento. “O Brasil quer garantir um legado nessa área, por meio de ações estruturantes, articulação com a inclusão social, mobilização da sociedade para novos valores e reforço da liderança como país megadiverso”, explicou.
Dentro da Câmara Temática, o trabalho envolve cinco iniciativas: a certificação e gestão sustentável das arenas; a organização de resíduos e reciclagem; a campanha Brasil Orgânico e Sustentável; a campanha Passaporte Verde; e a mitigação e compensação das emissões geradas pelo evento. “Na certificação, por exemplo, houve resistências do setor de construção civil, por receio de custos, mas o governo entendeu que era necessário certificar para haver bom padrão de qualidade. Posteriormente, todas as construtoras aderiram e nós, simultaneamente, trabalhamos com a Fifa a questão da capacitação para uma gestão sustentável”, destacou Langone.
Cinco cidades – Brasília, Curitiba, Porto Alegre, Rio de Janeiro e São Paulo – já tomaram recursos voltados para a reestruturação de seus sistemas de coleta seletiva, totalizando quase R$ 120 milhões, em parceria com o BNDES. Outras quatro estão em processo de consulta. “Ainda há desafios, mas o quadro que temos é de que a área de sustentabilidade na Copa conseguiu trabalhar numa linha que foge da agenda somente verde”, finalizou o coordenador.
Do ponto de vista da sociedade, Oded Grajew, coordenador-geral da Rede Nossa São Paulo, avalia que a Copa do Mundo é uma oportunidade perdida em relação ao meio ambiente. “Foram apresentadas várias iniciativas aqui, mas poucas pessoas conhecem. Não há uma divulgação plena por parte do governo para mobilizar as pessoas e até estabelecer políticas públicas de desenvolvimento sustentável. Por exemplo, todas as construções deveriam seguir regras sustentáveis, não só as arenas”, avaliou. Somente no Estado de São Paulo, segundo Grajew, a poluição do ar provoca quase 17 mil mortes por ano. “Educação ambiental nas escolas, por exemplo, poderia ser uma das prioridades para aproveitar a visibilidade da Copa do Mundo e deixar de fato um legado”, finalizou.
David Douek, diretor de Desenvolvimento da Otec – empresa que atua com consultoria em construção civil, apresentou o case da Arena Castelão, estádio de Fortaleza (CE), que foi o primeiro a ser concluído para a Copa do Mundo e também o primeiro da América do Sul a receber a Certificação Ambiental Leed (Leadership in Energy and Environmental Design), desenvolvida pelo Conselho Americano de Edifícios Verdes (Green Building Council – USGBC). “Foi um estádio construído abaixo do custo inicialmente previsto, contrariando a ideia de que a certificação geraria um aumento de custo. A Arena Castelão deve servir de referência para a construção de outros estádios no que diz respeito à gestão dos recursos ambientais”, avaliou o diretor.
Ariel Pares, diretor de Produção e Consumo Sustentável do Ministério do Meio Ambiente, avalia que há uma falta de comunicação sobre a Copa do Mundo, que pode ser abordada de diversas formas, mas preocupa quando os pontos positivos não aparecem. “A Copa do Mundo é uma oportunidade de fortalecer políticas. Em parceria com o Ministério do Esporte, focamos em projetos de sustentabilidade com uma visão abrangente e consistente”, ressaltou.
De acordo com Claudio Langone, a mobilidade urbana é um dos maiores desafios. “O tema deve ser tratado para muito além de obras viárias. Perdemos a oportunidade da Copa do Mundo para discutir essa questão mais a fundo, de forma nacional, apesar de muitas obras terem sido feitas”, finalizou.
Produzido pela CDN para o Instituto Ethos.